Um paralelo entre a presença expressiva do público na Eurocopa e as limitações nos Jogos Olímpicos

Estádio Nacional de Tóquio no Japão © AFP

Enquanto a final da Euro 2021 está prevista para ser disputada num estádio com 60 mil torcedores – 75% da capacidade –, estrangeiros sequer poderão entrar no Japão durante a Olimpíada

Por Helena Sbrissia e Paulo Pinto
1º de julho de 2021 / Curitiba (PR)

O ano de 2020 foi marcado pelo cancelamento, adiamento e reprogramação de diversas competições esportivas ao redor do mundo. Enquanto o formato sem público foi adotado pela maioria delas, com atletas submetidos constantemente a testes de covid-19, alguns eventos, como os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, a Copa América e a Eurocopa tiveram de ser adiados para o ano seguinte, principalmente por envolver muitos esportistas de diversos países.

Em 2021, portanto, as organizações responsáveis iniciaram os trabalhos para que protocolos de segurança fossem desenvolvidos e possibilitassem a realização dos eventos esportivos adiados. Até o momento, as competições futebolísticas ocorrem sem maiores problemas e as Olimpíadas parecem encaminhadas para acontecer do mesmo jeito. A única diferença entre os eventos é um fator talvez tão importante quanto o desempenho esportivo em si: a participação contagiante do público.

Na Eurocopa e na Copa América, dois extremos se apresentam. Enquanto a competição europeia consegue concentrar-se no futebol que é praticado, a sul-americana sofre porque seu país sede, o Brasil, enfrenta pandemia de coronavírus pior do que em 2020 – já são mais de 516 mil mortes e a taxa de transmissão está em 0,98, segundo dados divulgados pelo Imperial College, de Londres. Os estádios, portanto, estão silenciosos, pois a presença do público está completamente vedada.

A arena da partida entre a Inglaterra e Alemanha estava praticamente tomada © Instagram UEFA Euro

Já a Eurocopa tem um cenário diferente. Marcando os 60 anos da competição, a União das Federações Europeias de Futebol (UEFA) projetou um torneio distribuído em dez nações, dando dinamismo aos jogos. Diferentemente da competição sul-americana, a europeia conta com público nos estádios – e esse se tornou, inclusive, o maior protagonista da competição.

Em abril deste ano, a UEFA anunciou as cidades-sede da Eurocopa e a quantidade de torcedores que os estádios poderiam receber de acordo com a realidade sanitária e a projeção de cada país em relação à pandemia. Confira os dados referentes ao público, à vacinação e aos novos casos de covid-19 em cada sede:

  • Amsterdã (Holanda): 25% a 33% da capacidade no estádio.

Nos Países Baixos, 34,8% da população já receberam as duas doses da vacina contra o coronavírus, enquanto pelo menos 58,1% já tomaram, ao menos, a primeira dose. A média de casos dos sete dias anteriores a 29 de junho foi de 591.

  • Baku (Azerbaijão): 50% da capacidade no estádio.

No Azerbaijão, os dados são menos animadores, já que apenas 12,5% da população estão totalmente vacinados. Contudo, a média de novos casos dos últimos sete dias considerados é de cerca de 50.

  • Bucareste (Romênia): 25% a 33% da capacidade no estádio.

A Romênia registrou, nos últimos sete dias, média de 53 novos casos. Já em termos de vacinação, 23,2% já estão totalmente vacinados e imunes à covid-19.

  • Budapeste (Hungria): 100% da capacidade no estádio.

Na Hungria, que promete bater 100% da capacidade de seu estádio sede da Eurocopa, 50,3% da população já foram completamente vacinados, enquanto pelo menos 56% tomaram, ao menos, a primeira dose. A média de novos casos dos últimos sete dias foi de 56.

  • Copenhague (Dinamarca): 25% a 33% da capacidade no estádio.

Na Dinamarca, 56,5% dos habitantes já receberam pelo menos a primeira dose da vacina contra o coronavírus, enquanto 32,5% estão completamente imunes. O país registrou média de 197 novos casos da doença nos últimos sete dias.

  • Glasgow (Escócia): 25% a 33%; Londres (Inglaterra): 25% da capacidade nos estádios.

Em todo o Reino Unido, a média de novos casos dos últimos dias é de 17,6 mil. Contudo, 66,9% dos moradores já receberam pelo menos uma dose da vacina contra o coronavírus.

  • Munique (Alemanha): 22% da capacidade no estádio.

Na Alemanha, 36,6% da população já foram completamente imunizados contra a covid-19, enquanto 54,6% receberam a primeira dose, ao menos. A média de casos no país nos últimos sete dias foi de 585.

  • Roma (Itália): 25% da capacidade no estádio.

A média de novos casos de covid-19 na Itália foi de 691 nos últimos sete dias, enquanto 56% de seus habitantes já receberam pelo menos uma dose e 30,5% estão completamente vacinados contra o vírus.

  • São Petersburgo (Rússia): 50% da capacidade no estádio.

Na Rússia, 12% da população estão completamente vacinados contra a covid-19, enquanto a taxa de novos casos nos últimos sete dias foi de 20 mil.

  • Sevilha (Espanha): 30% da capacidade no estádio

Centro aquático olímpico de Tóquio 2020 © AFP

A média, nos últimos sete dias, foi de 4,4 mil casos. Em termos de vacinação, contudo, 36,4% dos moradores estão completamente vacinados, enquanto 53,3% já receberam pelo menos a primeira dose.

Contudo, com o decorrer da competição, as projeções foram ficando mais otimistas. As semifinais e a final, em Wembley, em Londres, terão ocupação de 75% – ou seja, cerca de 60 mil pessoas poderão comparecer aos jogos decisivos. As partidas serão realizadas nos dias 6, 7 e 11 de julho, e esse público será o maior num evento esportivo no país em mais de 15 meses.

O público deverá apresentar, além do ingresso, um teste de covid-19 negativo ou um comprovante de vacinação completa. O tempo de imunização deve ser de pelo menos 14 dias após a segunda dose. “Sou grato ao primeiro-ministro e ao governo do Reino Unido por seu árduo trabalho na finalização desses acordos conosco, para tornar as etapas finais do torneio um grande sucesso em Wembley”, foram as palavras de Aleksander Ceferin, presidente da UEFA.

As autoridades europeias discursam sobre o aval de permissão para que a Euro 2020 pudesse contar com o apoio do público presencialmente, argumentando que se trata de uma estratégia para a recuperação da confiança dos países-sede e um incentivo à economia.

Por outro lado, no dia 21 de junho deste ano, o comitê organizador das Olimpíadas de Tóquio anunciou que haverá presença limitada do público nas competições. Foi estabelecido um limite de 50% da capacidade das instalações, contudo, limitando o número máximo de pessoas a 10 mil. As regras podem mudar a qualquer momento, dependendo da situação da covid-19 no Japão até a abertura dos jogos.

Diversos protocolos foram adotados para que todos que comparecerem às Olimpíadas tenham a maior segurança possível. “As máscaras serão usadas nos locais em todos os momentos; falar em voz alta ou gritar será proibido; a aglomeração de pessoas será prevenida por meio de anúncios apropriados; e os visitantes deverão deixar os locais de forma escalonada”, segundo uma das diretrizes da organização.

As semifinais e a final, em Wembley, em Londres, terão ocupação de 75% – ou seja, cerca de 60 mil pessoas deverão comparecer aos jogos decisivos © UEFA via Getty Images

Apesar de as recomendações serem praticamente as mesmas, na Euro 2020, contudo, é possível constatar que os protocolos não estão sendo seguidos. No jogo entre Inglaterra e Alemanha, por exemplo, pelas oitavas de final da competição, o estádio de Wembley teve presença massiva de torcedores ingleses e alemães, e quase ninguém usava máscara de proteção; o distanciamento social era de bem menor do que o exigido – 1,5 metro.

Na semana passada, Tóquio tinha mudado a situação da pandemia para um estado de quase emergência, que seria estabelecido até o dia 11 de julho. Isso faz parte de uma série de medidas de prevenção contra a disseminação da covid-19, já que, no dia 18 de junho, um grupo de especialistas apresentou um relatório ao governo japonês e ao comitê organizador com os cuidados que deveriam ser tomados durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos.

Até o dia 29 de junho, 22,9% da população japonesa já haviam recebido ao menos a primeira dose da vacina, enquanto 11,6% estavam totalmente vacinados. A média de casos novos, nos últimos sete dias anteriores a 29 de junho é de 1,5 mil.

Foi a partir desses dados que o comitê organizador homologou a decisão de proibir estrangeiros de assistirem aos Jogos Olímpicos, sendo que a entrada deles, de maneira geral, será proibida no país enquanto durar a competição.

Seiko Hashimoto alegou que, embora haja a certeza de que as Olimpíadas seriam mais seguras sem a presença do público, os organizadores farão tudo o que estiver ao alcance deles para receber torcedores com segurança nos lugares em que se realizarão as competições.

“Dado que outros eventos esportivos estão sendo realizados com espectadores, acho que também é trabalho da Tóquio 2020 continuar procurando maneiras de entender e diminuir os riscos de infecções na Olimpíada até termos esgotado todas as possibilidades”, declarou Hashimoto.

Torcer e vibrar é parte intrínseca do jogo e parece que os dirigentes ocidentais entendem que é premente retomar todas as formas atividade o mais rapidamente possível.