29 de junho de 2025

Destacado conhecedor do judô, o professor kodansha hachi-dan (8º dan) Sadao Fleming Mulero pratica a modalidade desde 1962 — iniciou aos 8 anos de idade na ARCA (Associação Recreativa e Cultural Antártica), no bairro da Mooca, em São Paulo.
Inspiração para atletas e esportistas de judô de todas as gerações, sensei Sadao irá participar nesta semana de mais uma cerimônia de graduação, mas não de alunos seus — e sim de seu filho, sensei André Uitiro. Judocas que terão a honra de contar com a presença de sensei Sadao na entrega das faixas, que acontecerá na Associação Kihon Dojô de Diadema (SP).
Início da década de 1970: senseis Sadao Fleming Mulero e Ryuzo Ogawa na sede da Hombu Budokan © Arquivo
Formado por alunos do lendário sensei Ryuzo Ogawa — indiscutivelmente a maior referência do judô brasileiro —, sensei Sadao teve contato direto com o principal precursor e difusor da modalidade no país, responsável por instalar dezenas de filiais do Hombu Budokan Judô em diversos estados.
Entre os professores de Sadao Fleming figuram ícones como Osvaldo Seizi Haniuda, Massaru Hirota e Tadao Nagai. No Hombu Budokan, treinou com Matsuo Ogawa, filho de Ryuzo Ogawa, que, após o passamento do pai, passou a administrar a maior escola de judô do Brasil.
Sensei André Uitiro em aula ao lado de seu mestre, sensei Sadao Fleming Mulero © Arquivo
Em 2008, sensei Sadao fundou a Associação Kihon Dojô, em São Bernardo do Campo, onde teve mais uma oportunidade de colocar em prática seu objetivo de vida: colaborar com a evolução do ser humano por intermédio da prática esportiva.
Por meio de seus ensinamentos, aulas, exemplos e histórias de vida dentro e fora dos tatamis, sensei Sadao busca, como principal legado, transmitir os fundamentos do judô tradicional — o judô criado por Jigoro Kano em 1882.
Os campeonatos da Budokan formam o segundo torneio mais antigo do mundo, atrás apenas do Zen Nihon, o campeonato absoluto do Japão. Na foto, sensei Sadao, campeão absoluto entre os faixas-marrons no 34º Campeonato da Budokan, em 1971, recebe os cumprimentos de sensei Ryuzo Ogawa
© Arquivo
Com mais de 100 faixas-pretas formados, o professor Sadao sempre procurou transmitir os princípios filosóficos, morais e éticos do judô, preocupando-se prioritariamente com o ser humano acima de qualquer outro objetivo.
Por meio de registros em vídeo e palestras, é possível visualizar e compreender as formas utilizadas por sensei Sadao para transmitir o judô. Disciplina, gratidão, cuidado com os iniciantes, espiritualidade e conselhos são alguns dos temas abordados por ele — juntamente, é claro, com técnicas e fundamentos básicos e avançados. Clique AQUI e acesse o canal do YouTube do sensei Sadao.
O judô tem, em sua base filosófica, o Bushidô — o “caminho do guerreiro” —, sintetizado por sete virtudes: justiça (gi), coragem (yuu), benevolência (jin), educação (rei), sinceridade (makoto), honra (meiyo) e lealdade (chuugi). A essas virtudes soma-se o código moral do judô, estruturado em oito princípios: cortesia (educação no trato com os outros), coragem (enfrentar as dificuldades com bravura), honestidade (ser verdadeiro em pensamentos e ações), honra (agir corretamente e manter-se fiel aos próprios princípios), modéstia (evitar atitudes egoístas), respeito (conviver harmoniosamente com os outros), autocontrole (domínio das emoções) e amizade (ser um bom companheiro).
Painel com fotos de judocas formados por sensei Sadao Fleming Mulero © Arquivo
A prática do judô também se fundamenta em três pilares filosóficos: ju (suavidade, ceder para vencer), sei-ryoku-zen-yo (uso racional da energia: mínimo de esforço, máximo de eficiência) e jita-kyoei (bem-estar e prosperidade mútuos), princípio que valoriza o zelo pelo próximo e por si mesmo, reconhecendo que o conflito gera perdas, enquanto a harmonia promove ganhos para todos.
“O judô é uma lição de amor. Não vale nada cair, derrubar, ser forte e ganhar competição, se não tiver o verdadeiro sentimento do judô no coração. Respeitar o mais graduado, cuidar do menos graduado e dar amor a todos.”
Sensei Sadao Fleming Mulero
Todos os ensinamentos — com ou sem pleno entendimento dos alunos — estão presentes no dojô desde o primeiro dia de aula. Com o tempo, esses elementos vão sendo refinados, e os praticantes acabam compreendendo, de fato, aquilo que o shihan Jigoro Kano visou para o judô: um instituto guiado pelo caminho a ser seguido na vida, ou simplesmente um local para o ensino do caminho, adotado por muitos como filosofia de vida.
Painel com fotos de judocas formados por sensei Sadao Fleming Mulero © Arquivo
Sensei André Uitiro, filho do professor Sadao, é ni-dan em judô e san-dan em jiu-jitsu. Praticante desde 1985, com uma pausa e retorno em 2007, segue hoje os ensinamentos do pai, transmitindo a filosofia do judô. Recebe todos os alunos conforme o preconizado por Jigoro Kano, segundo o qual “o judô é para todos”. Em suas aulas, além das técnicas e fundamentos, aconselha e orienta seus alunos com base no conhecimento adquirido ao longo dos anos de aprendizado com o pai.
A cerimônia de graduação que será realizada na Associação Kihon Dojô de Diadema promete ser um momento de forte simbolismo e celebração. Com a presença especial de sensei Sadao, o evento destacará a importância da tradição e do reconhecimento ao esforço de cada judoca, reforçando os valores do judô e a relevância de ações que unem gerações em torno do aprendizado e da filosofia da modalidade.
Painel com fotos de judocas formados por sensei Sadao Fleming Mulero © Arquivo
Ao seguir os ensinamentos do pai, sensei André Uitiro não apenas dá continuidade à tradição familiar, mas também preserva um acervo de conhecimento construído com décadas de estudo, dedicação e paixão pela arte do judô. A convivência com um mestre que sempre buscou o aperfeiçoamento técnico e filosófico da modalidade transforma-se, agora, em responsabilidade e missão: manter vivo um legado que vai além do tatami — e que forma seres humanos para a vida.
29 de junho de 2025
29 de junho de 2025
29 de junho de 2025