Rogério Sampaio dá dicas para desenvolver o o-soto-gari

Medalha de ouro na categoria meio-leve na Olimpíada de Barcelona em 1992, o judoca santista Rogério Sampaio firmou-se no cenário esportivo pela técnica refinada e por sua determinação

Tokui-waza
7 de maio de 2020
Por ROGÉRIO SAMPAIO I Fotos MARCELO KURA I Uke Thiago Simões
Matéria publicada na Revista Budô em 2011
Curitiba – PR

Nos tatamis sua marca registrada foi o o-soto-gari sempre forte e eficiente, que lhe garantiu o wazari e o ponto que lhe deu a vitória na final olímpica de 1992. Nesta matéria Rogério Sampaio dá importantes dicas para o judoca fortalecer e desenvolver seu o-soto-gari.

O campeão olímpico que hoje é diretor geral do Comitê Olímpico do Brasil (COB) começa explicando que o o-soto-gari é uma das primeiras técnicas que os praticantes aprendem quando iniciam o aprendizado do judô. Entretanto, mesmo sendo bastante simples, este golpe se torna eficaz quando é bem treinado.

Detalhe da pegada com a mão direita

“A aplicação eficiente do o-soto-gari começa na pegada correta, no modo como seguramos no judogi do adversário. Costumo segurar na manga com a mão direita, ao lado do cotovelo, e assim consigo exercer maior controle dos movimentos de meus adversários. Já com mão esquerda seguro na gola ao lado do pescoço, sempre com o dedo menor voltado para dentro, o que dá mais firmeza na pegada. Isso é de suma importância no desenvolvimento da luta.”

Detalhe da pegada com a mão esquerda

No momento de levar o quadril para frente é fundamental fazer o avanço da perna de apoio sempre flexionada. Um dos erros mais frequentes é dar esse primeiro passo com a perna semiflexionada, esquecendo o quadril lá atrás. “Quando o quadril não vai suficientemente para frente, o judoca não consegue avançar a perna que fará a batida para projetar o adversário”, prossegue Rogério.

Quando a pegada na manga acontece da forma correta, o judoca promove o desequilíbrio puxando o cotovelo do adversário na direção de sua faixa, enquanto a mão da gola traz a cabeça dele na direção do seu ombro. “Assim, obtém-se o desequilíbrio (kuzushi) ideal do adversário e se consegue levantar a perna na altura da faixa dele para realizar a batida forte e conseguir um encaixe perfeito da perna entre as pernas do oponente.”

“Com tudo isso acontecendo chances de conseguir a técnica perfeita são enormes”, assegura o campeão olímpico. “Era dessa forma que eu fazia, e dificilmente dava errado. Mas ao longo da luta nem sempre as coisas ocorrem com essa perfeição, pois o adversário reage e busca defender-se.”

“Para conseguir êxito ao longo de uma luta desenvolvi maneiras de executar o o-soto-gari, uma para o destro e outra para o canhoto. Uma para o adversário mais alto e outra para o mais baixo. Uma para quando o adversário não dá a manga, obrigando a segurar as duas mãos na gola dele – foi desta forma, segurando as duas mãos na gola, que consegui o wazari na última luta dos Jogos Olímpicos de 1992, que me deu a vitória e o ouro olímpico”, revela Rogério.

Existem várias maneiras de praticar o o-soto-gari, mas é muito importante usar e abusar da combinação de técnicas, o que certamente levará o adversário ao erro.

“Eu fazia um ashi-waza muito forte. Minhas técnicas de perna eram bastante fortes e variadas. Tinha boas técnicas fundamentais, como sasae-tsurikomi-ashi, ko-soto-gari e de-ashi-harai. Muitas vezes pontuava com elas e outras vezes serviam apenas para aumentar a preocupação e a desatenção dos adversários. Com isso eu desviava a atenção deles para meu tokui-waza: o o-soto-gari”, explica Sampaio.

Essa combinação de técnicas foi fundamental para o campeão olímpico e medalhista de bronze pontuar por meio do o-soto-gari no mundial de Hamilton, em 1993.

“Lutei sempre fundamentado na base e no judô tradicional que, aliás, voltou a ser praticado. Não vou falar de mudança, mas sim do retorno das regras ao judô tradicional, que pregam mais movimentação e postura. O judoca que apresentar boa movimentação e postura terá maior chance de dominar o adversário. Poucas pessoas conseguem ter o domínio sobre estes aspectos técnico do judô, a movimentação e a postura. Acho que era justamente isso que me propiciava êxito ao fazer uso das técnicas de ashi que precediam meu o-soto-gari.”

“A variação que fiz do o-soto-gari de um canhoto para um destro fundamentou-se no quadro em que o adversário fica mais distante, e consequentemente a perna que se usa para fazer a batida fica muito mais distante. Para superar estas dificuldades eu avançava em utsuri-goshi feito em dois passos, e isso me permitia a aproximação necessária para fazer o encaixe da perna e executar o o-soto-gari”, detalha Rogério.

“Na verdade, quem me ensinou esse movimento foi o professor Chiaki Ishii. Eu tinha muita dificuldade em fazer o o-soto-gari com adversários destros. Ele me deu essa dica quando eu tinha 14 anos, e mostrou esse atalho para fazer o o-soto-gari da mesma forma, tanto com destros quanto com canhotos.”

Posteriormente Rogério Sampaio desenvolveu alguns detalhes para o seu biotipo. Muitas vezes não conseguia jogar na primeira batida de o-soto-gari, e partia para outra técnica que é o o-soto-gake. Muitas vezes ele obteve êxito e jogou de ippon.

O campeão olímpico conclui destacando um dos principais fundamentos do judô japonês: a busca da técnica perfeita.

“O judoca tem de desenvolver sua técnica buscando sempre o ippon. Desenvolver a técnica por completo implica possuir uma técnica que funcione para destros e canhotos, para altos e baixos, para gordos e magros, usando mais ou menos movimentação. Com uma boa sequência de técnicas associada a estas variantes e à busca pelo ippon, o judoca desenvolverá sua técnica por completo. Com isso a vitória será uma consequência da luta, e não a meta principal.”

O-soto-gari visão lateral

O-soto-gari visão frontal

O-soto-gari de um canhoto para um destro

 

Raio-X

Nome: Rogério Sampaio Cardoso
Data de nascimento: 12 de setembro de 1967
Local: Santos (SP)
Altura: 1m78cm
Inicio nos tatamis: Aos 4 anos
Professor: Sensei Paulo Duarte
Tokui-waza: o-soto-gari
Graduação: professor kodansha roku-dan (6º dan)
Principais títulos:
Campeão olímpico em Barcelona 1992
Medalha de bronze no Campeonato Mundial de Hamilton 1993
Medalha de bronze no Mundial Universitário em 1994
Pentacampeão brasileiro
Octacampeão paulista
Várias vezes campeão dos Jogos Abertos