Seminário de Wagner Bull em Aracaju motiva praticantes e promove integração

Participantes do Seminário de Wagner Bull em Aracaju 2023 © Rodrigo Maia

Mais de 60 participantes de 12 dojôs e oito organizações de Sergipe, Alagoas, Bahia, Distrito Federal, Pernambuco e Rio Grande do Norte, desfrutaram três dias de companheirismo e aquisição de conhecimento.

Por Paulo Pinto / Global Sports
24 de outubro de 2023 / Curitiba (PR)

Há exatos dez anos, o shihan Wagner Bull, shichi-dan (7º dan) Aikikai, realizou seu primeiro curso em Aracaju, satisfazendo a vontade de seus muitos admiradores do Nordeste. Agora, ele retornou à capital sergipana, onde ministrou de 8 a 10 de setembro concorrido seminário a convite dos dojôs Associação Sergipana de Aikidô (ASAIK), Aracaju Aikikai e do alagoano Kokyu Dojô. Mais uma vez, com o objetivo de contribuir para melhoria do conhecimento, desenvolvimento e aperfeiçoamento técnico desta peculiar arte marcial.

Cerimonial de abertura com os yudanshas perfilados em primeiro plano © Rodrigo Maia

Mais de 50 praticantes compareceram ao evento, frequentadores de 15 dojôs e oito organizações distintas, todos com o objetivo de aprender, praticar e compartilhar “este caminho maravilhoso que é o aikidô”, na palavra de seus adeptos. Outro expoente do Instituto Takemussu e da nova geração do aikidô no Brasil e no mundo também participou: o shidoin Alexandre Bull, roku-dan (6º dan) Aikikai, sempre referido como exemplo de ser humano e praticante.

Shidoin Alexandre Bull aplicando a técnica kotegaeshi © Rodrigo Maia

Shihan Wagner Bull explicou as diferenças entre o aikidô moderno e o aikidô de Ô-Sensei. Demonstrou a importância da conexão do praticante com o universo, com consciência de si e de seu lugar no mundo, além da necessidade de respiração correta e postura adequada para execução de uma boa técnica.

Com o auxílio do uke Manoel Gomes, o shihan Wagner Bull demonstra a conexão no tai no henko © Rodrigo Maia

“No decorrer do seminário ele fez demonstrações para que todos entendessem e aprendessem a colocar energia nas técnicas”, detalhou o professor Fernando Antônio Costa Coutinho yon-dan (4º dan) Aikikai. “Mas uma energia que não se resume a força física muscular, é algo muito mais avançado. Este foi o cerne do seminário: executar não apenas as formas, mas estabelecer uma conexão com os praticantes na execução da técnica.”

Alunos e senseis acompanham a apresentação do professor Bull © Rodrigo Maia

Para Coutinho, graduado em administração e pós-graduado em gerência estratégica e gestão de empresas, shihan Wagner Bull demonstrou que forma sem energia é vazia, não tem vida e que aikidô é algo para melhoria dos praticantes como um todo, não apenas como Budocas.

Shihan Wagner Bull demonstra princípios das técnicas com uso do boken © Rodrigo Maia

Manoel Gomes de Barros Bisneto san-dan (3º dan) Aikikai, descreveu o conteúdo do seminário como muito rico, tanto no âmbito teórico quanto nos aspectos práticos, culturais ou espirituais. “É impressionante a quantidade de conhecimento passado em cada técnica, explicação e orientação. Difícil absorver tanto em tão pouco tempo”, foram as palavras do médico especialista em doenças infecciosas e parasitárias. Para ele, o que shihan Wagner Bull transmite é a experiência de uma vida inteira de dedicação apaixonada e incansável ao aikidô.

Shidoin Alexandre Bull demonstrando como absorver a energia do uke © Rodrigo Maia

O seminário abordou ainda vários conceitos básicos – como Irimi, Tenkan, Tai no Henko e Mussubi –, porém numa visão mais profunda, buscando a essência eles. “O shihan focou o tempo inteiro na necessidade de relaxar o corpo, esvaziar a mente e acalmar o ego, buscando conectar-se com o universo e aplicar as técnicas com eficiência e energia, sem a necessidade de força física, muscular”, arrematou Gomes de Barros.

Shihan Wagner Bull mostra a importância de manter o alinhamento do corpo e da conexão céu e terra © Rodrigo Maia

Já para André Luiz Diniz de Souza san-dan (3º dan) Aikikai, graduado em ciências contábeis e pós-graduado em controladoria empresarial, foi esplendorosa a forma como shihan Bull elucidou as diferenças entre o aikidô moderno e o do fundador Morihei Ueshiba.

Yudanshas acompanham a apresentação de Wagner Bull © Rodrigo Maia

“Ele mostrou a importância da conexão que deve existir entre as técnicas, nas quais os praticantes devem começar a buscar esse entendimento e, por meio da prática constante, interligar-se com o universo. Falou também da respiração adequada e da postura correta do praticante para a boa execução da técnica, sem perder o domínio do seu centro.”

Shihan Bull mostra o alinhamento do corpo, relaxamento e conexão com o uke Rafael Rodriguez © Rodrigo Maia

Em resumo, na avaliação de André Luiz, foram incontáveis os ensinamentos valiosos que deixaram “um gostinho de quero mais” em todos os participantes do seminário. Ele destacou ainda a simpatia e o enorme conhecimento que shihan Wagner Bull possui, que deixa todos admirados e com vontade de pesquisar e treinar cada vez mais o que foi proposto.

Shihan Wagner Bull orienta aplicação da técnica © Rodrigo Maia

Evolução permanente

Um dos fatos que mais impressionaram os participantes do seminário foi a permanente atualização do shihan Wagner Bull. “A cada ano a evolução dele sempre foi nítida. Mas no período de pandemia em que ficamos distantes ele não parou. Confesso que achei espantoso, porque notei um salto gigantesco”, disse Coutinho. Isso inclui a forma de exposição verbal dos elementos da sabedoria oriental, não apenas do aikidô, mas das artes marciais em geral, e a transmissão prática, que ele demonstra ou executa com os alunos. “O difícil é absorver tanta informação.”

De volta aos tatamis, sensei Valdemberg sendo uke © Rodrigo Maia

Gomes de Barros concorda que a didática do shihan Wagner Bull é excepcional. Não só pela sua natureza magnética e harmoniosa, mas também pela sua experiência e sensibilidade em perceber o que os alunos e praticantes precisam desenvolver para melhorar e atingir outro nível. “A evolução do shihan, principalmente nos últimos anos, é surpreendente e avança de forma exponencial. Cada vez que o encontramos há algo a mais; suas técnicas, sua percepção e seu refinamento atingiram um nível que poucos poderiam almejar na atualidade.”

“Forma sem energia é vazia e não tem vida. Aikidô é algo para melhoria dos praticantes como um todo, não apenas como Budocas.”

André Luiz tampouco economiza nos elogios. “O shihan Wagner Bull tem profundo conhecimento da arte, não somente do aikidô, mas de outras, tanto no campo filosófico quanto no cultural e no histórico. Ele sabe passar muitos ensinamentos para quem está disposto a aprender. E o que nos deixou espantados é que mesmo no período da pandemia ele continuou estudando e sua evolução na prática deu um salto gigantesco”. André Luiz se considera privilegiado por conhecer alguém desse nível, que não se acomoda e a cada momento se preocupa com o crescimento dos seus alunos.

Shidoin Alexandre Bull demonstrando mais um kotegaeshi © Rodrigo Maia

O espírito de harmonia e colaboração entre todos os praticantes agradou particularmente aos alunos. Segundo Coutinho, shihan Wagner Bull consegue estabelecer um ambiente nos tatamis em que todos só desejavam aprender. “Uma camaradagem única, considerando-se que eram pessoas de tantos dojôs e organizações diferentes. Espero sempre encontrar esse espírito nos seminários.”

Shihan Wagner Bull demonstrado o poder do ki e direcionamento da energia © Rodrigo Maia

Gomes de Barros concorda inteiramente com essa opinião. “Uma das coisas de que mais gostei foi o clima de harmonia, paz e fraternidade durante todo o evento. Creio que o objetivo de união e companheirismo por meio da prática do aikidô foi alcançado, transformando todos numa grande família.”

“Pude sentir uma energia contagiante entre os praticantes de organizações distintas, com o único objetivo de aprender o que foi passado pelo shihan nesses três dias de seminário”, completou André Luiz.

Treino de suari-waza kokyu-ho © Rodrigo Maia

Os três professores ouvidos pela nossa reportagem foram unânimes ao destacar a homenagem ao professor Valdemberg como ponto alto do encontro em Aracaju. “Foi emocionante para mim, como discípulo, ver o retorno aos tatamis do meu sensei Valdenberg, o introdutor dessa nobre arte no nosso Estado, e seu exame e promoção para yon-dan (4º dan) feito pelo nosso shihan”, resumiu André Luiz.

Shihan Wagner Bull realiza osae (aprisionamento) no solo com o uke Fernando Coutinho © Rodrigo Maia

Já quanto aos aspectos didáticos pedagógicos os participantes do seminário destacaram mais uma vez a capacidade do shihan Wagner Bull. “O que dizer do principal pesquisador do aikidô na América Latina, talvez do mundo?”, observou Coutinho, lembrando que ele é autor de vários livros sobre a arte, além de incontáveis traduções, e que faz constantes viagens ao Japão para aprofundar seus conhecimentos. “O que posso relatar é que ele faz a ponte, o elo, de forma clara e didática. Os alunos têm de estar abertos para receber o conhecimento, ainda que não consigam executar as técnicas da mesma forma que o shihan. Há de se praticar, praticar e praticar.”

Wagner Bull demonstra kokyu-nage com o uke Diego André Faulhaber © Rodrigo Maia

Gomes de Barros confessou que não se sente em condição de avaliar o shihan. “Isso exigiria um grau de maturidade na arte e na vida que não possuo neste momento. Mas posso dizer que o mestre faz muito mais do que nos passar de forma paciente e altruísta toda a experiência que adquiriu nestes mais de 50 anos de prática do aikidô. Shihan Wagner Bull é um exemplo como poucos de mestre, artista marcial, estudioso e ser humano que inspira a todos os seus alunos a seguirem neste caminho com cada vez mais paixão e vontade de evoluir”, completou.

Shihan Bull demonstra kokyu-nage com o uke Fernando Coutinho © Rodrigo Maia

Para André Luiz, trata-se do maior e principal pesquisador do aikidô na América Latina, uma verdadeira enciclopédia viva. “Com numerosos livros publicados sobre a arte, várias traduções, viagens a diferentes países, inclusive o Japão, berço do aikidô, shihan Wagner Bull, com sua didática inquestionável, tem a preocupação de organizador de muitos seminários no Brasil, com os principais alunos diretos do fundador, contribuindo para o ensino do aikidô no País.”

Shihan Bull executa tai sabaki com cortes de boken © Rodrigo Maia

Ninguém duvida de que os seminários realizados pelo Instituto Takemussu promovem a união dos praticantes em busca do desenvolvimento do aikidô no Brasil e em nosso continente. E em Sergipe não foi diferente. “A pandemia afastou muita gente dos dojôs”, reconheceu Coutinho. “Mas eventos como este em Aracaju promovem integração e revisão de conceitos, de prática, além de motivar os alunos e ampliar a divulgação. A partir deles gera-se uma dinâmica de motivação nos praticantes, que ficam ansiosos pelo próximo evento e treinam com mais aplicação.”

Sensei Valdemberg faz exame de graduação tendo como uke o shidoin Alexandre Bull © Rodrigo Maia

Não é diferente a avaliação de Gomes de Barros. “Sem dúvida foi um evento vital para o desenvolvimento do aikidô em Sergipe, sobretudo levando-se em consideração o número bastante expressivo de participantes.” Para ele, eventos do nível apresentado em Aracaju são algo bastante raro, e reunir dojôs de várias organizações, inclusive de outros Estados, com certeza enriquece a todos e inspira os alunos a buscarem mais conhecimento, evoluindo como artistas marciais, cidadãos e seres humanos.

Treino de suari-waza kokyu-ho © Rodrigo Maia

André Luiz apontou uma peculiaridade de Sergipe que não se costuma ver em outros Estados, apesar de ser o menor da Federação: a união entre vários grupos de organizações distintas. Ele mesmo tem-se empenhado em congregar os praticantes, num trabalho que já faz há 18 anos em conjunto com outros professores.

Wagner Bull faz anúncio dos resultados do exame de kyu © Rodrigo Maia

“Esse clima de confraternização deve-se principalmente ao sensei Valdenberg, pioneiro na introdução do aikidô em Sergipe, onde praticamente 90% dos professores foram seus alunos. Por isso, existe uma perfeita integração quando se faz um seminário deste nível em nossa cidade”, concluiu André Luiz.

Shihan Bull orienta sobre o exame de dan © Rodrigo Maia

Dojôs e Estados participantes

Dojôs de seis Estados, Sergipe, Alagoas, Bahia, Distrito Federal, Pernambuco e Rio Grande do Norte, participaram do encontro que, segundo os organizadores, colaborou substancialmente no crescimento técnico dos participantes.

Professor André Luiz Diniz de Souza sendo examinado para san-dan © Rodrigo Maia

Ao todo 12 escolas participaram e abrilhantaram o Seminário de Wagner Bull em Aracaju 2023: Academia Sergipana de Aikidô (ASA), filiada ao Instituto Maruyama; Aikidô de Aracaju Dojô, filiado à Birankai Europe; Daishizen Dojô; Naikan Dojô; Yuuki Dojô e Seishinkan Dojô, filiados ao Brazil Aikikai Instituto Takemussu; Hontai Dojô, filiado a Associação Pesquisa de Aikidô (APA); Instituto Makoto, Meiyokai Dojô e Zanshin Aracaju, filiados à USAF Yamada Shihan; Mussubi Dojô, filiado a Febrai; e Munen Mushin Dojô, filiado à linha Tissier por meio de Stéphane Goffin Sensei.

Fernando José Rudeski Cabral e Leonardo Mendonça de Magalhães Oliveira fazem exame para ni-dan © Rodrigo Maia

Participantes

Alexandre Vieira da Rocha
Ann Andrea de Miranda Fusco
Sérgio Ramalho Motta
Amanda Cibele Almeida Santos
Carlos Vinícius Góis Santos
Daniel Pio de Oliveira
Diego Gonzaga Silva Santos
Júlia Botelho Trindade
Juscelino Jorge Ribeiro Santos
Layza Cecato Gomes Amaro
Manoel Gomes Barros Bisneto
Marcel Alves Franco
Rodrigo Menezes Maia
Victor Araújo Petch
André Luiz Diniz de Souza
Daniel Elias Rabelo
Fábio Elias Rabelo
Fernando José Rudeski Cabral
João Gabriel Aragão Rabelo
Juliana Guedes de Oliveira
Lauro Couiti Inagaki Filho
Lívio Alexis Sá Centurión
Luiz Eduardo da Silva Lemos
Pietro de Aragão Rabelo
Renato Machado Siqueira
Diego André Faulhaber
Lydia Wong
Felipe Cristiano da Silva Leite
Fernando Antonio Coutinho
Leonardo Magalhães Oliveira
Rafael da Silva Rodriguez
Elyne Almeida Fontes
Marcelo Cerveira Gurgel
Maxwell Dantas Lima
Wender Cesar Vidal
João Paulo Meirelles
Paulo Roberto Torres Santos
Clésio Nascimento da Rocha
João Heleno Oliveira Santos
Enzo Silva Almeida
Henrique Catelli de Almeida
João Alves Araújo Vianna
Rodrigo Pereira Mesquita
Sergio Ricardo Nascimento
Antônio Martins de Oliveira
Deocleciano Martins de Góes
Edegenalvo Azevedo Feitosa
Marcelo Siqueira de Araújo
José Matias dos Santos Filho
Jorgeleno de Jesus Cardoso

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Marcel Alves Franco faz exame para sho-dan © Rodrigo Maia

Lauro Couiti Inagaki Filho faz exame para san-dan © Rodrigo Maia

Rafael da Silva Rodriguez sendo examinado para san-dan © Rodrigo Maia

A banca examinadora foi composta pelos renomados professores Wagner Bull shichi-dan (7º dan), Alexandre Bull roku-dan (6º dan), Diego André Faulhaber yon-dan (4º dan), Valdemberg Araújo da Silva yon-dan (4º dan) e Alexandre Vieira da Rocha yon-dan (4º dan) © Rodrigo Maia

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