05 de janeiro de 2025
Qual é o verdadeiro legado de Paulo Wanderley ao judô brasileiro?
Muito se especula sobre o retorno do presidente do COB ao comando da CBJ. Mas qual é a vantagem de substituir um dirigente novo e capacitado por alguém que, apesar das receitas bilionárias, não deixou sequer uma sede administrativa como legado?
Por Paulo Pinto / Global Sports
4 de janeiro de 2024 / Curitiba, PR
Contrastando com a pureza imaculada dos kimonos brancos e com o profundo legado filosófico do fundador do judô, Jigoro Kano — uma filosofia que exalta princípios como disciplina, respeito, harmonia e a busca constante pelo aperfeiçoamento do caráter —, a política que permeia a gestão da modalidade revela-se mais suja, insidiosa e cruel do que tudo aquilo que testemunhamos nos bastidores da Câmara e do Senado Federal.
Não bastasse o desastre administrativo e esportivo promovido pelo atual presidente do Comitê Olímpico do Brasil, que, com a aquiescência do Comitê de Integridade e do Conselho de Ética do COB, tentou perpetuar-se no poder, agora o mundo do esporte se depara com a ameaça da volta de Paulo Wanderley ao comando da Confederação Brasileira de Judô, entidade que o projetou para o cenário olímpico.
Melhor dirigente?
Muitos defendem esse retrocesso, mas vejamos um pouco mais de perto quem foi, na verdade, o presidente da CBJ — o homem que, em determinado momento, liderou a confederação com maior receita e autonomia financeira do Brasil e, talvez, das Américas.
Enganam-se aqueles que atribuem a Paulo Wanderley o sucesso de sua gestão. Ele era apenas o presidente da entidade. Quem realmente levou o judô aos patamares onde chegou foi a MCS, empresa de marketing esportivo que surfou na onda da Lei de Incentivo ao Esporte (LIE). Maurício Carlos dos Santos, o jovem executivo, alçou a modalidade a níveis jamais imaginados, enquanto Paulo Wanderley tratava apenas de jogar migalhas para os 15 presidentes de federações estaduais que garantiram — e pretendem garantir novamente — sua manutenção no poder.
Outro pilar do sucesso da CBJ foi a jornalista Manoela Penna, que realizou um trabalho notável. Peça-chave na elaboração e execução da estratégia de comunicação da entidade ao longo de três ciclos olímpicos, contribuiu de forma decisiva para o fortalecimento da imagem da confederação. À frente da agência Media Guide, da qual era sócia-diretora desde 2002, ela desempenhou um papel essencial no êxito da gestão, sendo responsável por grande parte do retorno midiático positivo alcançado pela entidade durante esse período.
Investimento zero
Fazendo uma rápida projeção, por 12 ou 13 anos a CBJ arrecadou pouco mais de R$ 50 milhões anuais em patrocínios da iniciativa privada, sem contar as centenas de milhões captados por meio da LIE junto ao governo federal. Esses recursos públicos foram usados para realizar competições nacionais e enviar equipes completas para os mais de 20 eventos anuais do World Tour da Federação Internacional de Judô (FIJ).
Resumindo, estimamos que, somente com recursos privados acumulados ao longo das décadas sob a gestão de Paulo Wanderley Teixeira, o montante se aproxime de um bilhão de reais. Mas quanto desse valor foi poupado ou reinvestido no judô brasileiro? Zero, nada restou dessa pequena fortuna arrecadada.
Com exceção de quatro ou cinco federações estaduais que possuem estrutura e independência financeira, as demais estão literalmente falidas, sem qualquer capacidade de planejar ou gerir a modalidade de maneira minimamente adequada. A Confederação Brasileira de Judô não apenas deixa de direcionar recursos para as federações estaduais, mas também esgota suas finanças por meio de cobranças como anuidades, transferências de atletas, cursos e certificados de promoção, entre outros. Diante disso, surge a pergunta: se a CBJ não investe nos Estados, para onde foram os centenas de milhões de reais arrecadados?
Atletas e clubes também despejam somas vultosas nos cofres da entidade, que, mesmo recebendo recursos públicos milionários para realizar eventos nacionais e financiar viagens internacionais, continua cobrando inscrições de atletas e clubes. Mas esse é um tema que ainda será amplamente explorado em editoriais futuros.
A pergunta que fazemos é: onde Paulo Wanderley alocou os mais de R$ 800 milhões arrecadados de gigantes como Bradesco, Scania, Sadia, Cielo, Petrobras, Infraero, Mizuno, Record TV e SporTV?
A Confederação Brasileira de Judô não possui sede administrativa e nem centro de treinamento próprios. É importante ressaltar que a CBJ, na verdade, dispõe de um conjunto comercial adquirido pelo saudoso professor Joaquim Mamede de Carvalho e Silva, ex-presidente da entidade. Curiosamente, ele jamais recebeu um centavo de patrocínio, mas, mesmo assim, deixou um legado tangível na forma de uma sede própria. No entanto, esse espaço, considerado “simples demais” para os padrões dos gestores que há três décadas controlam a entidade, hoje é usado apenas como dormitório para funcionários e depósito.
Muito além da cobrança por explicações sobre os recursos milionários que evaporaram na gestão de Paulo Wanderley, há o enigma do desaparecimento dos investimentos vultosos no Centro Pan-Americano de Judô, que já era uma referência internacional da modalidade.
Legado de prepotência e improbidades
O objetivo desta reportagem é evidenciar que Paulo Wanderley não administrou o judô brasileiro em benefício dos judocas ou do País. Durante cerca de 20 anos, ele comandou a modalidade com interesses próprios, consolidando um sistema marcado pela corrupção, no qual apenas ele parecia colher os frutos de sua gestão.
Paulo Wanderley não deixou nenhum legado positivo para o judô nacional. O que permanece são exemplos negativos, como arrogância, prepotência, perseguição a adversários políticos e a corrupção sistemática que garantiu sua longevidade no poder.
Será que é esse o caminho que os 27 presidentes de federações, clubes e atletas com direito a voto desejam para o judô nacional? Vamos trazer de volta práticas que contribuíram para a atual crise da modalidade, em queda livre, fruto de gestões desastrosas, tanto nos estados quanto na Confederação Brasileira de Judô, a principal entidade do esporte no País?