15 de novembro de 2024
Relatório confirma que decisões do boxe foram manipuladas nos Jogos Olímpicos do Rio 2016
Através de uma investigação independente conduzida pelo advogado Richard McLaren, houve a comprovação de que pelo menos 11 lutas foram comprometidas como parte de um esquema de corrupção causado pela antiga diretoria da AIBA
Por Helena Sbrissia / Global Sports
2 de outubro de 2021 / Curitiba (PR)
A Associação Internacional de Boxe (AIBA) realizou uma investigação independente sobre o torneio de boxe dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, que tiveram resultados extremamente polêmicos. Contando com o advogado canadense Richard McLaren como o chefe da operação, foi descoberto que mais de 11 lutas podem ser consideradas suspeitas e que, provavelmente, foram corrompidas como parte de um esquema de manipulação dos combates.
McLaren liberou um documento com 149 páginas em conjunto com sua equipe, detalhando como a cultura corrupta presente na AIBA facilitou a manipulação dos embates, contando com subornos altíssimos para os funcionários. Todo o esquema, segundo o advogado, era acompanhado e incentivado pelo alto escalão da AIBA na época, como Ching-Kuo Wu, presidente da entidade, e Karim Bouzidi, diretor executivo.
Incluem-se nas lutas manipuladas as quartas de final entre o irlandês Michael Conlan e o russo Vladimir Nikitin, além da disputa pela medalha de ouro entre o russo Evgeny Tischenko e Vasily Levit, do Cazaquistão. Segundo McLaren, a decisão da medalha de ouro dos superpesados entre o francês Tony Yoka e o britânico Joe Joyce também teve problemas relacionados.
Cerca de US$ 250.000,00 foram oferecidos, em média, para definir o resultado da semifinal entre Otgondalai Dorjnyambuu, da Mongólia, e Sofiane Oumiha, da França. O suborno não foi pago, no final das contas, mas o mongol mesmo assim perdeu por uma pontuação considerada incomum: ela era idêntica em todos os cartões de pontuação dos cinco juízes que avaliavam a luta.
O relatório apresentado por McLaren demonstra como a AIBA conseguiu criar uma atmosfera de medo, intimidação e violência com relação aos árbitros das competições, o que acabou por corromper o torneio de boxe realizado em Rio 2016. A “conivência, aprovação e reconhecimento cúmplice e apoio” do esquema de manipulação de Wu e Bouzidi foi “vital para o sucesso da corrupção” realizada nos Jogos, afirma o relatório.
De acordo com McLaren, Bouzidi tomou o poder pertencente a comissões permanentes sem protestos por parte dos integrantes e do presidente Wu. “Após adquirir esse poder de tomada de decisões, Bouzidi supervisionava a nomeação de árbitros, que sabiam o que estava acontecendo, mas obedeciam mesmo assim.”
Nos relatórios que enviava ao COI, enquanto no conselho executivo, Wu evitava discutir sobre os problemas que envolviam conduta inadequada e, por isso, conseguiu mascarar a atividade corrupta e apresentar falsas impressões sobre as suas ações na AIBA para o COI.
A recomendação da equipe de McLaren para a AIBA é que ações disciplinares sejam lideradas contra Wu, Bouzidi e os árbitros que cometeram as infrações na conduta ética e moral do esporte – afinal, eles atuavam propositalmente nas lutas em que deveriam intervir.
Em uma declaração respondendo ao relatório, a AIBA disse que observou as conclusões sobre o torneio de boxe Rio 2016 com preocupação e confirmou que extensas reformas foram implementadas para garantir a integridade esportiva nas competições atuais da AIBA. “Nós, da AIBA contratamos o professor McLaren porque não temos nada a esconder”, acrescentou o presidente da entidade Umar Kremlev.
“Iremos trabalhar duro para conseguir implementar todas as recomendações feitas pela equipe do advogado e buscaremos assessoria jurídica a respeito de quais ações devem ser tomadas contra aqueles que participaram de qualquer tipo de manipulação que seja.”
A McLaren Global Sport Solution foi incumbida pela AIBA de investigar as alegações de manipulação de resultado na Olimpíada do Rio 2016 e também está realizando um trabalho para compreender a que grau de comprometimento com a situação estão as pessoas envolvidas na gestão e na administração da associação.
Wu renunciou ao cargo de presidente da AIBA em novembro de 2017, enquanto seu sucessor, Gafur Rakhimov, do Uzbequistão, foi forçado a sair em julho de 2018 por suposta ligação com tráfico de heroína. Todos os 36 árbitros presentes no Rio 2016 foram proibidos de atuar em Tóquio 2020, quando o torneio de boxe foi organizado pelo próprio COI por causa da suspensão da associação da modalidade como órgão dirigente olímpico do esporte.