18 de novembro de 2024
Reverenciar as origens é uma forma de agradecer por tudo que nos tornamos
Em seu pronunciamento no Torneio Budokan, Oswaldo Simões reverenciou um professor que, sozinho e sem o respaldo institucional, disseminou o judô no Brasil e estabeleceu o DNA da modalidade
Por Bárbara Lemos e Paulo Pinto / Budopress
15 de agosto de 2022 / Curitiba (PR)
Durante a cerimônia de abertura da 71ª edição do tradicional Torneio Budokan, realizado em 31 de julho pela Federação Paulista de Judô (FPJudô) em parceria com a Associação de Judô Hombu Budokan, o professor kodansha Oswaldo Cupertino Simões Filho fez um pronunciamento relatando sua trajetória no judô, seu vínculo com a família Ogawa e o papel decisivo de Ryuzo Ogawa, precursor da modalidade no País.
Numa história iniciada em 10 de agosto de 1883, no distrito de Ishiki, província de Fukushima, no Japão, o nascimento de Ryuzo Ogawa foi determinante para que o Brasil se tornasse um dos países com maior número de praticantes de judô, modalidade criada por Jigoro Kano em maio de 1882.
Oswaldo conheceu a família Ogawa quando chegou a São Paulo em 1973 para cursar a graduação de Educação Física e foi muito bem acolhido por ela. E no evento que acontecia no Ginásio Poliesportivo Adib Moysés Dib, Simões iniciou lembrando que o Torneio Budokan, foi criado por um grande shihan chamado Ryuzo Ogawa.
“Esse evento, que hoje reúne quase 1.500 atletas, é fruto da persistência e da determinação de um homem que, em 23 de abril de 1934, desembarcou no Brasil a bordo no navio Hawai Maru com a esposa Tokuo e o filho Matsuo, que se tornaria pai de Hatiro e Hitoshi Ogawa. Aos 52 anos de idade, Ryuzo era detentor na época do go-dan (5º dan)”, contou sensei Oswaldo.
O torneio que chega agora à sua 71ª edição é fruto do sonho e da visão de um imigrante que dedicou sua vida ao ensino e à difusão do judô no País. “O resumo disso é a palavra ganbatê, que significa fazer o seu melhor, ou seja, o shihan Ogawa fez o seu melhor em benefício da cultura japonesa, e nós devemos reverenciar sua iniciativa.”
Ryuzo Ogawa iniciou sua trajetória no Brasil em 1936 com a fundação do Instituto Ogawa de Jiu-Jitsu e Judô. Já em 1939 alterou o nome da sua escola para Budokan. Logo depois começou a Segunda Guerra Mundial e, como aconteceu com todos os imigrantes japoneses, foi perseguido, mas mesmo assim jamais desistiu dos seus sonhos. “Parabenizo, portanto, os irmãos Hatiro e Hitoshi Ogawa por darem continuidade a toda a tradição que redimensiona e projeta a obra do avô Ryuzo.”
Oswaldo relembrou a importância da tradição. “Cada pessoa presente neste evento é um mito dentro do que faz, e isso é um rito diário, apostar em você, apostar em seus valores, apostar que vale a pena fazer sacrifícios treinando e dessa forma enfrentar o nosso maior adversário, que sempre seremos nós mesmos e nossas limitações. Lembrando sempre de cultivar a humildade com base numa das melhores máximas de Jigoro Kano: Nunca te orgulhes de haver vencido um adversário, o que venceste hoje poderá derrotar-te amanhã. A única vitória que perdura é a que se conquista sobre a própria ignorância. Lutar contra uma pessoa é apenas questão de treinamento para aperfeiçoamento, pois o intuito é lutar contra nós mesmos, contra nosso orgulho, nosso ego e nossa vaidade.”
O importante legado da família Ogawa, dando continuidade ao grande sonho de trazer para o Brasil parte dos princípios e da cultura japonesa, também foi destacado por sensei Oswaldo. “São princípios como kisô (base dos fundamentos da cultura japonesa), sôji (manter o ambiente limpo) e todos os valores incorporados da cultura japonesa no Brasil, porque essa troca de conhecimento nos traz uma grandeza enorme.”
“Vivo no Rio de Janeiro e vim a São Bernardo do Campo com o objetivo de fazer o ritsu-rei (saudação) à família Ogawa, à Federação Paulista de Judô e aos meus companheiros atletas olímpicos, professores e árbitros que participaram da fundação do Budokan e àqueles que deram sequência a uma história que tornou o judô o segundo esporte mais praticado no Brasil, atrás apenas do futebol.”
Oswaldo Simões encerrou sua homenagem relembrando alguns valores cultuados no judô, como hierarquia, disciplina e respeito. “Caso nos aprofundássemos um pouco mais sobre o assunto, encontraríamos a importância de honrar pai e mãe, ou seja, devemos honrar aqueles que iniciaram, aqueles que fundaram, aqueles que são pioneiros. Dessa forma, no shomen-ni-rei (primeira saudação), reverenciamos o passado e aqueles que nos antecederam, saudando assim a nossa própria história e origem.”