20 de janeiro de 2025
Qual será o real cenário que o novo presidente da CBJ irá encontrar?
Há oito anos, a atual diretoria da CBJ assumiu o comando da entidade esportiva mais próspera e bem-sucedida do Brasil. Hoje, o judô não dispõe de nenhum patrocinador e voltou a viver das taxas cobradas em eventos e anuidades.
Por Paulo Pinto / Global Sports
22 de janeiro de 2025 / Curitiba, PR
O dia 4 de março de 2018 será sempre lembrado como o fim dos anos dourados do judô brasileiro no que diz respeito à administração da Confederação Brasileira de Judô e ao investimento realizado no fomento da modalidade.
Nessa data, iniciou-se o processo de desmonte da estrutura criada por uma equipe de colaboradores que, em pouco tempo, deixou a entidade em busca de voos mais altos em outros cenários. Prevendo o desastre iminente, nomes como Matheus Theotônio, Luciano Hostins, Maurício Carlos do Santos, Renato Araújo, Luiz Antônio Soares Romariz, Kenji Sato e Ingrid Câmara – entre outros profissionais qualificados e capacitados – buscaram ambientes mais promissores após edificarem a era de ouro da CBJ.
À medida que a gestão de Sílvio Acácio Borges avançava, o judô brasileiro se apequenava e perdia a pujança que outrora havia projetado o então presidente da entidade ao comando do Comitê Olímpico do Brasil (COB).
A entidade que exibia receita anual superior a R$ 50 milhões em patrocínios da iniciativa privada – reunindo empresas e marcas poderosas como Bradesco, Cielo, Mizuno, Scania, Sadia, Infraero, EDP, Petrobras, Record TV e SporTV – foi perdendo a força e o atrativo midiático, até nada restar do período em que a CBJ era o maior case de sucesso da gestão esportiva no Brasil.
A falta de visão administrativa do presidente resultou na perda do Centro Pan-Americano de Judô (CPJ), palco das principais competições nacionais da modalidade. Por ter sido projetado especificamente para sediar eventos de judô, o CPJ era referência internacional nas Américas. Com a perda do CPJ, dezenas de milhões de reais investidos no projeto foram literalmente para o ralo, e a CBJ voltou a andar de pires na mão, implorando por espaços minimamente capazes de receber os eventos do circuito nacional.
Nível despencou
Recentemente soubemos que vários atletas voltaram a recorrer a vaquinhas para viajar e competir no exterior. O País que possuía a maior e mais espetacular arena para sediar competições de judô foi obrigado a realizar o Campeonato Pan-Americano de Veteranos e Kata de 2022 na praça de eventos do Shopping Paralela, em Salvador (BA).
O amadorismo da atual diretoria – formada por Silvio Acácio Borges, presidente, e os vices Seloi Totti, Danys Marques Maia Queiróz e José Nilson Gama de Lima – evidencia-se numa ignorância básica: pelo caráter introspectivo e sério, as competições de kata precisam ser realizadas em ambientes reservados e diante de um público seleto. Imaginem a reação dos dirigentes dos demais países ao desembarcarem no Brasil e descobrirem que a CBJ havia decidido realizar uma competição internacional num ambiente absolutamente inadequado.
O episódio do pan-americano no Shopping Paralela foi uma demonstração clara da perda de força e prestígio da Confederação Brasileira de Judô junto ao seu antigo parceiro, o governo do Estado da Bahia, que, por meio da Setre, investiu dezenas de milhões na construção do CPJ.
Futuro sombrio
A verdade nua e crua é que, administrativamente falando, a CBJ regrediu a uma entidade medíocre, sobrevivendo dos parcos recursos gerados por taxas cobradas das federações estaduais mais bem estruturadas, clubes, atletas e profissionais que prestam serviços à modalidade.
Este é o resultado prático do ato irresponsável da figura onipotente que escolheu, indicou, apoiou e endossou uma diretoria formada por gestores despreparados e absolutamente incapazes de manter um projeto vencedor vivo e com a trajetória ascendente que desenhava.
Em outras palavras, o legado da gestão Silvio Acácio Borges não é apenas de ineficiência, mas de retrocessos históricos que colocarão o próximo presidente da CBJ diante de um cenário desafiador e de enormes responsabilidades.
O que antes era um exemplo global de excelência na administração esportiva hoje não passa de um reflexo sombrio de uma liderança desastrosa e de escolhas políticas que desconsideraram o futuro do judô brasileiro.
Símbolo de uma era
Inaugurado em novembro de 2014, o CPJ foi resultado de um investimento de R$ 43,2 milhões – R$ 18,3 milhões do Estado da Bahia, por meio da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre), e R$ 19,8 milhões da União. A CBJ aportou outros R$ 5,1 milhões para o projeto executivo e a compra de uma parte dos equipamentos e mobiliário.
O complexo possuía 20 mil m² de área construída e contava com ginásio climatizado, quatro áreas oficiais para competições, arquibancadas para 1.900 pessoas, salas de apoio, restaurante, vestiários e academia. Havia ainda um prédio administrativo, com auditório para até 200 pessoas, e alojamentos para 72 atletas. O local contava também com uma quadra poliesportiva, piscina e pista de corrida de 100 metros.
O Centro Pan-Americano de Judô não era apenas uma estrutura esportiva; ele simbolizava a grandiosidade do judô brasileiro e a capacidade de gestão que fez da CBJ um exemplo global de excelência. Hoje, perdido pela falta de planejamento e visão da atual diretoria, o CPJ se tornou um marco do que o judô nacional já foi e do quanto regrediu. O complexo, que um dia refletiu o auge de uma era, agora serve como um triste lembrete do potencial desperdiçado e da inércia que tomou conta da administração da modalidade no Brasil.