20 de novembro de 2024
Tragédia no ar: o Judô e a Educação Física perdem Edilson Hobold, um dos professores mais conceituados e experientes do Paraná
Vítima do acidente aéreo ocorrido no início da tarde de sexta-feira, o árbitro FIJ A, professor universitário e diretor da Associação de Judô Fujiyama de Marechal Cândido Rondon, Hobold atuou nas principais competições do judô mundial e deixa legado gigantesco para a arbitragem brasileira.
Por Paulo Pinto / Global Sports
9 de agosto de 2024 / Curitiba, PR
No início da tarde desta sexta-feira (9) um avião da Voepass Linhas Aéreas, com 61 pessoas a bordo, caiu num condomínio de casas no município de Vinhedo (SP) e lamentavelmente não houve sobreviventes.
A aeronave turboélice seguia de Cascavel, no Oeste do Paraná, para Guarulhos (SP) sem nenhuma restrição de voo, com todos os seus sistemas em funcionamento, segundo a empresa.
Entre os passageiros estava o renomado professor kodansha Edilson Hobold, árbitro FIJ A, que rumava para Salvador (BA), onde atuaria no Campeonato Brasileiro Sub 21.
Quem foi Edilson Hobold
Nascido em Medianeira (PR) em 16 de fevereiro de 1972, Edilson Hobold edificou sua vida nos tatamis. Fundou a Associação de Judô Fujiyama em 23 de julho de 1991. Era professor efetivo do curso de Educação Física da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) desde 1995. Mestre pela UFSC de Florianópolis, doutorou-se em biomecânica do movimento e esporte pela Unicamp de Campinas.
Realizou seu exame para FIJ A em setembro de 2011 em Sydney, na Austrália, e em entrevista concedida à revista Budô no mesmo ano Hobold revelou que um de seus maiores orgulhos enquanto árbitro foi ter sido examinado pelas duas maiores autoridades da arbitragem mundial da época: o espanhol Juan Carlos Barcos, diretor-geral de arbitragem da Federação Mundial de Judô (FIJ), e o australiano Carlos Knoester, diretor de arbitragem da União de Judô da Oceania e membro da comissão de arbitragem da FIJ.
Edilson Hobold atuou por mais de uma década em grandes certames, como a Olimpíada Mundial Universitária (Universíade), e em eventos do World Tour da FIJ, como grands prix; grand slams, e em campeonato pan-americano, copas do mundo e seletivas olímpicas, entre outros.
Coordenador estadual de arbitragem
Em paralelo a sua atuação na arbitragem nacional e internacional, sensei Edilson foi por muitos anos o coordenador de arbitragem da Federação Paranaense de Judô, comandando uma equipe composta pelos principais árbitros do Paraná na época. Nomes como Reinaldo Francisco, Victor César Moreira, Francisco de Souza, Lauro Azuma, Jorge Yokoyama e Roberto Ossamu Okano compuseram a excelente equipe de árbitros comandada por ele.
O presidente da FPrJ na época, professor kodansha Luiz Hisashi, Ywashita, lamentou a morte precoce de uma das principais referências técnicas da arbitragem do Estado do Paraná.
“O sensei Hobold externou enorme comprometimento pelos destinos do judô no nosso Estado. Tudo que se propunha a fazer era sempre muito bem realizado. Ele foi um dos diretores mais proativos e comprometidos da nossa gestão e um dos maiores entusiastas da difusão da formação acadêmica no cenário judoísta.”
Para Ywashita, o professor Hobold foi um dos melhores árbitros do Brasil e sempre dedicou enorme atenção a todos os assuntos que envolviam a arbitragem e à docência do judô. “Ele foi um judoca na acepção da palavra e deixa um legado gigantesco para nossa modalidade”, disse o ex-dirigente paranaense que finalizou destacando o trabalho social desenvolvido por Hobold.
“Além de ter sido um expoente no desenvolvimento técnico e de arbitragem de toda a região Oeste do Paraná, o professor Hobold sempre enfatizou conteúdos relevantes para a formação do cidadão, como a educação, respeito, disciplina, higiene, saúde e cidadania. O que mais buscou em sua trajetória nos tatamis, não foram as conquistas e medalhas, mas a contribuição educacional e disciplinar que a modalidade oferece aos alunos. Este é o maior exemplo que ele buscou deixar para seus alunos.”
“Em nome de toda a comunidade de judô, expresso nossas mais profundas condolências à sua família e amigos. O professor Edilson era mais do que um árbitro renomado; ele era uma inspiração e um mentor para muitos no nosso esporte. Sua dedicação e paixão pelo judô deixaram uma marca indelével que será eternamente lembrada. Neste momento de dor, nos solidarizamos com todos aqueles que tiveram a sorte de conhecê-lo e aprender com ele”, concluiu o professor Iwashita.
Protagonismo acadêmico expressivo
Outro campo no qual Edilson Hobold desenvolveu grande protagonismo foi na área acadêmica, onde formou milhares de Profissionais de Educação Física no campus da Universidade Estadual do Oeste do Paraná em Marechal Cândido Rondon.
Ouvimos um dos inúmeros alunos formados por ele na Unioeste e também em seu dojô, o professor go-dan Gustavo Chaves Brandão, presidente do Conselho Regional de Educação Física da 9ª Região Estado do Paraná que, profundamente consternado, falou sobre a tragédia que abalou os ambientes acadêmico e judoísta, do Oeste do Paraná.
“Mestre em Educação Física e doutor em biomecânica do movimento, ele foi um dos precursores do judô e da Educação Física no Oeste do Paraná e formou muita gente em ambos os ambientes. Eu mesmo cheguei a Marechal Cândido Rondon em 1998 para cursar Educação Física, quando ainda era faixa amarela. Além de ser seu aluno na Unioeste, ele foi meu sensei e me formou faixa preta sho-dan. Sua morte é uma tragédia para o judô e para a Educação Física da nossa região”, disse o dirigente.
“Quando nada ainda era dito sobre a nossa profissão, foram os professores Edilson Hobold e Vítor César Moreira que falarem sobre a importância da criação do CREF9/PR. Minha relação acadêmica com ele pautou a minha vida e a de milhares de jovens.”
“Meu sensei era um exemplo de dedicação e perseverança. Uma pessoa muito comprometida, focada e de moral elevada. Foi um excelente árbitro, um excelente formador de atletas, de judocas e de pessoas preparadas para enfrentar as adversidades da vida. Ele já estava prestes a se aposentar na Unioeste, onde era docente há quase 30 anos.”
Brandão concluiu falando em nome da instituição. “Neste momento de dor, o CREF9/PR expressa suas condolências à família, amigos e colegas de profissão. Que suas memórias e contribuições à Educação Física e ao judô sirvam de inspiração para todos.”
O professor Dartagnan Guedes, 1º vice-presidente do CREF9/PR, acrescentou: “Edilson foi meu aluno num curso de especialização. Também participei de sua banca de doutorado na Unicamp. Seu falecimento é uma grande perda. Que Deus conforte sua família e amigos.”
O professor Edilson Hobold deixa esposa Cristiane Rabaiolli Hobold e os filhos Gabriel Hobold, Ariane Hobold e Ana Hobold.