Rafael Borges, Mariana Gomes e Valdemar Neves criam plataforma que pode revolucionar o ensino do judô

Os autores visam otimizar o trabalho dos professores e aproximar as famílias do processo, demonstrando resultados consistentes

A equipe desenvolveu o projeto a partir da necessidade de os fundamentos do judô serem mais bem trabalhados e explorados, assim como os seus valores educacionais

Cotidiano
6 de abril de 2019
Por ISABELA LEMOS I Fotos ARQUIVO
Curitiba – PR

Com trabalho que visa a transmitir o esporte para novas gerações e auxiliar os professores a aprimorarem suas práticas de ensino, os professores doutores Rafael Borges, Mariana Pimentel Gomes e Valdemar Neves pretendem revolucionar a forma de ensinar o judô. A ferramenta digital desenvolvida por eles tem a finalidade de otimizar e aperfeiçoar o ensino de judô e deu início a uma pesquisa acadêmica que foi apresentada no Congresso Internacional de Artes Marciais, na Universidade de Toulouse, na França, em 2018.

Mariana Pimentel Gomes fazendo a apresentação da ferramenta digital durante o Congresso Internacional de Artes Marciais, na Universidade de Toulouse, na França

Especialista em análise de sistemas pela Faculdade de Informática de Lins (FIL) e com MBA em gestão de projetos (FIL), Valdemar Neves explica que, com a tecnologia do Google Cloud Platform, a equipe desenvolveu uma ferramenta em nuvem, denominada Kata (形), com a finalidade de auxiliar gestores e professores. Com ela, pode-se acompanhar o desenvolvimento individual e coletivo de cada uma das frentes de atuação, tanto nas escolas quanto em academias.

“Falamos aqui não apenas do gerenciamento das turmas e controle de presenças, mas da gestão do conteúdo transmitido aos judocas, observadas sua faixa etária e graduação. Assim, o sensei poderá acompanhar o progresso de seu aluno ao longo do caminho (do) e dar-lhe feedbacks assertivos sobre o seu desenvolvimento enquanto judoca. Essas informações são compartilhadas com os responsáveis, por meio de boletins pedagógicos, fazendo com que acompanhem o progresso do aprendizado”, afirma Neves.

A direita, Rafael Borges durante a palestra do professor Okada realizada em São Paulo

A ferramenta também envia ao professor relatórios que mostram o desempenho individual e coletivo de cada turma, bem como as técnicas deficitárias que precisam de atenção para a melhoria do desempenho individual e coletivo, permitindo que o professor faça as orientações individuais necessárias para que o judoca possa progredir de faixa ao fim do processo.

Para os gestores, ao fim dos ciclos, a ferramenta gera uma visão sistêmica da progressão de faixas (cor, quantidade e tamanho) para gerar uma compra precisa, evitando perdas, bem como a emissão correta dos certificados via sistema.

Ex-assessor de comunicação do Instituto Kodokan do Brasil (IKB), doutor e mestre em fisiopatologia médica, Rafael Borges explica que a equipe criou o projeto a partir da necessidade de os fundamentos do judô serem mais bem trabalhados, assim como os seus valores educacionais. Desta forma, os autores viram uma oportunidade para otimizar o trabalho dos professores e aproximar as famílias desse processo, demonstrando resultados consistentes aos gestores de clubes, escolas e academias.

“Os professores que prezam pela qualidade do seu trabalho necessitarão de um suporte de gestão que seja acessível, de baixo custo, prático e efetivo. Os recursos tecnológicos apresentam isso e fazem a diferença no trabalho, enquanto os gestores de escolas, pais e alunos entendem isso como um diferencial. O Brasil é um país em evidência no cenário mundial do judô, pois apresenta a maior população de praticantes do mundo e um sistema relativamente complexo e burocrático para promoção de faixas. Portanto, a informatização permitirá aos professores um controle apurado para auxiliar nesse desafio”, expõe o ex-assessor do IKB.

Professor Valdemar Neves

Avaliando e medindo a importância do trabalho apresentado na Universidade de Toulouse, na França, Rafael Borges destaca que a plataforma agrega valor ao trabalho dos professores.

“Esse trabalho surgiu da necessidade de controlar e medir o aprendizado dos alunos de judô, principalmente para mostrar aos pais deles o desenvolvimento e o aprimoramento das técnicas das crianças de maneira mais objetiva. Além disso, com uma equipe de professores que atuam em vários dojôs, precisávamos manter a padronização e a qualidade de ensino condizentes com nosso nome e história no judô. A praticidade da metodologia chamou a atenção de estudiosos do ramo, pois agrega real valor ao trabalho dos professores da modalidade e aos gestores das instituições com os quais atuamos. O trabalho se destacou pela ferramenta que sistematiza digitalmente, por meio de critérios matemáticos, a quantificação e a qualidade do aprendizado do aluno, além de diversas análises estatísticas. Em suma, percebemos que os fundamentos do judô podem ser mais bem trabalhados, assim como os seus valores educacionais, otimizando o trabalho do professor, aproximando as famílias desse processo e demonstrando resultados consistentes aos gestores de clubes, escolas e academias”, detalha.

Sobre ciência relacionada ao judô, Borges considera que, em linhas gerais, ainda há um distanciamento significativo dos conceitos acadêmicos que se referem a educação, didática e pedagogia aplicadas ao ensino do judô.

“Os estudos e especialistas existem, mas deveriam ser mais valorizados por todas as entidades que trabalham o esporte. Já no âmbito da fisiologia, parece que estamos um pouco mais alinhados, por estarmos atrelados com o alto rendimento. No nosso caso, pelo fato de termos praticamente formações no judô e jiu-jitsu muito semelhantes, o meu convite para os professores Mariana e Valdemar foi aceito prontamente. Guardamos uma mescla de conhecimentos acadêmicos diferentes, porém específicos em nossas áreas, o que culminou numa qualidade ímpar e contribuiu de forma essencial para a realização de um trabalho inédito no âmbito acadêmico do judô mundial. Isso demonstra a importância de agregar diferentes profissionais em prol do judô”, diz Borges.

Doutora Mariana Pimentel Gomes

A doutora e mestre em didática das lutas e esportes de combate Mariana Pimentel Gomes diz que, quando apresentou o trabalho no congresso na Universidade de Toulouse, na França, pôde perceber a resistência de alguns professores de perfil mais tradicional para abrirem mão do seu método de ensino a uma tecnologia inovadora. Entretanto, ela explica que a impressão é de que os acadêmicos tiveram bastante interesse em entender o funcionamento da plataforma, compreendendo o avanço e a precisão que ela sugere para as aulas de judô.

“Fomos elogiados em relação à proposta inovadora e pela tentativa de padronizar a avaliação, deixando claros aos pais, alunos e professores os critérios e resultados proporcionados pela plataforma. Acredito que despertamos o interesse dos franceses pela ferramenta e que existe grande potencial de expansão da pesquisa para esses países de forte tradição no judô”, revela Mariana.