Sensei Camila Nascimento usa parábola inspiradora para mostrar o significado da faixa preta

A faixa preta representa o começo – o início da jornada sem fim de disciplina, trabalho e a busca por um padrão cada vez mais alto © Arquivo

Num momento de reflexão, a professora paulista mostra o que significa tornar-se faixa preta e as virtudes necessárias ao judoca para trilhar esse caminho

Por Helena Sbrissia e Camila Nascimento / Global Sports
26 de agosto de 2021 / Curitiba (PR)

Qual o verdadeiro significado da faixa preta? Para responder a essa indagação, a professora Camila Nascimento – que dá aulas de judô em Campinas na Escola Ativa, no Colégio Dom Barreto, no Abud Judô e no Tênis Clube – leva em consideração a disciplina e a ponderação que um judoca precisa desenvolver para trilhar o verdadeiro caminho (Dô).

Para alguns, segundo a professora, ser yudansha (graduados faixa preta do 1° ao 5° dans) significa o fim de um longo caminho percorrido, repleto de dificuldades, desafios e superação, mas para outros implica uma nova extraordinária jornada repleta de aprendizados.

Partindo do célebre princípio de Jigoro Kano, que mostra despretensiosamente que um judoca não se aperfeiçoa para lutar, mas luta para se aperfeiçoar, Camila avalia que o verdadeiro significado da graduação está em como se faz o uso dela, dentro e fora do dojô. Como se colocam em prática os conhecimentos adquiridos ao longo do caminho, já que o aprendizado se reveste de aspectos éticos, filosóficos e conceituais, e não somente técnicos.

“Quanto ajudamos o próximo e praticamos verdadeiramente o jita-kyoei no dia a dia, dentro e fora do dojô e em nossas vidas?”, questiona Camila. Para ela, um verdadeiro judoca se porta diante dos kohais (menos graduados) com compreensão, e dos sempais (mais graduados), com humildade e gratidão, assim como diante de todos os seres viventes, os quais merecem sempre reverência e enorme respeito. Tudo isso faz parte do estilo de vida que um faixa preta na acepção da palavra deve externar no dia a dia.

Ao criar o judô, Jigoro Kano fundamentou-se em três princípios. O primeiro deles é o seiryoku-zen’yo, menor resistência ao adversário e obtenção de eficiência máxima com o mínimo esforço, ou seja, utilização global, racional e utilitária da energia do corpo e do espírito.

Já o jita-kyoei diz respeito à importância da solidariedade humana para o melhor benefício individual e coletivo. Kano pregava, ainda, que a ideia do progresso pessoal deve ligar-se à ajuda ao próximo, pois acreditava que a eficiência e o auxílio aos outros criariam não só um atleta melhor, mas um ser humano completo.

Sensei Camila Nascimento © Arquivo

Por fim, o princípio da suavidade (Ju) é, subjetivamente, o mais diretamente voltado ao plano físico, mas que, no entender do professor Kano, deve ser levado ao plano intelectual.

Graduada em jornalismo e, num momento de inspiração, a sensei Camila discorreu sobre todos esses assuntos por meio de uma parábola reflexiva. Mais do que levar em consideração todo o caminho que ela precisou percorrer para chegar à sua posição atual, o texto reflete virtudes que todos faixas-pretas devem praticar: a paciência e a serenidade.

Parábola da faixa preta

Imagine um lutador de artes marciais em seiza (ajoelhado) diante do sensei, numa cerimônia para receber a faixa preta obtida com muito suor.

Depois de anos de treinamento incansável, o aluno finalmente chegou ao auge no êxito da disciplina.

“Antes que eu lhe dê a faixa, você tem de passar por outro teste”, diz o sensei.

“Eu estou pronto”, responde o aluno, talvez esperando pelo último assalto da luta.

“Você tem de responder à pergunta essencial: qual é o verdadeiro significado da faixa preta?”

“O fim da minha jornada”, responde o aluno, “uma recompensa merecida pelo meu bom trabalho.”

O sensei espera mais. É óbvio que ainda não está satisfeito. Por fim, o sensei fala: “Você ainda não está pronto para a faixa preta. Volte daqui a um ano.”

Um ano depois, o aluno ajoelha-se novamente na frente do sensei.

“Qual é o verdadeiro significado da faixa preta?”, pergunta o sensei.

“Ela significa a excelência e o nível mais alto que se pode atingir em nossa arte”, responde o aluno.

O sensei não diz nada durante vários minutos, esperando. É óbvio que ainda não está satisfeito. Por fim, ele fala: “Você ainda não está pronto para a faixa preta. Volte daqui a um ano.”

Um ano depois, o aluno ajoelha-se novamente na frente do sensei, e mais uma vez o sensei pergunta: “Qual é o verdadeiro significado da faixa preta?”

“A faixa preta representa o começo – o início da jornada sem fim de disciplina, trabalho e a busca por um padrão cada vez mais alto”, responde o aluno.

“Sim. Agora você está pronto para receber a faixa preta e iniciar o seu trabalho!”