22 de dezembro de 2024
Sucesso do judô nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos faz matrículas nos dojôs aumentarem expressivamente
Na capital e no interior paulista, fãs de todas as idades e classes sociais se inspiram nos medalhistas, impulsionando a popularidade e aumentando a busca da prática do judô.
Por Paulo Pinto / Global Sports
11 de setembro de 2024 / Curitiba, PR
O ouro olímpico de Beatriz Souza no judô acirrou ainda mais o interesse pelo esporte, que, de acordo com a Federação Paulista de Judô, no pós-pandemia registra um crescimento orgânico anual de cerca de 10%. A expectativa é que, em 2025, a entidade atinja a marca de 17 mil atletas filiados.
Nos Jogos Olímpicos de Paris, os judocas paulistas conquistaram três medalhas na competição individual: ouro com Beatriz Souza na categoria peso-pesado (+78kg), prata com Willian Lima (-66kg) e bronze com Larissa Pimenta (-52kg).
Na disputa por equipes mistas, São Paulo contou com Larissa Pimenta, Beatriz Souza, Willian Lima e Rafael Silva, o Baby, atletas de diferentes categorias de peso mas que têm em comum o fato de representarem o Esporte Clube Pinheiros. Com exceção de Baby, os outros três voltaram de Paris com duas medalhas.
Judô paralímpico brilha em Paris
Com quatro ouros, duas pratas e dois bronzes, o judô paralímpico brasileiro fez história nos Jogos Paralímpicos de 2024, liderando o quadro de medalhas da modalidade e superando grandes potências, como Ucrânia, China, Japão e Cazaquistão. O Brasil consolidou sua posição como a maior força do judô paralímpico mundial.
Além dos números expressivos, o que realmente cativou o público foi o talento dos paratletas na Champ-de-Mars Arena, especialmente Alana Maldonado, que garantiu seu segundo ouro paralímpico. Alana já havia conquistado a prata no Rio 2016 e o ouro em Tóquio 2020 na categoria até 70kg (classe J2).
Outra estrela foi Rebeca Silva, de São Bernardo do Campo, que conquistou seu primeiro ouro ao derrotar a cubana Sheyla Hernandez, sagrando-se campeã na categoria +70kg (classe J2).
As demais medalhas foram conquistadas por: Arthur Cavalcante, judoca potiguar, que garantiu o ouro na categoria -90kg (classe J1); Willians Silva de Araújo, paraibano, vencedor do ouro no +90kg (classe J1); Brenda Freitas, carioca, que assegurou a prata nos -70kg (classe J1); a sul-mato-grossense Érika Zoaga, que obteve a segunda medalha de prata do Brasil no +70kg (classe J1); o gaúcho Marcelo Casanova, bronze nos -90kg (classe J2); e a potiguar Rosicleide de Andrade, completando a lista de medalhistas com o bronze nos -48kg (classe J1).
Inspirando novas gerações
As conquistas dos atletas brasileiros em Paris inspiraram pessoas de todas as idades. Luiz Eduardo Camargo, de 15 anos, conta que decidiu voltar a treinar após acompanhar as disputas durante os Jogos Olímpicos. “Eu assisti a todas as lutas, desde a manhã. Mas eu gostei mais da Bia, que trouxe a medalha de ouro”, explica o jovem judoca.
Em Bauru, no interior de São Paulo, crianças de várias faixas etárias e níveis sociais se inspiraram nos medalhistas brasileiros, lotando as academias da cidade, em alguns casos até superando a capacidade delas.
O professor Nerival Cervantes da Silva, com 37 anos de experiência na modalidade, coordena um projeto social em Bauru que oferece aulas gratuitas de judô. Ele confirma o aumento nas inscrições, que, em apenas uma semana, chegaram a 20, gerando uma lista de espera.
“As Olimpíadas são um incentivo enorme, principalmente por causa da visibilidade. E, por ser o esporte que mais trouxe medalhas para o Brasil, o judô chama muita atenção, especialmente entre as crianças”, comenta o professor.
Recém-matriculada em um projeto social de Araraquara, a jovem Desire Martins de Almeida chegou ao dojô após ter visto as conquistas de Larissa Pimenta e Beatriz Souza. “Torci e vibrei muito com as vitórias das duas, e achei que o judô tinha tudo a ver comigo. Já até ganhei um kimono do professor”, comemora.
Igor Goulart Mattos aguarda vaga num projeto em Itatiba para começar no esporte que conheceu durante os Jogos de Paris. “Eu ouvia falar de judô, mas não sabia muito sobre o que era e como funcionava. Vi algumas lutas na Olimpíada e dei a sorte de assistir a algumas vitórias dos brasileiros, o que me incentivou a procurar um lugar para treinar. Meu primo me falou dessa escola, e agora estou muito ansioso para começar”, afirma.
Projetos sociais em alta
O professor Cléber do Carmo ocupa um cargo diretivo na Federação Paulista de Judô, mas há alguns anos compreendeu a importância e a amplitude social dos projetos comunitários. Atualmente, ele está à frente de iniciativas em 67 municípios, distribuídos por cinco estados: São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
Segundo Cléber, o desempenho de destaque dos judocas brasileiros, tanto nos Jogos Olímpicos quanto nos Paralímpicos, será um impulsionador significativo para o crescimento da modalidade no Brasil. “Esses resultados elevam a visibilidade do judô, principalmente entre os jovens, inspirando novas gerações a buscar o esporte”, afirma Cléber. Ele acredita que o judô tem a capacidade de transformar vidas, tanto pelo seu valor educativo e disciplinar quanto pela inclusão social que proporciona por meio de projetos em áreas vulneráveis. “A repercussão dessas conquistas, associada ao trabalho de base que já realizamos, fará o número de praticantes crescer exponencialmente nos próximos anos.”
O dirigente entende que os Jogos Olímpicos sempre foram uma excelente vitrine para a difusão da prática esportiva em todas as modalidades, com destaque, é claro, para os esportes vitoriosos, como o judô. “Em Paris, tivemos a sorte de ir muito bem nos Jogos Olímpicos e melhor ainda nos Paralímpicos”, afirma o sensei Cléber. “Essa visibilidade certamente provocará um boom nas escolas e dojôs de judô, pois a exposição midiática foi gigantesca. Contudo, o mais importante nesse processo foi o fato de as crianças brasileiras perceberem que é possível competir de igual para igual e conquistar resultados expressivos. Nossos medalhistas elevaram a autoestima das nossas crianças, passando uma mensagem positiva de esperança e transformação. E isso com certeza terá reflexos nas escolas.”
Hoje, os projetos coordenados por Cléber do Carmo atendem mais de 6 mil crianças e empregam 103 pessoas, entre elas faixas-pretas, profissionais de educação física, psicólogos e pedagogos.
“Temos núcleos em APAEs de três Estados, e nossas atividades confirmam o pensamento de que o esporte transforma e promove a inclusão. O judô, em particular, é uma modalidade com grande potencial transformador, acolhendo de verdade aqueles que buscam nova oportunidade.”
“Tenho certeza de que, após Paris, o judô será uma das modalidades mais procuradas pelas crianças. Vencemos de maneira brilhante nas Olimpíadas, e nossos judocas fizeram história nos Jogos Paralímpicos de Paris.”
Judô em ascensão em Ourinhos
Localizada na região Sudoeste do Estado de São Paulo, a 370 km da capital, a cidade de Ourinhos também foi fortemente impactada pelo legado dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos.
“Após o fenômeno das Olimpíadas e Paralimpíadas de Paris, o judô em nossa cidade teve grande procura por parte de crianças, jovens e adultos. Registramos um aumento de aproximadamente 30% em nossas turmas, o que, em números, equivale a cerca de 30 novos alunos distribuídos nos três períodos de aulas”, explicou o sensei Átila Castro da Silveira.
O dojô de Ourinhos é resultado de uma parceria entre as iniciativas pública e privada, envolvendo a Secretaria Municipal de Esportes de Ourinho e a Associação Ourinhense de Bem-Estar.
O professor Átila relatou dois fatos peculiares: “Um fato interessante ocorrido com a turma da manhã foi que, por meio de um aluno já praticante de judô, cinco de seus amigos, que frequentam a mesma escola, matricularam-se após as Olimpíadas. Eles ficaram impressionados com o desempenho dos judocas e decidiram iniciar a prática. Outro ponto relevante é que muitos adultos que não puderam praticar judô na infância estão começando agora, impulsionados pelo efeito pós-Olímpico e Paralímpico.”
Faixa preta go-dan (5º dan), Átila Castro acredita que o “efeito Paris” continuará atraindo novos praticantes ao judô: “Em todas as edições dos Jogos Olímpicos, o judô brasileiro conquista medalhas, mas jamais tivemos uma participação tão bem-sucedida quanto em Paris. Isso, sem dúvida, contribuirá para um crescimento sustentado do judô em São Paulo e no Brasil”, explicou Átila, que concluiu destacando que o sensei Sérgio Shizuo Matuzaki sho-dan (1º dan), também é membro da equipe.
Legado duradouro
O judô brasileiro, tanto olímpico quanto paralímpico, não apenas alcançou resultados históricos em Paris, mas também serviu como poderosa fonte de inspiração para milhares de jovens em todo o País. As conquistas dos atletas elevaram o prestígio da modalidade e fomentaram a expansão de projetos sociais, reforçando o papel do judô como uma ferramenta de inclusão e desenvolvimento humano.
Com o crescente interesse pelo esporte e a visibilidade global, o judô brasileiro está preparado para consolidar sua posição entre as modalidades mais procuradas e respeitadas no cenário nacional, proporcionando um legado duradouro de sucesso e transformação social.