22 de dezembro de 2024
Somente a união em torno de uma nova proposta pode garantir o futuro da Educação Física
A consolidação definitiva do sistema CONFEF/CREFs passa diretamente pela retomada da confiança e a união de dirigentes e profissionais na construção de uma entidade forte
Gestão
11 de dezembro de 2020
Por PAULO PINTO
Curitiba – PR
Esta semana, às vésperas da eleição, foi marcada pela enxurrada de acusações e denúncias, supostos desmandos financeiros e decisões judiciais envolvendo Jorge Steinhilber, presidente do sistema CONFEF/CREFs, e o candidato Cláudio Augusto Boschi, presidente CREF6/MG.
A exatos quatro dias do pleito histórico da próxima terça-feira, dia 15, buscamos fazer uma reflexão mais ampla sobre a situação que poderá resultar em enorme impacto positivo ou prejuízo gigantesco para a Educação Física. Profissionais que nas duas últimas décadas, visando a prestar melhores serviços à sociedade, aperfeiçoaram-se em mestrados e doutorados após a graduação, assistem perplexos à deterioração dos valores morais e princípios éticos que constituíam os pilares da classe.
Várias ilicitudes – malversação de recursos, uso da máquina para manter o poder e autoritarismo – são atribuídas aos dois dirigentes, criticados por serem ultrapassados e retrógrados na gestão da Educação Física do Brasil.
Verdades e mentiras à parte, o tom subiu e o nível do debate despencou, evidenciando de um lado a assustadora e incontrolável ira dos acusadores e, de outro, o desprezo e a desfaçatez dos dirigentes acusados.
Demonstrando claramente enorme despreparo, em sua defesa Jorge Steinhilber e sua assessoria centralizaram a narrativa no ataque aos seus adversários. Em nenhum momento o dirigente contestou as acusações e tampouco desmentiu as denúncias feitas a Cláudio Boschi, candidato apoiado por ele. O presidente do conselho federal limitou-se a tentar desqualificar seus acusadores, baixando ainda mais o nível do embate.
Mais grave ainda foi o professor Jorge classificar as acusações feitas diretamente a ele de ataques sistemáticos ao sistema CONFEF/CREFs. Isso não procede. Errados ou certos, seus opositores atacam decisões e ações pessoais dele. Steinhilber não é o CONFEF, assim como o conselho federal não é Steinhilber. Não se confunda a entidade jurídica com a pessoa física. Por mais que o dirigente queira eximir-se, o alvo é a gestão dele.
Lembrando claramente o imperador francês Luís XIV – autor da célebre frase “o Estado sou eu” –, Steinhilber busca personalizar o CONFEF como se ele e a autarquia fossem uma entidade única.
Aliás, em muitas coisas Steinhilber se parece com Luís XIV: o reinado do monarca francês durou 72 anos, o mais longo da história da humanidade. Foi um dos líderes da crescente centralização de poder na era do absolutismo europeu.
Irresponsavelmente, nestas duas décadas Jorge Steinhilber transformou o CONFEF numa espécie de autarquia totalitarista, fazendo com que os profissionais de Educação Física e a sociedade servissem aos interesses daqueles que comandam o sistema, enquanto o certo seria que o Conselho Federal de Educação Física servisse à sociedade.
Lamentavelmente o dirigente máximo do conselho federal vive no passado e volta e meia se intitula o criador do sistema. Mas ele não criou nada sozinho. Em vários Estados, muitos colaboradores que nem tiveram seus nomes escritos na história trabalharam para consolidar a profissão da qual Steinhilber se crê proprietário. Se ele investiu recursos próprios na campanha para regulamentação da profissão, os altos salários que vem acumulando ao longo dos últimos 22 anos certamente compensaram o investimento. A conta zerou.
Sem falar que muitas pessoas tiraram dinheiro do bolso para bancar o processo de legalização do sistema e jamais se tornaram sequer conselheiros. Muita gente participou da luta que consolidou a profissão. Sem desmerecer os demais, foram os seis primeiros conselhos regionais que, com seus 2 mil integrantes, viabilizaram a existência do sistema. Todos os personagens que participaram dessa luta fazem parte da história. O professor Steinhilber escuda-se numa prerrogativa falsa, fundamentada numa titularidade absolutista que não se sustenta.
Os opositores de Jorge Steinhilber talvez tenham pecado na forma de fazer as denúncias, mas desgraçadamente não mentem. A gestão está ultrapassada e mergulhada em vícios e erros primários, como a contratação de serviços midiáticos ao custo de R$ 8 milhões anuais. Por mais que se busque auxiliar o dirigente, não há como fazê-lo.
O futuro e a alternativa viável
Voltando ao tema central da nossa reportagem, entendemos que o caldo definitivamente azedou para a atual gestão que, com o devido respeito por tudo que foi construído nos últimos 30 anos, precisa entender que chegou a hora da aposentadoria.
Quando confrontamos o alto nível de qualificação atingido pelos profissionais de Educação Física com a atual gestão arcaica e retrógrada da entidade que os representa, vemos claramente o abismo que os separa de Jorge Steinhilber, Cláudio Boschi e dirigentes que os apoiam.
Além da omissão no tocante às verdadeiras necessidades dos profissionais de Educação Física, ainda há o envolvimento em escândalos e denúncias de corrupção. Nada disso condiz com a realidade de uma classe que cresceu e clama por um novo caminho, o qual possa trilhar conduzida por uma gestão moderna e voltada para o futuro.
Se os atuais dirigentes que hoje apequenam a Educação Física realmente amassem a profissão que lhes deu oportunidades e excelente qualidade de vida, certamente renunciariam às suas pretensões insanas, fariam um acordo com postulantes comprometidos com pensamento novo e plural e passariam o bastão, saindo dignamente pela porta da frente do Conselho Federal de Educação Física.
Caso isso não aconteça, o estrago deverá ser enorme. Certamente pouca coisa restará de uma autarquia gigantesca e promissora que, devido à ambição desmedida de seu dirigente máximo e seus seguidores, sucumbirá e irá exaurir-se pura e simplesmente por falta de oxigênio. Só a tão necessária renovação de ar trará a liberdade que a democracia proporciona às organizações e instituições que lutam para que seus profissionais ganhem espaço em todos os setores da sociedade.
Desejamos que o processo eletivo transcorra de forma idônea e lícita, e que a Educação Física do Brasil não mergulhe em um infindável processo judicial, o que certamente acarretará maior prejuízo para toda categoria.