19 de novembro de 2024
PUC-PR cria programa de meditação voltado à interioridade
Os palestrantes do encontro foram os monges Coen Roshi e Bernardo Bonowitz e o psicólogo Gilberto Gaertner, que afirma que as práticas meditativas estão na base do surgimento das artes marciais
Observatório de educação para a interioridade
12/04/2018
Por ISABELA LEMOS I Fotos BUDÔPRESS
Curitiba – PR
Na quinta-feira passada (5 de abril), a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) realizou o evento de apresentação do Observatório de Educação para a Interioridade, um projeto pioneiro e inovador na América Latina. Com o intuito de promover a reflexão sobre a interiorização de seus participantes acadêmicos, o observatório desenvolve programas de meditação, acompanhamento espiritual e oficinas de filosofia e interioridade. Entre os convidados para compor a mesa do diálogo sobre meditação e saúde estavam Gilberto Gaertner, professor de psicologia do esporte da PUC-PR, presidente da International Traditional Karate Federation (ITKF) e especialista em Meditação; Coen Roshi, monja zen budista, missionária da Tradição Soto Shu do Japão; e dom Bernardo Bonowitz, abade do Mosteiro Trapista de Campo do Tenente – PR.
A palavra central do diálogo e que tomou conta do evento foi a meditação. Os três convidados deram uma amostra da sua própria forma de realizá-la, fazendo uma prática interativa com a plateia.
Historicamente, as práticas meditativas estão na base do surgimento das artes marciais. “A meditação zen foi a que mais se identificou e acabou integrando-se às artes marciais japonesas. Infelizmente, hoje, a prática das artes marciais voltada só ao viés esportivo distanciou os praticantes das práticas meditativas”, conta Gaertner. Para ele, a meditação é de suma importância para as artes marciais, pois complementa o treinamento e desenvolve habilidades adicionais, como o controle emocional e o foco atencional. Além disso, a prática meditativa contribui para o desenvolvimento de valores humanos.
“Creio que a prática das artes marciais voltada ao aperfeiçoamento do ser humano, e não somente a desenvolver as habilidades de luta, tem na meditação um elemento indispensável. No karatê-dô tradicional desenvolvido pela ITKF, por exemplo, a base ético-filosófica e o trabalho meditativo fazem parte do processo de treinamento”, afirma o presidente da ITKF.
Psicólogo da seleção brasileira de vôlei masculino, campeã dos Jogos Olímpicos Rio 2016, Gaertner garante que uma grande contribuição para a conquista do ouro na competição se deu pela prática da meditação. Antecedendo os jogos, a equipe fez uma preparação baseada em técnicas meditativas para melhorar diversos comportamentos decisivos em momentos de alta tensão, tais como o foco atencional e as tomadas de decisão. Segundo o psicólogo, controlar a respiração na hora do jogo é essencial, pois mantém a estabilidade emocional e cognitiva dos atletas.
Tratando-se da saúde, foram pautadas no evento a ansiedade e a depressão, consideradas os principais males do século pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os monges Bonowitz e Coen, junto ao psicólogo Gaertner, explicaram os benefícios que a meditação traz à vida de seus praticantes. O psicólogo afirma que, junto ao trabalho psicoterápico, a meditação tem um papel muito importante e é um fator de grande efeito para prevenção e tratamento dessas doenças.
Na visão dos palestrantes o trabalho de interioridade desenvolvido pelas técnicas de meditação propicia ao praticante um encontro com seu íntimo, com seu self. Valores como solidariedade e compaixão e uma cultura voltada para a paz são efeitos diretos destas práticas meditativas.
No cotidiano, a meditação pode ser aplicada em diversos espaços e na vida. O professor de psicologia do esporte comenta como ela pode ser usada no dia a dia de seus praticantes. “Conseguir otimizar o tempo para fazer práticas meditativas curtas ao longo do dia é extremamente salutar. Muitas vezes, não se tem um tempo longo para praticar, mas fazendo várias vezes durante o dia, acaba trazendo a consciência para dentro, você toma posse de você. A meditação é a forma mais rápida de qualificarmos a nossa presença e nos mantermos atentos ao momento presente.”
Monge há 35 anos, Bonowitz confessa que se acostumar aos hábitos trapistas lhe rendeu tempos difíceis, mas que foi nesse período que a meditação pôde fazê-lo conhecer a si mesmo e também reconhecer quão distante estava de Deus. “No momento mais difícil, pude experimentar o que se chama de autoconhecimento. É a experiência de conhecer tudo o que está ferido dentro da gente e de conhecer a distância que nos separa de Deus – e nem sabíamos que existia. O bom é que cada descoberta de um problema é a cor do problema. Deus nunca revela um problema sem estar no processo de transformá-lo”, relata o monge trapista.
A meditação tem diversas formas de aplicação na vida do ser humano. Além das já mencionadas anteriormente, a atenção foi ressaltada durante o diálogo, já que ela pode ser aprimorada por meio da prática meditativa. “Dentro do campo acadêmico, o trabalho meditativo pode ser visto como um treinamento atencional. A atenção é a porta de entrada para a aprendizagem. Por isso, a criação do programa é tão importante, já que esta é uma instituição de ensino”, diz Gaertner.
A criação do programa de meditação da PUC-PR também visa a contribuir para a construção de uma sociedade melhor. A monja Coen explica sua visão de como a prática meditativa pode tornar o mundo um lugar mais harmonioso. “A meditação, o encontro de você com você mesmo, transforma o mundo, transforma o nosso olhar para a realidade e transforma a sociedade. Nós queremos uma sociedade menos violenta e agressiva, mais tranquila e cooperadora, e o caminho para atingi-la é a meditação.”