Shiho Tanaka: “O mais importante é amar aquilo que fazemos”

Vitória sobre Tsunoda Roustant (ESP) na semifinal © Tamara Kulumbegashvili / FIJ

Campeã mundial aos 27 anos, japonesa inspira nova geração com trajetória improvável, mas construída com esforço contínuo e dedicação.

Por Jo Crowley – FIJ
Adaptação: Paulo Pinto / Global Sports
Curitiba, 13 de julho de 2025

Aos 27 anos, a japonesa Shiho Tanaka vive o melhor momento de sua carreira. Após bater na trave no Campeonato Mundial de Tashkent 2022 — quando perdeu a disputa pelo bronze para a holandesa Sanne Van Dijke, então medalhista olímpica e mundial — Tanaka não desanimou. Seguiu firme, trabalhando duro e mirando o futuro.

Em 2024, colheu os frutos da persistência: conquistou sua primeira medalha em um mundial ao vencer a belga Gabriella Willems na disputa pelo bronze. Poucas semanas depois, Willems subiria ao pódio olímpico em Paris, o que valorizou ainda mais a façanha da japonesa.

Shiho Tanaka alcança o topo do mundo após anos de trabalho silencioso e dedicação exemplar © Tamara Kulumbegashvili / FIJ

Já em Budapeste, no Mundial de 2025, Tanaka deu um salto definitivo. Superou adversárias de peso como Schuster (SLO), Pina (POR) e a medalhista olímpica Miriam Butkereit (ALE), antes de protagonizar uma semifinal intensa e longa contra a espanhola Ai Tsunoda Roustant. A vitória lhe garantiu a melhor colocação da carreira — e a chance de lutar pelo ouro.

Na final, Tanaka enfrentou a croata Lara Cvjetko, determinada a conquistar o título após anos à sombra da companheira de equipe Barbara Matic. Mas a japonesa estava pronta. Com o dever de casa feito, mostrou garra e concentração para aplicar um o-soto-gari decisivo no golden score, garantindo seu primeiro título mundial na categoria até 70kg.

O-soto-gari de ouro no golden score © Tamara Kulumbegashvili / FIJ

“Estou muito feliz por conquistar meu primeiro título mundial. Tinha um plano de luta e sabia que ela cruzaria a pegada — então me preparei para isso. Mas como acontece muitas vezes, nem tudo sai como o planejado. No fim, foi uma questão de coragem, e fui para o o-soto”, explicou.

Da batalha psicológica ao domínio técnico

“Sempre tive dificuldades contra adversárias que lutam do mesmo lado. Por isso, me dediquei intensamente a analisar esses confrontos, estudar padrões e ajustar minha estratégia. Mas não parei por aí — também investi no fortalecimento mental, trabalhei minha concentração e aprendi a manter o foco sob pressão. Ganhei experiência e hoje sou uma judoca melhor do que era no ano passado.”

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Tanaka integra a equipe de judô da Japan Rail, que criou seu clube há poucos anos. Ela se orgulha de ser a primeira finalista de mundial do time. Também fazem parte do grupo as judocas Wakana Koga e Kisumi Omori, sob o comando da técnica Tomoko Fukumi, campeã mundial em 2009 e vencedora dos Grand Slams de Paris, Tóquio e Düsseldorf, além do World Masters.

Embora hoje esteja no topo, o início da trajetória de Tanaka foi marcado por dificuldades e pouca projeção. Ela não se destacou nas categorias de base e enfrentou uma transição árdua até se firmar no alto rendimento.

Tomoko Fukumi (JPN), campeã mundial e técnica da equipe Japan Rail, no degrau mais alto do pódio no qual aparece também a brasileira Sarah Menezes, campeã olímpica em Londres 2012 e referência internacional no judô © Gabriela Sabau / FIJ

“Quando estava no ensino fundamental, aos 15 anos, nunca consegui me classificar para o campeonato nacional. Sou de Yamaguchi, uma região mais interiorana, então nunca me imaginei competindo internacionalmente e defendendo a seleção do Japão. Também praticava luta livre e competia localmente nas duas modalidades. Gosto muito de wrestling.”

Esse histórico de formação multiesportiva certamente contribuiu para a desenvoltura que demonstra nos tatamis.

Amor ao desafio

Desde pequena, Tanaka gostava de testar seus limites. “Sempre preferi lutar e competir com adversárias fortes. Sentia prazer nesse desafio. Admirava judocas tecnicamente mais fortes que eu e, à medida que evoluía, queria ser como elas.”

Shiho Tanaka, campeã mundial de judô em 2025 © Gabriela Sabau / FIJ

Entre suas maiores inspirações está uma colega de universidade. “A judoca que mais me inspirou foi uma companheira da minha universidade chamada Yasumatsu. Treinava com ela todos os dias e ela era muito forte. É minha principal referência nos tatamis e a pessoa que mais admiro.”

Quando questionada sobre qual conselho deixaria às novas gerações, Tanaka foi simples, mas profundamente assertiva. “O mais importante é amar o judô. Se você continuar amando, se tornará não só um judoca melhor, mas também uma pessoa melhor. Então sempre dê o seu melhor.”

Shiho Tanaka está vivendo o auge da sua trajetória — mas com os pés no chão e o coração no lugar certo. Em Budapeste, ela deu o melhor de si, conquistou o mundo e reafirmou seu amor pelo caminho que escolheu trilhar.

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