Sumio Tsujimoto mostra desconhecer meandros da gestão com discurso vazio e incoerente

Além de criticar o que vem sendo feito e tem dado certo na federação, nenhuma proposta foi anunciada © Fotomontagem Budôpress

Sumio se recusa a reconhecer o ineditismo da candidatura do medalhista olímpico Henrique Guimarães, afirmando que se trata continuísmo da gestão Francisco de Carvalho.

Por Paulo Pinto / Global Sports
16 de junho de 2024 / São Paulo (SP)

Professor kodansha conceituado e bastante respeitado por sua trajetória nos tatamis e comprometimento com os princípios do judô, Sumio Tsujimoto participou do podcast do Boletim Osotogari, cujo entrevistador prometia, além do anúncio oficial da candidatura dele à presidência da Federação Paulista de Judô, a revelação de projetos e uma boa conversa sobre política e administração.

Medalhista de bronze (56kg) nos Jogos Pan-Americanos de Havana (1991), representando as cores do Brasil e do Esporte Clube Pinheiros, clube que militou como atleta e coordenador técnico por pelo menos 30 anos, mesmo após sua aposentadoria como atleta da divisão veteranos Sumio Tsujimoto edificou uma trajetória vencedora fundando a Escola de Judô Kito, referência pela estrutura sofisticada que remete quem o visita ou frequenta a um dojô genuinamente japonês.

Espiritualidade e clarividência

Após dissertar por infindáveis 72 minutos sobre suas convicções religiosas, Sumio divagou sobre questões conceituais que envolveram aspectos físicos, mentais, espirituais e até ecológicos. Abordou profundamente temas como energia cósmica e as leis do universo, integrando esses conceitos com princípios fundamentais do judô, como sei-ryoku-zenio (máxima eficiência com mínimo esforço) e jita-kyoei (benefício mútuo e prosperidade).

Ratificando todo o seu conhecimento ecumênico, afirmou explicitamente que, sob uma visão cósmica, somos matéria, mas, na verdade, somos sementes que devem germinar para depois virarmos divindades, ratificando

Ao enunciar a clara presença de numes e outros elementos do plano espiritual relacionados por ele, à prática do judô, sensei Sumio demonstrou vasto conhecimento em assuntos esotéricos. Seu discurso revelou compreensão profunda sobre energia cósmica e espiritualidade, mostrando como esses elementos podem ser harmoniosamente integrados ao judô.

No entanto, ficou evidente que ele não possui, nem mesmo remotamente, o mesmo nível de conhecimento sobre administração e gestão desportiva.

Incongruências

Aos 45 anos Tsujimoto ainda disputava torneios na classe sênior e brigava por medalhas em meio à garotada. Posteriormente, passou a competir na classe veteranos e era um dos professores kodanshas mais laureados, em face do refinamento técnico que adquiriu com Fuyu Oide, seu sensei e primeiro professor kodansha kyuu-dan (9º dan) do Brasil, que formou dezenas de ases do judô no icônico Lapa Judô Clube.

Contudo, mesmo competindo até os 60 anos, no podcast afirmou taxativamente que, na sua escola, ele não ensina os alunos a competirem porque o shiai é contra a sua linha de trabalho. “Hoje entendo que a competição é apenas uma vertente da modalidade”, disse o sensei, que é graduado em Educação Física.

“A administração de uma entidade esportiva, seja ela pequena, média ou grande, não pode ser pensada a partir de revanchismos ou atos de vingança.”

Tsujimoto disse também que durante cinco anos foi responsável pelo curso de Filosofia e História no Centro de Aperfeiçoamento Técnico (CAT) da FPJudô, na gestão Mateus Sugizaki. Acadêmico, visionário e expoente da modalidade, o professor Sugizaki foi um dos senseis mais intelectualizados do cenário nacional, porém jamais foi presidente da entidade. Buscando criar narrativas com o claro intuito de apagar a gestão Francisco de Carvalho, subliminarmente Sumio buscou deixar entendido que jamais fez parte e apoiou a administração do sensei Chico.

Sumio fez ainda severas críticas ao sistema contemporâneo de ensino do judô, que prioriza 100% a competição em detrimento dos demais segmentos, como formação e desenvolvimento humano, atividade física como ponto de equilíbrio e socialização.

Ao criticar o papel das federações esportivas de toda e qualquer modalidade, o professor kodansha e líder da chapa Renova Judô demonstrou desconhecer quais atributos são verdadeiramente essenciais para que uma federação esportiva funcione de maneira eficiente, promovendo o crescimento e o desenvolvimento da modalidade que representa. Ele ignora a importância de elementos essenciais como:

  • Regulação e governança;
  • Promoção e desenvolvimento do esporte;
  • Treinamento e capacitação;
  • Fomento da prática esportiva;
  • Organização de competições;
  • Campeonatos e torneios;
  • Apoio aos atletas e clubes:
  • Suporte técnico e logístico;
  • Representação institucional;
  • Representação legal;
  • Parcerias e patrocínios;
  • Gestão financeira;
  • Transparência financeira;
  • Captação de recursos;
  • Infraestrutura;
  • Instalações esportivas;
  • Apoio logístico;
  • Comunicação e marketing;
  • Divulgação do esporte;
  • Responsabilidade social;
  • Projetos sociais;
  • Inovação e modernização;
  • Novas tecnologias e a atualização contínua;
  • Adaptação às novas tendências e necessidades do esporte e da sociedade.

Espírito revanchista

Com agudo espírito revanchista, Sumio Tsujimoto criticou o processo político que culminou na candidatura do sensei Mateus Sugizaki, que, em dado momento, se retirou e passou o posto para outra lenda do judô verde e amarelo, o sensei Miguel Suganuma, que havia sido vice-presidente na gestão Hatiro Ogawa.

Voltado para o passado, Sumio afirmou que Francisco de Carvalho não honrou um compromisso político assumido, o que acabou gerando uma chapa de oposição, na qual ele figurava como vice-presidente. E se contradisse mais uma vez afirmando que “os rapazes” que atualmente fazem a gestão técnica da federação são muitos bons, jovens e talentosos, e que a sua ideia é melhorar ainda mais. “Em termos de condição de espaço, de formas diferentes. Nós temos de subir a régua sempre”, disse o candidato.

Subjetividades à parte, Tsujimoto só não revelou o que pretende fazer e como vai melhorar aquilo que ele afirmou taxativamente já estar muito bom.

“Ah, mas eles procuram melhorar? Melhorou?”, questionou Sumio. “Sim, mesmo estando afastado por um bom tempo vejo que melhorou e muito. Está tudo muito bem organizado. O problema é que essa gestão é continuidade daquilo que havia há 20 anos, e tudo pode ser diferente com cabeças novas e pensantes”, cutucou.

É espantoso perceber como o professor Tsujimoto olha para o passado, ignora o que acontece no presente e negligencia tudo que o futuro demanda. A administração de uma entidade esportiva, seja ela pequena, média ou grande, não pode ser pensada a partir de revanchismos ou atos de vingança.

Política não é para amadores

Na sequência, afirmou que o processo eleitoral de 2005, do qual participou como vice da chapa, foi uma armadilha. Reclamou também que a votação aberta foi intimidatória, esquecendo-se de que isso é uma norma estatutária. Sobre a armadilha, lembramos apenas que política não é para amadores.

Contudo, Sumio lamentou terem tido uma votação muito ruim na ocasião e totalmente diferente daquilo que esperavam, ou seja, esqueceram de combinar com os russos e, na visão dele, a culpa foi da situação. Descolando-se da história, afirmou que foi Miguel Suganuma que havia indicado sensei Chico para assumir a gestão, mas a história conta que a indicação e o convite foram feitos pelo professor Sérgio Adib Bahi, ex-presidente da União Pan-Americana de Judô (UPJ) e vice-presidente da Federação Internacional de Judô (FIJ) que naquele momento era o interventor indicado pela CBJ.

Descontinuação

Ainda voltando a fazer uma crítica velada à gestão Francisco de Carvalho Filho, citou a falta de alternância de poder, no que concordamos totalmente com ele. Mas falar que a administração recém-interrompida de Alessandro Puglia não se fundamentou na inovação e no ineditismo é faltar totalmente com a verdade, pois jamais se registraram tamanho crescimento e tal quantidade de modernização em todos os setores administrativos da FPJudô.

Sensei Sumio afirmou categoricamente que a candidatura do medalhista olímpico Henrique Serra Azul Guimarães é continuísmo da gestão Francisco de Carvalho Filho. Além de fazer uma afirmação infundada, omitiu que jamais na história do Brasil um medalhista olímpico candidatou-se ao cargo de presidente de uma federação de judô. Não aceitar que a eventual eleição de Guimarães é algo inédito e pioneiro é completa falácia.

Criando factoides

Irresponsavelmente, mais uma vez o entrevistador Everton Monteiro deu luz ao processo que amadoristicamente ele e os candidatos do grupo Renova Judô batizaram de “a dívida”, apontando o perigo que a dívida deixada pela gestão Francisco de Carvalho representa para o futuro do judô paulista.

Utilizou recentes decisões proferidas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), que glosou uma série de itens de projetos realizados em 2014 e 2015 pelo governo paulista com a FPJudô, que precisam ser resolvidos e equacionados seja por qual diretoria que estiver à frente da entidade.

Maldosamente e irresponsavelmente, entrevistador e entrevistado buscaram criar um factoide malicioso para prejudicar até o trabalho do grupo de gestores que está à frente da intervenção e busca equacionar o problema junto ao TCU da melhor forma possível.

“Diferentemente daquilo que o sensei Tsujimoto crê ou imagina, a FPJudô não é uma instituição filantrópica ou de caridade.”

Desconhecem os meandros da gestão, fazem acusações levianas e entorpecem professores desavisados com falsas promessas e planos mirabolantes que jamais poderão ser realizados, como permitir que todos os faixas-pretas tenham direito a voto. Ou seja, prometem mudar a estrutura administrativa do desporto olímpico nacional, que garante o direito do voto exclusivamente aos clubes e agremiações federados.

Somente mentes irresponsáveis e maldosas usariam um fato distorcido e irreal para afirmar que a negociação feita pelos atuais gestores da entidade poderia subjetivamente inviabilizar o judô paulista no futuro. Como Sumio tem o hábito de afirmar, isso não é coisa de judoca e muito menos jornalismo decente. É fofoca barata!

Fora da casa

De forma absolutamente ingênua, Tsujimoto afirmou que a Federação Paulista de Judô deveria custear e auxiliar as associações e professores menos favorecidos, desestruturados e até mesmo carentes. Disse que a entidade cobra valores iguais de grandes e pequenas agremiações, uma bobagem sem tamanho, já que a FPJudô é a única federação estadual do Brasil que possui três divisões justamente para atender a todos de forma equitativa e inclusiva. Essa afirmação, por si, mostra claramente quão desatualizado e desinformado sobre o atual momento do judô paulista está o candidato a presidente da chapa Renova Judô.

Quanto aos professores carentes, em todos estes anos no jornalismo esportivo jamais tínhamos ouvido falar desta classe de senseis. Alguém precisa avisar sensei Sumio que a FPJudô se propõe a fazer apenas gestão esportiva. Diferentemente daquilo que ele crê ou imagina, a entidade não é uma instituição filantrópica ou de caridade.

Até para o Keisei no Michi – curso de formação de instrutores de judô realizado em parceria com o Cref4/SP que já formou mais de uma centena de instrutores em apenas duas turmas – sobraram críticas equivocadas e errôneas, o que lamentavelmente expôs que o conhecimento de Sumio Tsujimoto e seus pares sobre o que se faz atualmente na modalidade é extremamente raso. Primeiro, ele elogia a qualidade e a excelência do conteúdo apresentado no curso; depois, aponta erros – sorrindo.

Propostas zero

Dos exaustivos 98 minutos de podcast, 70 foram dedicados às crenças do sensei Sumio e 28 à política, mas além de criticar o que vem sendo feito e tem dado certo na federação, nenhuma proposta foi anunciada.

Nada, absolutamente nada, foi apresentado aos que tiveram a paciência de ouvir um professor que foi exemplar como atleta, mas, na política, tem-se mostrado incapaz de ler claramente o que gira à sua volta.

É o criticar por criticar. É apontar o dedo sem indicar um caminho. Não era isso que o pessoal verdadeiramente preocupado com o judô paulista esperava do grupo que nasceu a serviço de interesses externos e não se conforma com os resultados das urnas.

Seus integrantes atacam cegamente tudo que se opõe ao projeto deles. Primeiro criticaram a gestão do professor Chico, depois a de Alessandro Puglia, para na sequência denegrirem o trabalho realizado pelos interventores. Recentemente buscaram melar a eleição realizada no dia 29 de maio, e fizeram de tudo para inviabilizar a votação. Não participam das assembleias nem dá quase totalidade de cursos promovidos.

São ausentes e omissos, mas criticam os que trabalham e são presentes. A inércia e o imobilismo deles são proporcionais à capacidade que demonstram de criticar todos os que agem em prol do judô, culminando no absurdo de terem reprovado a equipe da intervenção, instituída por iniciativa deles.

Criticam a atuação dos interventores junto ao Tribunal de Contas do Estado e procuram invalidar o processo de forma irresponsável e inconsequente. O que nos permite mais uma vez concluir que o que querem mesmo é tumultuar um processo que, para eles, está irreversivelmente perdido. Por isso fazem pressão na base do quanto pior, melhor. E lamentavelmente ainda há pessoas que levam tudo isso a sério.

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