Transmissão ao vivo pelo SporTV revela novo momento do karatê olímpico

Na final do +84kg, José Henrique Gomes (SP) e Nicolas Natan (PR) fizeram um duelo de gigantes

Com respaldo do olimpismo e de uma gestão de marketing arrojada e proativa, o karatê, uma das modalidades recentemente incorporadas ao programa olímpico, se reinventa e é alçado ao cenário midiático esportivo nacional.

Campeonato Brasileiro De Karatê
19/10/2017
Por PAULO PINTO | Fotos BUDOPRESS/CBK
Lauro de Freitas – BA

A história do karatê no Brasil passou a ser escrita a partir dos anos 1950, eminentemente no Rio de Janeiro e São Paulo, mas rapidamente disseminou-se por todo o País. Nos últimos anos este movimento começou a perder fôlego e ceder espaço para modalidades esportivas menos expressivas e com menor apelo filosófico e pedagógico. A tão sonhada inclusão no programa olímpico, porém, fez surgir um universo de possibilidades e atraiu os holofotes para este esporte, que reúne hoje mais de 1,4 milhão de adeptos e está entre os mais praticados do País.

Os cearenses Breno Mateus e Rayoll Mendes protagonizaram um dos melhores combates na final do -67kg

Com a vinda de imigrantes japoneses formados na Universidade Takushoku (Takudai) ou na Japan Karate Association (JKA), a Arte das Mãos Vazias propagou-se velozmente em quase todos os Estados, com maior ênfase em São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Paraná, Pernambuco e Bahia, tornando-se logo um dos esportes de combate mais populares do Brasil.

Foi assim que um contingente gigantesco de seguidores marchou ao lado de mestres com olhos rasgados – como os senseis Juichi Sagara (SP), Yasutaka Tanaka (RJ), Mitsusuke Harada (SP), Tetsuma Higashino (DF), Eisuke Oishi (BA), Sadamu Uriu (RJ) e Hayashi Kawamura (PE) – e disseminou a modalidade por todo o País. O resultado prático desta aventura cultural nipo-brasileira tornou o Brasil a maior potência da modalidade no continente americano e uma das grandes forças do karatê mundial da atualidade.

Mais uma vez, as catarinenses Valeria Kumizaki e Sabrina Zefino fizeram uma luta marcante na final do -55k

Agora, meio século depois, mais precisamente no sábado (14 de outubro), o esforço e o suor de toda esta gigantesca legião de karatecas precursores foram premiados com um fato inédito e histórico, que certamente deverá mudar o destino da modalidade: a realização da primeira transmissão ao vivo de uma disputa de karatê na televisão brasileira.

Por meio do canal SporTV, o Campeonato Brasileiro de Karatê pôde ser visto por centenas de milhares de aficionados, atingindo um índice de audiência significativo, o que garantiu a realização de nova transmissão ainda este ano, na mesma emissora.

O evento promovido pela Confederação Brasileira de Karatê, idealizado e executado pela MCSports, reuniu 2.800 karatecas no Centro Pan-Americano de Judô, em Lauro de Freitas (BA), e projetou a modalidade a um cenário midiático jamais imaginado por seus praticantes.

Superando todas as marcas

Não foi apenas no campo da comunicação que as marcas surpreenderam e foram superadas. Nos tatamis o número recorde de atletas inscritos na fase final evidenciou o crescimento de 15% na quantidade de participantes.

As duas arquibancadas e a tribuna de honra do Centro Pan-Americano de Judô foram totalmente tomadas e receberam mais de 3.500 pessoas nos quatro dias de disputa. Os hotéis e pousadas do município de Lauro de Freitas ficaram totalmente ocupados devido ao número extraordinário de participantes que foram à Bahia acompanhados por familiares.

Em paralelo ao evento houve uma movimentada feira de fabricantes de materiais esportivos, que reuniu 12 empresas e marcas distintas.

A CBK realizou uma assembleia geral extraordinária, promoveu exames e alinhamento de dans, além do seminário para técnicos credenciados, no qual fizeram palestras científicas Roberto Nahon, coordenador médico do Comitê Olímpico do Brasil, Alessandra Dutra, psicóloga responsável pela preparação mental de atletas do COB, e Alexandre Collucci, fisioterapeuta da seleção brasileira de karatê. No campo técnico houve palestras dos técnicos Ricardo Aguiar, Diego Spigolon, Ulisses Santos, Vanderlei Oliveira e Eurico Schopchaki, além do congresso técnico de arbitragem.

Júlia Krüger (SC) e Manuella Guimarães (SE) fizeram uma final eletrizante no -50kg

No último dia do evento foi entregue o uniforme oficial aos atletas da seleção brasileira que disputarão o campeonato mundial cadete, júnior e sub 21, em Tenerife, na Espanha, na última semana de outubro.

Gestores e atletas avaliam novo formato do evento

Maurício Carlos dos Santos, executivo do Centro Pan-Americano de Judô (CPJ), prevê que a partir de agora o karatê olímpico viverá outro momento e experimentará enorme exposição e crescimento.

“Esta foi a primeira transmissão ao vivo do karatê enquanto esporte olímpico brasileiro, e esta difusão foi feita no mais alto nível. O que havia de mais moderno em marketing esportivo, transmissão de TV e entretenimento foi utilizado nesta transmissão. Vários paradigmas foram quebrados e isto deverá mudar a história da modalidade daqui por diante”, afirmou o executivo do CPJ.

Natália Brozulatto (SP) e Bianca Mafra (SC) fizeram uma grande final no -68kg

Bastante impressionado com os números da modalidade e do certame propriamente dito, Maurício Carlos acentuou que este foi o maior certame realizado no CPJ.

“O Centro Pan-Americano de Judô foi entregue há três anos e meio, e nossa gestão à frente dele está completando seis meses, mas sem dúvida alguma este foi o evento de maior público e participação realizados no CPJ até aqui. E olha que nós já realizamos campeonatos mundiais, desafios internacionais, campeonatos nacionais e internacionais. Mas nada se comparou ao brasileiro de karatê, que até agora superou todas as expectativas”, disse.

Douglas Brose (SC) e Rafael Nascimento (MG) fizeram uma grande final no -60kg

Em sua avaliação final o executivo do CPJ pontuou que o centro de treinamento da Confederação Brasileira de Judô pode atender a todas demandas do setor esportivo.

“A mesma avaliação foi feita pela SUDESB, e a grandeza do evento reside não apenas no número de praticantes, mas na diversidade de ações e desdobramentos da competição. Tivemos um programa completo, que abrangeu a competição, seminários, cursos, uma feira, um congresso e uma assembleia. Diferentes esferas da cadeia esportiva foram recebidas aqui, que é um pouco a história do centro pan-americano, uma arena multiuso pronta para ser utilizada em qualquer performance esportiva”, concluiu Maurício Carlos.

As finais do sênior foram realizadas no padrão de eventos da World Karate Federation

Na avaliação de Willian Cardoso, diretor técnico da CBK, a transmissão do campeonato brasileiro ao vivo coroou o evento, que foi um divisor de águas na modalidade.

“Este foi o maior evento realizado pela CBK, no qual recebemos karatecas de 27 Estados, dos quais 24 subiram ao pódio. Isso comprova que nosso crescimento acontece de forma homogênea e não localizada em poucas regiões. Superamos todas as expectativas e a transmissão ao vivo pelo SporTV 2 coroou esta realização. Estamos iniciando a era olímpica em altíssimo nível e fazendo uma gestão do tamanho do nosso País”, prognosticou o diretor técnico da CBK.

 

Mais uma vez, a equipe masculina de kata da Bahia exibiu grande performance e levou o título

O dirigente detalhou que o êxito do certame foi fundamentado na fusão das três forças que interagiram mutuamente.

“Entendo que o sucesso deste evento é fruto da fusão de três forças que se uniram com o intuito de fortalecer e projetar a modalidade: a gestão, que desde 2013 vem construindo um grande alicerce para o karatê do Brasil; atletas, técnicos e dirigentes estaduais, que estão conseguindo erguer este grande prédio por conta do alicerce muito bem fundamentado; e a união com a MCSports, que com a expertise de sua equipe de profissionais do marketing esportivo está fazendo o acabamento e ornamentando este edifício, que em breve se tornará um arranha-céu”, projetou Cardoso.

Na avaliação de Douglas Brose, bicampeão mundial no -60kg, a experiência inédita foi altamente gratificante e nivelou o Brasil com o que há de melhor no mundo na realização e promoção de eventos.

“Esta qualidade era o que faltava. Sempre que eu ia competir na Europa e me deparava com uma realização como esta eu dizia que o Brasil tinha de atingir este patamar de organização e qualidade, já que este cenário faz com que o atleta se sinta mais envolvido e prestigiado. Uma coisa é lutar com meia dúzia de pessoas assistindo e outra é competir sabendo que está sendo observado por milhões de espectadores dentro e fora do Brasil, e esta pressão e projeção midiática precisam ser vivenciadas e treinadas pelo atleta, para não travar quando chegar a hora decisiva”, disse. O bicampeão mundial também foi enfático quando avaliou a qualidade do evento. “Já em nossa primeira experiência neste formato atingimos o padrão WKF. O cenário, a organização e a execução do certame foram muito bons.”

Fazendo grande apresentação, a equipe feminina de kata do Estado de São Paulo ficou com o ouro

Bastante emocionada na cerimônia de premiação, a vice-campeã mundial de kumitê e campeã dos Jogos Pan-Americanos no -53kg, Valéria Kumizaki, enalteceu a qualidade do evento.

“A estrutura disponibilizada foi maravilhosa e pela primeira vez vivenciamos no Brasil algo no padrão do que é feito pela World Karatê Federation. Minha emoção se deve à morte de meu sensei, que ainda é muito recente. Queria muito que ele estivesse vivo para apreciar tudo o que experimentamos aqui hoje. Entramos numa nova era do karatê brasileiro e queria muito que meu professor presenciasse este momento”, lamentou Valéria.

As duas arquibancadas e a tribuna de honra do Centro Pan-Americano de Judô foram totalmente tomadas pelos karatecas e seus familiares

Para Breno Mateus Teixeira, campeão mundial juvenil de kumitê no -61kg, as finais que tiveram transmissão ao vivo mostraram o mesmo profissionalismo dos certames realizados pela World Karate Federation.

“Tecnicamente falando, a competição foi muito boa e mostrou alto nível competitivo. Não houve luta fácil. Sobre a qualidade do cenário das finais realizadas na manhã de sábado, acredito que superamos os eventos da federação mundial”, disse o karateca cearense.

Elias Nunes Dourado, diretor geral da Sudesb, o deputado federal Daniel Almeida e Maurício Carlos dos Santos, executivo do Centro Pan-Americano de Judô

A última avaliação foi feita por Luiz Carlos Cardoso do Nascimento, presidente da CBK, que agradeceu o apoio recebido da Confederação Brasileira de Judô.

“Em nome de toda a diretoria da CBK quero agradecer ao presidente da CBJ, Sílvio Acácio Borges, que apoiou e recebeu a nossa competição em sua casa. Além de ser uma modalidade coirmã, o judô é o esporte com maior retrospecto olímpico e entendemos que para atingir grandes objetivos temos de seguir o modelo da gestão de eventos, e principalmente do marketing, da CBJ. Acompanhamos a realização do Campeonato Mundial de Luta Olímpica e todo trabalho desenvolvido nos eventos de televisão do judô. Queríamos adotar este modelo de sucesso também no karatê e não podíamos errar. Fomos atrás de Maurício Carlos dos Santos, o executivo que havia feito esse trabalho no judô, responsável por todo este progresso, e felizmente deu certo”, comemorou o dirigente.

 

Osmar Negreiros, Antonio Carlos Negreiros, Luiz Carlos Cardoso e Thiago Dimas fizeram a entrega da premiação aos campeões e vices do feminino

Osmar Negreiros, Antonio Carlos Negreiros, Luiz Carlos Cardoso e Thiago Dimas fizeram a entrega da premiação aos campeões e vices do masculino