Rafael Silva anuncia despedida das Olimpíadas em Paris: “Última dança”

Rafael Silva comemora a conquista o bronze no mundial de Judô 2023 © Di Feliciantonio Emanuele / IFJ

Depois de se tornar o mais velho medalhista da história do Mundial, Baby conta que pensou em parar após os Jogos de Tóquio e vê novo pódio como coroação por seguir no judô.

Fonte Marcos Guerra
15 de junho de 2023 / Curitiba (PR)

Aos 36 anos, Baby se tornou o mais velho medalhista da história da competição com o bronze da categoria +100kg conquistado em Doha. Um resultado bastante expressivo para quem pensou em se aposentar do shiai-jô após os Jogos de Tóquio. Dono de dois bronzes olímpicos, ele renovou o ânimo para Paris 2024, quando vai fazer sua despedida olímpica.

“Essa medalha no Mundial é algo que realmente coroa essa decisão (de continuar depois de Tóquio). O que me motiva é que ainda consigo melhorar nos treinos, ainda estou melhorando aspectos técnicos. Chegar lá e colocar isso à prova, conseguir trocar de igual para igual com adversários muito mais novos, acho que me motiva bastante ainda. A sensação de conseguir ir ao bloco final, conseguir ter aquele frio na barriga da disputa por medalha. Me alimento muito desses momentos. Olimpíadas são um momento em que essa energia é dobrada. Vale a pena continuar treinando e sonhando. Falta um ano e pouquinho só. Vou me preparar bastante para essa última dança – disse Baby em entrevista coletiva no Esporte Clube Pinheiros, horas depois de retornar do Catar.

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Baby foi bronze nas Olimpíadas de Londres 2012 e Rio 2016. Em Tóquio, pela primeira vez ficou fora do pódio olímpico depois de perder as quartas de final para o vice-campeão Guram Tushishvili, da Geórgia, e cair na repescagem diante do francês Teddy Riner, dono de cinco medalhas olímpicas e 14 em Mundiais. Um resultado que refletiu os tempos difíceis de recuperação de lesão antes dos Jogos. Algo que fez Baby pensar na aposentadoria.

“Quando voltei de Tóquio, eu não tinha experimentado voltar de Olimpíadas sem medalha. Foi bastante amargo, porque o processo da disputa pela vaga foi bastante difícil. Você começa a se questionar se ainda vale a pena treinar, se ainda vale a pena passar por tudo isso para chegar lá no final e as coisas não darem tão certo quanto a gente imagina. Pensei muito nisso. Conversei bastante com o Leandro Guilheiro, head-coach pinheirense e medalhista olímpico, e também falei bastante com minha esposa. Eles me apoiaram bastante nessa questão: “Se você quiser continuar, a gente te apoia. Se você quiser parar, a gente te apoia também e tenta fazer a transição da melhor maneira possível”. Eu me mantive treinando durante esse tempo. As coisas foram melhorando. Teve uma competição em Israel, fui bem e depois dessa competição me motivei bastante a continuar sonhando em ir às Olimpíadas”, disse o medalhista olímpico.

Por causa da idade mais avançada, Rafael Silva conta que teve de ajustar suas cargas de treinamento e buscar um equilíbrio maior entre momentos de esforços e de descanso. Assim, conseguiu lutar em condições físicas semelhantes às dos adversários bem mais jovens.

Beatriz Souza e Rafael Silva, os pesos-pesados do Esporte Clube Pinheiros que, no mundial do Catar, asseguraram a tradicional presença do Brasil nos pódios do circuito internacional © Marcos Guerra

“Com essa idade, a gente pode errar muito pouco na preparação. São várias engrenagens que você tem de trabalhar em um nível de detalhe muito alto. Tentar ajustar da melhor maneira possível a nutrição, a parte física, o que a gente tem feito dentro dos tatamis, de forma bastante equilibrada. Para mim hoje o mais difícil é saber os limites, o quanto tenho de treinar, o quanto tenho de descansar. A exigência é enorme. Se você não estiver preparado, o resultado fica mais difícil. Esse equilíbrio para mim hoje é o mais importante para ajustar. Tem que ter muita confiança no pessoal que está em volta e tentar equacionar isso de melhor maneira possível para poder ter esse ambiente em que o resultado acontece.”

No momento, o foco de Baby é buscar uma terceira medalha olímpica em Paris, mas aos poucos vai traçando uma transição de carreira. Já faz um curso de gestão e pretende seguir no esporte.

“Tenho me preparado para continuar no campo do esporte, continuar trabalhando com judô. Penso em fazer transição para esse lado, em contribuir de outras maneiras para continuar ajudando o judô brasileiro. Tenho essa caminhada de um ano e pouco (até Paris). Vou me esforçar ao máximo para chegar lá, ter minha classificação muito boa e chegar lá com reais chances de medalhas.

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