Segundo treinamento de campo resgata valores e fundamentos do judô Kodokan

Luiz Yoshio Onmura, discorreu sobre técnicas de ashi-waza © FPJCOM

Evento da FPJudô realizado em Ribeirão Preto adotou formato descontraído e apresentou conteúdo mais consistente e técnico

Por Paulo Pinto / FPJCOM
29 de maio de 2022 / São Paulo (SP)

Cumprindo a proposta de reformulação técnica do judô estadual, no domingo passado (22) a Federação Paulista de Judô (FPJudô) realizou o segundo treinamento de campo, integrado ao Open Ajinomoto Aspirante, no Ipanema Clube de Ribeirão Preto. Cerca de 75 técnicos e atletas participaram do evento, que apresentou formato mais descontraído, porém com conteúdo extremamente rico e fundamentado na filosofia do Instituto Kodokan.

Professores e técnicos que comandaram o treinamento de campo de Ribeirão Preto © FPJCOM

A coordenação técnica da FPJudô já havia realizado o primeiro treinamento de campo no dia 15 de maio, em São Bernardo do Campo, acoplado ao Campeonato Paulista Sub 18.

Faixas-pretas que participaram do treinamento de campo © FPJCOM

O cerimonial do treinamento de campo ficou a cargo de Alexsander José Guedes, ex-atleta da seleção brasileira e delegado do CREF4/SP, técnico de judô de Cubatão e integrante do corpo de professores responsáveis pelo treinamento da base realizado no Centro de Aperfeiçoamento Técnico da FPJudô (CAT).

Atletas inscritos no treinamento de campo © FPJCOM

Na abertura do encontro, o professor Cleber do Carmo, delegado da 12ª DR Mogiana, pontuou que é sempre bom ouvir os ensinamentos do sensei Osvaldo Hatiro Ogawa, um dos responsáveis pelo treinamento de campo em Ribeirão Preto.

Osvaldo Hatiro Ogawa apresentou uma excelente palestra sobre os hábitos e costumes do Japão © FPJCOM

“Temos de aproveitar as oportunidades que surgem, para aprofundar um pouco mais o nosso conhecimento do judô e trocar experiências com os praticantes mais antigos e estudiosos. Toda a equipe técnica da Mogiana está muito feliz por recebê-los e deseja bom aprendizado a todos.”

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O presidente da FPJudô, Alessandro Puglia, saudou todos os judocas que ficaram mais um dia na cidade para participar do segundo treinamento de campo.

Evento da FPJudô apresentou formato descontraído e apresentou conteúdo altamente técnico © FPJCOM

“Todos nós, enquanto professores e formadores, temos o dever de estudar e aprender sempre um pouco mais. Faço um agradecimento aos professores pelo trabalho em prol de um maior desenvolvimento técnico do judô em nosso Estado. Todos nós estamos tendo a oportunidade de participar deste encontro que pretendemos levar a todas as regiões do Estado.”

Cleber do Carmo, delegado da 12ª DR Mogiana © FPJCOM

“Esta pequena introdução feita pelo sensei Hatiro mostra uma pequena parte da cultura do Japão e não apenas do judô”, prosseguiu Puglia. “É assim que eles pensam e enxergam as coisas e hoje todos nós teremos a oportunidade de conhecer um pedacinho dos rituais que balizam a cultura japonesa e fundamentam a prática do judô.”

Os professores avaliaram que os judocas apresentaram grande evolução durante os exercícios práticos © FPJCOM

O treinamento de campo de Ribeirão Preto foi ministrado pelo professor kodansha hachi-dan (8º dan) Osvaldo Hatiro Ogawa e pelo professor kodansha Luiz Yoshio Onmura. Ogawa é ex-presidente da FPJudô e neto do mestre Ryuzo Ogawa, fundador do Hombu Budokan Judô e profundo conhecedor dos hábitos e costumes da cultura japonesa, especialmente das tradições do Instituto Kodokan. Onmura, medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos de Los Angeles (1984), formou-se nos tatamis do dojô da Vila Sônia, conduzido pelo saudoso professor kodansha juu-dan (10º dan) Massao Shinohara. Detém grande conhecimento das técnicas e dos fundamentos, além de excelente didática na transmissão dos detalhes dos 40 movimentos do gokyo-go.

O presidente da FPJudô, Alessandro Panitz Puglia © FPJCOM

Entre os professores mais graduados, além de Hatiro Ogawa, Luiz Onmura e Alessandro Puglia, estavam presentes Sérgio Lex, Luís Sérgio Ferranti, Fernando Catalano, Alexsander Guedes, Ailton Pereira Calado, Marco Aurélio Uchida, Rogério Quintela, Cristina Maria Catalano, Ricardo José Ribeiro e Luiz Antônio Júnior.

Formação no shiai-jô e ukemi

A disposição dos professores, técnicos e praticantes no shiai-jô foi o primeiro item observado pelo sensei Ogawa, que dissertou sobre a presença dos aspectos culturais do Japão nos princípios e elementos utilizados pelo shihan Jigoro Kano na criação das normas e regras do judô.

Professores Ogawa e Rocha mostram técnicas de ukemi © FPJCOM

“Shomem é o local onde nasce o sol e, o ideal é que no momento da saudação, em za-rei, os professores (sensei-gata-nirei) estejam sempre de costas para o sol. Vocês, alunos, ficam de frente para o sol, enquanto os faixas-pretas ficam na lateral esquerda. Exatamente igual à formação que adotamos aqui hoje.”

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“A formação dos senseis”, continuou Ogawa, “também obedece a uma escala hierárquica, na qual os mais graduados ficam sempre à esquerda.”

Alexsander Guedes apresenta o sensei Onmura aos jovens judocas © FPJCOM

Na sequência o professor Carlos Eduardo Gomes, da Associação Corpore Sano de Judô, comandou o aquecimento que precedeu a parte prática do treinamento de campo.

Luiz Onmura mostra treino para aperfeiçoamento técnico © FPJCOM

Na retomada do treino, sensei Ogawa detalhou o significado mais amplo do termo japonês ukemi, mesmo sabendo que todos ali já sabiam do que se tratava. “Todos os judocas que praticam o kata sabem que o uke é o elemento que recebe, ou seja, o receptor do golpe ou da técnica. Mi significa corpo, carne e alma. Então, a palavra ukemi significa literalmente a defesa do corpo e não apenas queda.”

Onmura faz treinamento de sombra para ashi-waza © FPJCOM

Na sequência Ogawa mostrou algumas variantes de ukemi, nominadas da forma adotada pelo Instituto Kodokan – técnicas como ushiro-ukemi, queda para trás; ushiro-mawari-ukemi, queda de rolamento para trás; yuko-ukemi, queda lateral para a direita e para a esquerda; yuko-mawari-ukemi, queda de rolamento lateral para a direita e para a esquerda; mae-ukemi, queda frontal; mae-mawari-ukemi ou zempoo-mawari-ukemi, queda de rolamento frontal.

Atletas fazem treinamento de sombra © FPJCOM

Na prática o treino de campo foi bastante produtivo e atingiu as metas propostos pelos organizadores. “Pudemos mostrar a forma correta de executar cada uma das técnicas e a forma correta de nominá-las”, disse Ogawa.

Treinamento de ashi-waza

Antes de anunciar o laureado professor Luiz Yoshio Onmura, segundo palestrante do dia, que iria discorrer sobre técnicas de ashi-waza, o professor Alexsander Guedes reafirmou o importante apoio do CREF4/SP nas várias ações pedagógicas da FPJudô.

Sensei Guedes detalhando as técnicas mostradas por Onmura

“A coordenação técnica da FPJudô programou este treinamento de ashi-waza, técnicas de perna, devido à importância deste grupo de técnicas nas competições, já que muitas sequências de golpes partem do ashi-waza. Muitas vezes o judoca entra com o-uchi-gari para fazer um harai-goshi ou ko-uchi-gari e, sem um bom conhecimento de ashi-waza, esta transição se torna muito mais difícil ou até mesmo impossível. Inicialmente faremos uchi-komi sombra das principais técnicas de ashi-waza”, disse Guedes.

Na sequência o professor Onmura começou pelo o-uchi-gari, mostrando a importância da postura e da posição correta do corpo, dos ombros, dos pés e das pernas na execução de cada técnica para a obtenção do desiquilíbrio necessário sobre o adversário – detalhes que determinam o vencedor de cada combate.

Onmura mostra outro treinamento de sombra para ashi-waza © FPJCOM

Outra técnica trabalhada foi o ko-uchi-gari e Onmura começou falando da importância de acertar os passos. “Temos de acertar os passos e, principalmente, acertar o tempo em que o adversário colocará o pé; e antes de firmarmos o pé temos de fazer a puxada de perna.” O sensei destacou também a necessidade de a perna de base estar ligeiramente flexionada e a cabeça voltada para onde o adversário será projetado.

Senseis Guedes, Ogawa e Onmura avaliam qualidade do treinamento © FPJCOM

Na sequência foram trabalhados os principais detalhes do o-soto-gari e, por último, realizou-se uma movimentação utilizando as três técnicas aprimoradas, com o objetivo de abrir espaço para cada atleta entrar com seu tokui-waza, ou seja, com sua técnica principal. “Quem consegue dominar bem estas três técnicas – ou outras de ashi-waza – consegue abrir o espaço necessário para entrar com seu golpe principal e finalizar o combate”, explicou sensei Alexsander Guedes.

Após troca de parceiros, atletas aguardam reinício do randori © FPJCOM

Logo após houve treinamento de sombra (tandoku renshu), e o segundo treinamento de campo encerrou-se com o randori, que utilizou apenas as três técnicas de ashi-waza aprimoradas pelo sensei Luiz Onmura.

Randori sobre as técnicas de ashi-waza dissecadas por Onmura © FPJCOM

Independentemente da faixa etária e da experiência de cada atleta que participou do treinamento de campo realizado em Ribeirão Preto, os professores avaliaram que os judocas apresentaram grande evolução durante os exercícios práticos.

O judô e a cultura japonesa

Após o encerramento das atividades no shiai-jô o professor Hatiro Ogawa explicou que para conhecer melhor os fundamentos técnicos do judô é preciso antes conhecer um pouco da cultura japonesa.

“Como muitos de nós sabemos, o shomem é um aspecto cultural muito forte no Japão. Ele é o símbolo máximo do país e figura até mesmo na sua bandeira. É devido a isso que o Japão é chamado de País do Sol Nascente. O shomem é sempre a parte frontal, a área onde ficam a bandeira, o santuário e as autoridades. Então, até nesse quesito básico existe influência da cultura japonesa no judô e no esporte como um todo, e não foi à toa que os japoneses adotaram isso.”

Professores que participaram do treinamento de campo do Open Ajinomoto Aspirante © FPJCOM

Ogawa lembrou que existem outras questões culturais, mas um importante detalhe é que no Japão tudo se desenvolve por meio do kata, termo que traduzido para o português significa forma. “E japonês vê forma (kata) em tudo, ou seja, para andar, para deitar, para dormir, para comer e até mesmo para falar existe a forma correta. Isso é algo cultural e peculiar do Japão.”

Professores e atletas que participaram do treinamento de campo de do Open Ajinomoto Aspirante © FPJCOM

“Então”, continuou Ogawa, “se nós quisermos praticar judô corretamente não podemos e não devemos nos desvincular desses aspectos da cultura japonesa, caso contrário não estaremos trabalhando o judô real. Toda a etiqueta de saudação e termos como sensei, senpai e kohai são utilizados naturalmente no Japão. Aqui nós traduzimos sensei simplesmente como professor, mas para os japoneses sensei é aquele que conduz, que orienta para a vida, e isso é algo muito mais amplo e profundo.”

Ogawa concluiu lembrando que no Japão a única classe que não precisa reverenciar o imperador é a dos professores. “Se não fosse pelos senseis, não haveria conhecimento e, sem conhecimento, certamente não haveria cultura e respeito. É por isso que tanto o imperador quanto o povo japonês reverenciam os senseis.”

A Federação Paulista de Judô tem apoio da Ajinomoto do Brasil, Original Tatamis, Shihan Kimonos, MKS/Adidas e Budokan Kimonos. Por meio das suas 16 delegacias regionais a entidade congrega mais de 10 mil atletas federados e está presente em 282 municípios do Estado de São Paulo. Anualmente a FPJudô credencia cerca de 1.500 técnicos e 950 árbitros, que atuam em competições regionais, estaduais, nacionais e internacionais.

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