17 de novembro de 2024
Segundo treinamento de campo resgata valores e fundamentos do judô Kodokan
Evento da FPJudô realizado em Ribeirão Preto adotou formato descontraído e apresentou conteúdo mais consistente e técnico
Por Paulo Pinto / FPJCOM
29 de maio de 2022 / São Paulo (SP)
Cumprindo a proposta de reformulação técnica do judô estadual, no domingo passado (22) a Federação Paulista de Judô (FPJudô) realizou o segundo treinamento de campo, integrado ao Open Ajinomoto Aspirante, no Ipanema Clube de Ribeirão Preto. Cerca de 75 técnicos e atletas participaram do evento, que apresentou formato mais descontraído, porém com conteúdo extremamente rico e fundamentado na filosofia do Instituto Kodokan.
A coordenação técnica da FPJudô já havia realizado o primeiro treinamento de campo no dia 15 de maio, em São Bernardo do Campo, acoplado ao Campeonato Paulista Sub 18.
O cerimonial do treinamento de campo ficou a cargo de Alexsander José Guedes, ex-atleta da seleção brasileira e delegado do CREF4/SP, técnico de judô de Cubatão e integrante do corpo de professores responsáveis pelo treinamento da base realizado no Centro de Aperfeiçoamento Técnico da FPJudô (CAT).
Na abertura do encontro, o professor Cleber do Carmo, delegado da 12ª DR Mogiana, pontuou que é sempre bom ouvir os ensinamentos do sensei Osvaldo Hatiro Ogawa, um dos responsáveis pelo treinamento de campo em Ribeirão Preto.
“Temos de aproveitar as oportunidades que surgem, para aprofundar um pouco mais o nosso conhecimento do judô e trocar experiências com os praticantes mais antigos e estudiosos. Toda a equipe técnica da Mogiana está muito feliz por recebê-los e deseja bom aprendizado a todos.”
O presidente da FPJudô, Alessandro Puglia, saudou todos os judocas que ficaram mais um dia na cidade para participar do segundo treinamento de campo.
“Todos nós, enquanto professores e formadores, temos o dever de estudar e aprender sempre um pouco mais. Faço um agradecimento aos professores pelo trabalho em prol de um maior desenvolvimento técnico do judô em nosso Estado. Todos nós estamos tendo a oportunidade de participar deste encontro que pretendemos levar a todas as regiões do Estado.”
“Esta pequena introdução feita pelo sensei Hatiro mostra uma pequena parte da cultura do Japão e não apenas do judô”, prosseguiu Puglia. “É assim que eles pensam e enxergam as coisas e hoje todos nós teremos a oportunidade de conhecer um pedacinho dos rituais que balizam a cultura japonesa e fundamentam a prática do judô.”
O treinamento de campo de Ribeirão Preto foi ministrado pelo professor kodansha hachi-dan (8º dan) Osvaldo Hatiro Ogawa e pelo professor kodansha Luiz Yoshio Onmura. Ogawa é ex-presidente da FPJudô e neto do mestre Ryuzo Ogawa, fundador do Hombu Budokan Judô e profundo conhecedor dos hábitos e costumes da cultura japonesa, especialmente das tradições do Instituto Kodokan. Onmura, medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos de Los Angeles (1984), formou-se nos tatamis do dojô da Vila Sônia, conduzido pelo saudoso professor kodansha juu-dan (10º dan) Massao Shinohara. Detém grande conhecimento das técnicas e dos fundamentos, além de excelente didática na transmissão dos detalhes dos 40 movimentos do gokyo-go.
Entre os professores mais graduados, além de Hatiro Ogawa, Luiz Onmura e Alessandro Puglia, estavam presentes Sérgio Lex, Luís Sérgio Ferranti, Fernando Catalano, Alexsander Guedes, Ailton Pereira Calado, Marco Aurélio Uchida, Rogério Quintela, Cristina Maria Catalano, Ricardo José Ribeiro e Luiz Antônio Júnior.
Formação no shiai-jô e ukemi
A disposição dos professores, técnicos e praticantes no shiai-jô foi o primeiro item observado pelo sensei Ogawa, que dissertou sobre a presença dos aspectos culturais do Japão nos princípios e elementos utilizados pelo shihan Jigoro Kano na criação das normas e regras do judô.
“Shomem é o local onde nasce o sol e, o ideal é que no momento da saudação, em za-rei, os professores (sensei-gata-nirei) estejam sempre de costas para o sol. Vocês, alunos, ficam de frente para o sol, enquanto os faixas-pretas ficam na lateral esquerda. Exatamente igual à formação que adotamos aqui hoje.”
“A formação dos senseis”, continuou Ogawa, “também obedece a uma escala hierárquica, na qual os mais graduados ficam sempre à esquerda.”
Na sequência o professor Carlos Eduardo Gomes, da Associação Corpore Sano de Judô, comandou o aquecimento que precedeu a parte prática do treinamento de campo.
Na retomada do treino, sensei Ogawa detalhou o significado mais amplo do termo japonês ukemi, mesmo sabendo que todos ali já sabiam do que se tratava. “Todos os judocas que praticam o kata sabem que o uke é o elemento que recebe, ou seja, o receptor do golpe ou da técnica. Mi significa corpo, carne e alma. Então, a palavra ukemi significa literalmente a defesa do corpo e não apenas queda.”
Na sequência Ogawa mostrou algumas variantes de ukemi, nominadas da forma adotada pelo Instituto Kodokan – técnicas como ushiro-ukemi, queda para trás; ushiro-mawari-ukemi, queda de rolamento para trás; yuko-ukemi, queda lateral para a direita e para a esquerda; yuko-mawari-ukemi, queda de rolamento lateral para a direita e para a esquerda; mae-ukemi, queda frontal; mae-mawari-ukemi ou zempoo-mawari-ukemi, queda de rolamento frontal.
Na prática o treino de campo foi bastante produtivo e atingiu as metas propostos pelos organizadores. “Pudemos mostrar a forma correta de executar cada uma das técnicas e a forma correta de nominá-las”, disse Ogawa.
Treinamento de ashi-waza
Antes de anunciar o laureado professor Luiz Yoshio Onmura, segundo palestrante do dia, que iria discorrer sobre técnicas de ashi-waza, o professor Alexsander Guedes reafirmou o importante apoio do CREF4/SP nas várias ações pedagógicas da FPJudô.
“A coordenação técnica da FPJudô programou este treinamento de ashi-waza, técnicas de perna, devido à importância deste grupo de técnicas nas competições, já que muitas sequências de golpes partem do ashi-waza. Muitas vezes o judoca entra com o-uchi-gari para fazer um harai-goshi ou ko-uchi-gari e, sem um bom conhecimento de ashi-waza, esta transição se torna muito mais difícil ou até mesmo impossível. Inicialmente faremos uchi-komi sombra das principais técnicas de ashi-waza”, disse Guedes.
Na sequência o professor Onmura começou pelo o-uchi-gari, mostrando a importância da postura e da posição correta do corpo, dos ombros, dos pés e das pernas na execução de cada técnica para a obtenção do desiquilíbrio necessário sobre o adversário – detalhes que determinam o vencedor de cada combate.
Outra técnica trabalhada foi o ko-uchi-gari e Onmura começou falando da importância de acertar os passos. “Temos de acertar os passos e, principalmente, acertar o tempo em que o adversário colocará o pé; e antes de firmarmos o pé temos de fazer a puxada de perna.” O sensei destacou também a necessidade de a perna de base estar ligeiramente flexionada e a cabeça voltada para onde o adversário será projetado.
Na sequência foram trabalhados os principais detalhes do o-soto-gari e, por último, realizou-se uma movimentação utilizando as três técnicas aprimoradas, com o objetivo de abrir espaço para cada atleta entrar com seu tokui-waza, ou seja, com sua técnica principal. “Quem consegue dominar bem estas três técnicas – ou outras de ashi-waza – consegue abrir o espaço necessário para entrar com seu golpe principal e finalizar o combate”, explicou sensei Alexsander Guedes.
Logo após houve treinamento de sombra (tandoku renshu), e o segundo treinamento de campo encerrou-se com o randori, que utilizou apenas as três técnicas de ashi-waza aprimoradas pelo sensei Luiz Onmura.
Independentemente da faixa etária e da experiência de cada atleta que participou do treinamento de campo realizado em Ribeirão Preto, os professores avaliaram que os judocas apresentaram grande evolução durante os exercícios práticos.
O judô e a cultura japonesa
Após o encerramento das atividades no shiai-jô o professor Hatiro Ogawa explicou que para conhecer melhor os fundamentos técnicos do judô é preciso antes conhecer um pouco da cultura japonesa.
“Como muitos de nós sabemos, o shomem é um aspecto cultural muito forte no Japão. Ele é o símbolo máximo do país e figura até mesmo na sua bandeira. É devido a isso que o Japão é chamado de País do Sol Nascente. O shomem é sempre a parte frontal, a área onde ficam a bandeira, o santuário e as autoridades. Então, até nesse quesito básico existe influência da cultura japonesa no judô e no esporte como um todo, e não foi à toa que os japoneses adotaram isso.”
Ogawa lembrou que existem outras questões culturais, mas um importante detalhe é que no Japão tudo se desenvolve por meio do kata, termo que traduzido para o português significa forma. “E japonês vê forma (kata) em tudo, ou seja, para andar, para deitar, para dormir, para comer e até mesmo para falar existe a forma correta. Isso é algo cultural e peculiar do Japão.”
“Então”, continuou Ogawa, “se nós quisermos praticar judô corretamente não podemos e não devemos nos desvincular desses aspectos da cultura japonesa, caso contrário não estaremos trabalhando o judô real. Toda a etiqueta de saudação e termos como sensei, senpai e kohai são utilizados naturalmente no Japão. Aqui nós traduzimos sensei simplesmente como professor, mas para os japoneses sensei é aquele que conduz, que orienta para a vida, e isso é algo muito mais amplo e profundo.”
Ogawa concluiu lembrando que no Japão a única classe que não precisa reverenciar o imperador é a dos professores. “Se não fosse pelos senseis, não haveria conhecimento e, sem conhecimento, certamente não haveria cultura e respeito. É por isso que tanto o imperador quanto o povo japonês reverenciam os senseis.”
A Federação Paulista de Judô tem apoio da Ajinomoto do Brasil, Original Tatamis, Shihan Kimonos, MKS/Adidas e Budokan Kimonos. Por meio das suas 16 delegacias regionais a entidade congrega mais de 10 mil atletas federados e está presente em 282 municípios do Estado de São Paulo. Anualmente a FPJudô credencia cerca de 1.500 técnicos e 950 árbitros, que atuam em competições regionais, estaduais, nacionais e internacionais.
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