19 de dezembro de 2024
Treinamento de campo para técnicos e atletas marca novo momento do judô paulista
Iniciativa que visa a melhorar a qualificação dos professores, com apoio do CREF4/SP, tem caráter experimental, mas em breve deverá integrar os principais eventos da FPJudô
Por Paulo Pinto / FPJCOM
18 de maio de 2022 / São Paulo (SP)
Como anunciado em abril, a coordenação técnica da federação deu início ao novo ciclo de competições com valor agregado, ou seja, que, além da disputa de pontos para o ranking paulista, oferecerão aprendizado e crescimento técnico aos judocas e técnicos inscritos nos certames.
Por meio de treinamentos de campo e palestras específicas para os técnicos, a FPJudô pretende elevar e padronizar o judô paulista até mesmo nos locais mais remotos do Estado. A primeira experiência realizou-se no Campeonato Paulista Sub 18 de 2022, em São Bernardo do Campo – e deu certo, na avaliação de todos os envolvidos.
No dia 14 de maio, durante o encontro de técnicos do Campeonato Paulista Sub 18, o presidente Alessandro Puglia lançou o projeto Keisei no Michi – Caminhos da Formação – O Judô transformando Vidas, em parceria com o Conselho Regional de Educação Física da 4ª Região (CREF4/SP).
No programa da competição, realizada no Ginásio Poliesportivo de São Bernardo do Campo, Puglia apresentou a proposta de preparação profissional elaborada em conjunto pelas comissões Científica e do Judô Escolar da Federação Paulista de Judô.
Após a abertura dos trabalhos, foram convocados o professor doutor Alexandre Janotta Drigo, coordenador da Comissão Científica da FPJudô e delegado do CREF4/SP, e o professor mestre Fernando Ikeda, coordenador da Comissão de Judô Escolar, que fizeram a palestra de lançamento da primeira fase do projeto aos técnicos de judô.
Drigo explicou que o projeto destina-se a melhorar a qualificação para prestação de serviços relacionados ao judô em diferentes áreas, a começar pelos eixos técnico, escolar e judô adaptado para pessoas com limitações. Por isso, o curso de Formação de Instrutores de Judô foi o primeiro ser apresentado, por ser a base comum de qualificação para todas as áreas, dando alicerce, sustentação e nivelamento de conhecimento para todos os eixos.
O professor Ikeda observou que o curso tem caráter de introdução à preparação profissional de técnicos ou professores, estimulando o ingresso dos futuros faixas-pretas na carreira profissional. Destina-se aos faixas-marrons e interessados, acima de 15 anos, que tenham ensino médio incompleto.
“Esta ação busca melhorar a prestação de serviços relacionados ao judô, com ênfase no desenvolvimento pessoal e profissional de futuros faixas-pretas, proporcionando melhor visão de mercado da carreira profissional e possibilidades de emprego na área específica. Com isto, ao completar a base comum do curso, o aluno receberá a classificação de instrutor de judô, que o qualifica a tornar-se auxiliar, sob supervisão de técnico ou professor responsável”, disse Fernando Ikeda.
Para o professor Drigo, o judô de São Paulo é muito forte tecnicamente e não requer grandes ajustes. “Por isto centramos as mudanças na preparação para o trabalho e prestação de serviços para sociedade. Neste sentido, a intenção das comissões é oferecer conteúdo para melhorar a capacitação dos jovens judocas no que se refere a gestão, conhecimento do corpo humano e pedagogia do esporte direcionada ao judô.”
“FPJudô dá o primeiro passo para preparação profissional de jovens judocas.”
No evento, falou também o professor mestre Douglas Eduardo de Brito Vieira, medalha de prata na Olimpíada de Los Angeles em 1984, que apresentou resultados da pesquisa realizada com quase mil técnicos do judô paulista. Uma das necessidades mais apontadas pelos participantes foram os cursos de capacitação, coincidindo com o pensamento dos dirigentes da FPJudô.
“A pesquisa nos proporcionou grande embasamento para otimizar todas as ações que envolvem o estudo, o ensino e a prática do judô. Isso abrange inclusive a questão de trabalhar melhor o judô em todos os espaços do Estado de São Paulo, onde as distâncias entre as sedes regionais geralmente são muito grandes”, disse Vieira. “Temos de trabalhar as ações inter-regionais e estimular o intercâmbio entre as nossas filiadas, objetivando melhorar a qualidade das associações. A maioria dos atletas vêm dessas agremiações, então, precisamos dar maior atenção para o trabalho que é feito nelas, verificar as condições das escolas, estimular as inscrições na federação e até mesmo avaliar relação delas com os nossos delegados.”
Vieira salientou ainda que a maioria dos treinadores é muito nova e ainda atua nas fases regional e estadual. “Para acelerar a evolução, nada melhor do que promover encontros nos quais possamos trocar ideias, mostrar um pouco daquilo que conhecemos e, principalmente, saber do que eles precisam. Temos de nos organizar e enviar técnicos para os mais diversos pontos do Estado, trocar conhecimento e trazer esse pessoal para trabalhar com a gente. Acho que isso é bastante importante para o judô de São Paulo. Além disso, há a questão da capacitação dos professores e técnicos, que considero estratégica tanto sob o ponto de vista profissional e de mercado quanto sob um olhar competitivo. Temos de avançar na qualificação e fazer com que o pessoal possa estudar e se aprofundar um pouco mais naquilo que envolve os fundamentos técnicos do judô.”
Outra questão apresentada no evento foi a participação do professor kodansha Hatiro Ogawa como consultor técnico. Na avaliação dos coordenadores e do presidente Puglia, ele vai contribuir imensamente com o projeto. O professor Drigo lembrou que as traduções do japonês contam com a participação dos senseis Ogawa e Akio Shiba.
Perspectivas positivas
O coordenador da Comissão de Judô Escolar, Fernando Ikeda, considerou muito bom o encontro com os técnicos. “O traçado do projeto que apresentamos não diverge dos resultados da pesquisa com os técnicos. Urge a necessidade de pensar na formação dos professores e técnicos de judô. Tenho plena convicção de que o projeto logrará êxito e, de forma justa e perfeita, irá alavancar a modalidade no Estado.”
Alessandro Puglia mostrou-se bastante otimista. “A palestra dos professores Drigo e Ikeda vai proporcionar um alinhamento jamais realizado com os professores, mas para que isso aconteça plenamente é necessária mais divulgação, é claro. Este foi o ponto de partida de um processo de capacitação que se constitui numa oportunidade muito grande para olharmos o futuro do judô de forma mais integrada e profissional.”
O presidente da FPJudô destacou o importante apoio do CREF4/SP neste primeiro projeto voltado para instrutores, e espera alcançar com ele a comunidade que hoje trabalha em escolas, clubes e academias. “Acredito que os jovens buscarão este importante caminho para o mercado de trabalho, no qual serão inseridos como instrutores e professores. Todos aqueles que participarem desse novo processo receberão um documento de aptidão que os qualificará para atuar em clubes, escolas, academias e órgãos públicos, com aval da FPJudô e do CREF4/SP.”
Já os treinamentos de campo, na avaliação de Puglia, vão contribuir para o crescimento técnico dos filiados. “Entendo que o primeiro deles, em São Bernardo, representa um marco no judô paulista, pois conseguimos trazer grandes professores e atletas comprometidos em melhorar a qualidade do trabalho de cada entidade. Teremos neste fim de semana o Open Ajinomoto, no qual realizaremos outro treinamento, e estamos certos de que esta iniciativa terá efeito extremamente positivo para o judô paulista.”
Avaliação técnica
O primeiro treinamento de campo da FPJudô recebeu cerca de 120 atletas e 30 técnicos e treinadores de várias regiões do Estado, mas Douglas Vieira, que comandou o evento, lamentou a ausência de instrutores das áreas mais remotas.
“Não conseguimos atingir todos os pontos do Estado. Entendemos que isso se deu principalmente devido ao custo de permanecer mais um dia fora de casa, mas técnicos e atletas devem considerar a participação um investimento. A relação custo benefício tem de ser avaliada. O treino foi bom, deu para focar os aspectos técnicos, com ênfase na sequência que ocorre na luta, ou seja, a pegada, o movimento, a entrada do golpe, a transição para o chão e a finalização no solo.”
Esse procedimento repetiu-se várias vezes com todos os atletas, que depois se dividiram em dois grupos, feminino e masculino, que trabalharam o randori de quatro minutos com pausas também de quatro minutos. “Os participantes vieram conversar comigo e acharam o treino muito bom”, acrescentou Vieira. “Fiquei feliz porque nós tínhamos lá vários professores que trabalham no alto rendimento e atletas olímpicos que hoje atuam como professores e se mostraram bastante interessados e comprometidos com este novo momento do judô paulista.
Marco Aurélio Uchida também falou sobre o encontro. “Tivemos um feedback muito positivo dos professores, que fizeram perguntas e deram várias sugestões, até mesmo para a realização de exames. Repetiremos tudo isso neste fim de semana, em Ribeirão Preto, no Ajinomoto Open, e depois no Campeonato Paulista Sub 21. Na sequência faremos uma avaliação das três etapas e, aí sim, planejaremos o futuro.”