18 de novembro de 2024
Rafael Borges, Mariana Gomes e Valdemar Neves criam plataforma que pode revolucionar o ensino do judô
A equipe desenvolveu o projeto a partir da necessidade de os fundamentos do judô serem mais bem trabalhados e explorados, assim como os seus valores educacionais
Cotidiano
6 de abril de 2019
Por ISABELA LEMOS I Fotos ARQUIVO
Curitiba – PR
Com trabalho que visa a transmitir o esporte para novas gerações e auxiliar os professores a aprimorarem suas práticas de ensino, os professores doutores Rafael Borges, Mariana Pimentel Gomes e Valdemar Neves pretendem revolucionar a forma de ensinar o judô. A ferramenta digital desenvolvida por eles tem a finalidade de otimizar e aperfeiçoar o ensino de judô e deu início a uma pesquisa acadêmica que foi apresentada no Congresso Internacional de Artes Marciais, na Universidade de Toulouse, na França, em 2018.
Especialista em análise de sistemas pela Faculdade de Informática de Lins (FIL) e com MBA em gestão de projetos (FIL), Valdemar Neves explica que, com a tecnologia do Google Cloud Platform, a equipe desenvolveu uma ferramenta em nuvem, denominada Kata (形), com a finalidade de auxiliar gestores e professores. Com ela, pode-se acompanhar o desenvolvimento individual e coletivo de cada uma das frentes de atuação, tanto nas escolas quanto em academias.
“Falamos aqui não apenas do gerenciamento das turmas e controle de presenças, mas da gestão do conteúdo transmitido aos judocas, observadas sua faixa etária e graduação. Assim, o sensei poderá acompanhar o progresso de seu aluno ao longo do caminho (do) e dar-lhe feedbacks assertivos sobre o seu desenvolvimento enquanto judoca. Essas informações são compartilhadas com os responsáveis, por meio de boletins pedagógicos, fazendo com que acompanhem o progresso do aprendizado”, afirma Neves.
A ferramenta também envia ao professor relatórios que mostram o desempenho individual e coletivo de cada turma, bem como as técnicas deficitárias que precisam de atenção para a melhoria do desempenho individual e coletivo, permitindo que o professor faça as orientações individuais necessárias para que o judoca possa progredir de faixa ao fim do processo.
Para os gestores, ao fim dos ciclos, a ferramenta gera uma visão sistêmica da progressão de faixas (cor, quantidade e tamanho) para gerar uma compra precisa, evitando perdas, bem como a emissão correta dos certificados via sistema.
Ex-assessor de comunicação do Instituto Kodokan do Brasil (IKB), doutor e mestre em fisiopatologia médica, Rafael Borges explica que a equipe criou o projeto a partir da necessidade de os fundamentos do judô serem mais bem trabalhados, assim como os seus valores educacionais. Desta forma, os autores viram uma oportunidade para otimizar o trabalho dos professores e aproximar as famílias desse processo, demonstrando resultados consistentes aos gestores de clubes, escolas e academias.
“Os professores que prezam pela qualidade do seu trabalho necessitarão de um suporte de gestão que seja acessível, de baixo custo, prático e efetivo. Os recursos tecnológicos apresentam isso e fazem a diferença no trabalho, enquanto os gestores de escolas, pais e alunos entendem isso como um diferencial. O Brasil é um país em evidência no cenário mundial do judô, pois apresenta a maior população de praticantes do mundo e um sistema relativamente complexo e burocrático para promoção de faixas. Portanto, a informatização permitirá aos professores um controle apurado para auxiliar nesse desafio”, expõe o ex-assessor do IKB.
Avaliando e medindo a importância do trabalho apresentado na Universidade de Toulouse, na França, Rafael Borges destaca que a plataforma agrega valor ao trabalho dos professores.
“Esse trabalho surgiu da necessidade de controlar e medir o aprendizado dos alunos de judô, principalmente para mostrar aos pais deles o desenvolvimento e o aprimoramento das técnicas das crianças de maneira mais objetiva. Além disso, com uma equipe de professores que atuam em vários dojôs, precisávamos manter a padronização e a qualidade de ensino condizentes com nosso nome e história no judô. A praticidade da metodologia chamou a atenção de estudiosos do ramo, pois agrega real valor ao trabalho dos professores da modalidade e aos gestores das instituições com os quais atuamos. O trabalho se destacou pela ferramenta que sistematiza digitalmente, por meio de critérios matemáticos, a quantificação e a qualidade do aprendizado do aluno, além de diversas análises estatísticas. Em suma, percebemos que os fundamentos do judô podem ser mais bem trabalhados, assim como os seus valores educacionais, otimizando o trabalho do professor, aproximando as famílias desse processo e demonstrando resultados consistentes aos gestores de clubes, escolas e academias”, detalha.
Sobre ciência relacionada ao judô, Borges considera que, em linhas gerais, ainda há um distanciamento significativo dos conceitos acadêmicos que se referem a educação, didática e pedagogia aplicadas ao ensino do judô.
“Os estudos e especialistas existem, mas deveriam ser mais valorizados por todas as entidades que trabalham o esporte. Já no âmbito da fisiologia, parece que estamos um pouco mais alinhados, por estarmos atrelados com o alto rendimento. No nosso caso, pelo fato de termos praticamente formações no judô e jiu-jitsu muito semelhantes, o meu convite para os professores Mariana e Valdemar foi aceito prontamente. Guardamos uma mescla de conhecimentos acadêmicos diferentes, porém específicos em nossas áreas, o que culminou numa qualidade ímpar e contribuiu de forma essencial para a realização de um trabalho inédito no âmbito acadêmico do judô mundial. Isso demonstra a importância de agregar diferentes profissionais em prol do judô”, diz Borges.
A doutora e mestre em didática das lutas e esportes de combate Mariana Pimentel Gomes diz que, quando apresentou o trabalho no congresso na Universidade de Toulouse, na França, pôde perceber a resistência de alguns professores de perfil mais tradicional para abrirem mão do seu método de ensino a uma tecnologia inovadora. Entretanto, ela explica que a impressão é de que os acadêmicos tiveram bastante interesse em entender o funcionamento da plataforma, compreendendo o avanço e a precisão que ela sugere para as aulas de judô.
“Fomos elogiados em relação à proposta inovadora e pela tentativa de padronizar a avaliação, deixando claros aos pais, alunos e professores os critérios e resultados proporcionados pela plataforma. Acredito que despertamos o interesse dos franceses pela ferramenta e que existe grande potencial de expansão da pesquisa para esses países de forte tradição no judô”, revela Mariana.