Tóquio celebra um Grand Slam histórico e reafirma o Japão como o centro do judô mundial

Iponzasso de Nagayama Ryuju © Feliciantonio Emanuele / FIJ

Com domínio técnico avassalador, 37 pódios e 11 ouros, Japão encerra o World Tour 2025 no topo, enquanto o Brasil confirma evolução e fecha a temporada como maior força das Américas.

Por Paulo Pinto / Global Sports
Curitiba, 9 de dezembro de 2025

O sol ainda nem havia rompido por completo sobre a capital japonesa quando o Ginásio Metropolitano de Tóquio começou a pulsar como um grande coração do judô mundial. Em poucas horas, cada queda, cada ukemi e cada saudação ecoaria por um templo esportivo que vive e respira aquilo que o mestre Jigoro Kano sonhou: a união perfeita entre excelência técnica e formação humana.

O Park24 Group Tokyo Grand Slam 2025 não foi apenas mais uma etapa do circuito — foi um espetáculo de refinamento, concentração e disciplina que só o judô japonês é capaz de oferecer em sua plenitude. Desde o primeiro kumi-kata até o último ippon, a energia foi a de um país que não compete apenas para vencer, mas para honrar um legado cultural que moldou gerações dentro e fora do dojô.

Na final do peso ligeiro (-60kg), Hayato Kondo levou a melhor sobre Taiki Nakamura e conquistou o ouro para o Japão © Feliciantonio Emanuele / FIJ

Nesta edição, Tóquio mostrou ao mundo por que continua sendo a capital espiritual do judô. Mostrou por que seus atletas, treinados dentro de um sistema que combina método, tradição e filosofia, são capazes de transformar combates em demonstrações de arte elevada ao mais alto nível. E mostrou, sobretudo, por que nenhum outro país integra tão profundamente o judô à sua identidade.

Japão impecável e imbatível

O Japão liderou o quadro de medalhas desde o início; até aí nenhuma surpresa. O interessante, porém, é que as delegações internacionais trouxeram consigo um grupo dos judocas corajosos e determinados.

Diante do esperado domínio japonês, o resto do mundo compareceu, valorizando o desafio, a oportunidade de se superarem em busca da excelência — e não é a ideia de se aprimorar uma grande parte do motivo pelo qual estamos todos aqui? Jigoro Kano shihan via isso como o caminho para a criação de uma sociedade melhor. Portanto, no contexto deste Grand Slam, encontramos novos judocas como um exemplo brilhante de excelência, da filosofia do judô e de força mental.

Pódio masculino dos -66kg 100% japonês: Hifumi Abe conquista o ouro, seguido por Kairi Kentoku, enquanto Shinsei Hattori e Takeshi Takeoka dividem o bronze © Gabriela Sabau / FIJ

Curiosamente, apenas quatro países conquistaram medalhas de ouro: Japão, República da Coreia, Geórgia e Federação Russa, evidenciando o altíssimo nível competitivo em Tóquio. Coincidentemente, três dos países que obtiveram o ouro estão situados na Ásia; somente a Rússia — país transcontinental — possui uma pequena parte do território na Europa, embora sua maior extensão esteja na Ásia.

A disputa reuniu 303 atletas de 41 países e cinco continentes. O Japão inscreveu 56 judocas e totalizou 37 pódios, desempenho que reafirma sua supremacia técnica e profundidade de elenco.

Top Five

1º Japão (11 ouros, 11 pratas, 15 bronzes)

Nos tatamis nada mudou e, por ter sido o país anfitrião, o Japão pôde inscrever até quatro atletas por categoria de peso, e não deu outra. Os anfitriões ficaram com 11 das 14 medalhas de ouro em disputa, também abocanharam 11 das 14 de prata e mais 15 bronzes dos 28 distribuídos na competição.

O Japão dominou todos os aspectos da competição. Além dos 11 ouros, assegurou um número expressivo de pódios em praticamente todas as categorias. O equilíbrio entre jovens talentos e atletas experientes tornou a equipe japonesa inalcançável.

2º Federação Russa (1 ouro, 1 prata, 3 bronzes)

A vice-campeã desembarcou em Tóquio com uma equipe de 23 judocas e conquistou cinco medalhas. O ouro russo veio no peso pesado masculino (+100kg) Endovitskii Valerii, confirmando a tradição da Rússia nas categorias mais pesadas. A prata surgiu no peso médio feminino (-70kg) com Taimazova Madina, com desempenho sólido nas fases preliminares, além de três bronzes que ajudaram a consolidar a segunda colocação geral.

3º República da Coreia (1 ouro, 1 prata, 1 bronze)

Com uma delegação composta por 26 atletas, a Coreia conquistou o ouro no peso pesado feminino (+78kg) Lee Hyeonji, a prata também no peso pesado feminino (+78kg) com Kim Hayun, e o bronze no peso ligeiro masculino (-57kg) com Lee Harim. Os coreanos mantiveram sua característica explosividade e precisão técnica, garantindo presença no Top 3.

4º – Geórgia (1 ouro e 2 bronzes)

Competindo com apenas 13 atletas, a Geórgia mostrou novamente a força de seu judô de agarre e domínio de pegada. Conquistou o ouro no meio-pesado masculino (-90kg) com Sulamanidze Ilia e dois bronzes, confirmando sua tradição e eficiência, mesmo com uma equipe numericamente reduzida.

5º – Portugal (1 prata)

Portugal viajou à Ásia com quatro judocas e voltou para casa com uma importante medalha de prata conquistada pela meio-pesado Patrícia Sampaio (-78kg), que teve atuação brilhante até a final. Com desempenho seguro e crescente no cenário internacional, Portugal encerrou no quinto posto. 

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Campeões japoneses em Tóquio

Masculino

  • -60kg – Kondo Hayato (JPN)
    • -66kg – Abe Hifumi (JPN)
    • -73kg – Tanaka Ryuga (JPN)
    • -81kg – Oino Yuhei (JPN)
    • -90kg – Murao Sanshiro (JPN)

Feminino

  • -48kg – Koga Wakana (JPN)
    • -52kg – Abe Uta (JPN)
    • -57kg – Omori Akari (JPN)
    • -63kg – Kaju Haruka (JPN)
    • -70kg – Tanaka Shiho (JPN)
    • -78kg – Ikeda Kurena (JPN)

Brasil no topo da América

Mesmo indo a Tóquio com uma delegação formada por apenas seis atletas, o Brasil terminou na 14ª colocação e foi o país melhor classificado das Américas na competição.

Os brasileiros que foram a Tóquio: Willian Lima (-66kg), vice-campeão olímpico; Larissa Pimenta (-52kg), bronze em Paris 2024 — individual e por equipes mistas; Shirlen Nascimento (-57kg), medalhista mundial; Michel Augusto (-60kg), destaque no Circuito Mundial da FIJ; Marcelo Fronckowiak (-90kg), medalhista internacional; e Nauana Silva (-63kg) — bicampeã pan-americana com vários pódios em Grand Prix.

O Brasil encerrou a disputa na 14ª colocação graças ao 5º lugar de Larissa Pimenta no meio-leve e aos 7º lugares de Shirlen Nascimento no leve e Michel Augusto no ligeiro.

Japão como essência e destino do judô

Tóquio mais uma vez reafirmou por que o Japão é — e continuará sendo — o coração do judô mundial. A prática do judô está enraizada na estrutura cultural japonesa: disciplina, etiqueta, filosofia, método e respeito se fundem à excelência técnica. É impossível separar o país da modalidade; o judô integra a formação educacional, o comportamento coletivo e a identidade nacional.

A temporada de 2025 do World Tour se encerra em solo japonês, e independentemente do resultado deste Grand Slam, é impossível ignorar o ciclo extraordinário vivido pelo Brasil. Foi uma das melhores campanhas internacionais de nossa história recente, com evolução técnica, regularidade em pódios e amadurecimento competitivo às vésperas do início da corrida olímpica para Los Angeles 2028.

O ano termina, mas o espírito de Jigoro Kano nos lembra: o judô não conhece fim — apenas pequenas pausas e novos começos.

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