Índia ganha importância na difusão do legado de Hidetaka Nishiyama na Ásia

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Embora novo, o Conselho de Karatê Tradicional da Índia já se tornou um grande aliado da ITKF numa vasta porção do continente asiático

ITKF Global
17 de novembro de 2020
Por PAULO PINTO I Fotos ARQUIVO TCKI
Curitiba – PR

Fundado no ano passado, o Conselho de Karatê Tradicional da Índia (TKCI) mal teve tempo de iniciar suas atividades. Depois de realizar seu primeiro torneio nacional em janeiro, quase teve de parar tudo em função da covid-19, mas reagiu rapidamente. Rajnish Kumar, fundador da entidade, conta como tem sido esse começo.

Rajnish Kumar, presidente da TKCI

“Realizamos nosso primeiro torneio nacional em janeiro, em memória do sensei Vizzy Singh, falecido em 2003 com quem quase todos os membros seniores da TKCI iniciaram a jornada no karatê. No fim de fevereiro, fomos atingidos pela covid-19 e tivemos de refazer nossos planos. Começamos a ministrar aulas online para todos os nossos alunos e organizamos um seminário técnico virtual com o importante apoio do sensei Justo Gomez.”

O seminário obteve grande sucesso, com mais de 500 karatecas indianos inscritos. Kumar assegura que os resultados foram excelentes, com elevado nível de satisfação de todos os participantes. “Isto fez crescer nosso respeito, admiração e gratidão pelo sensei Justo Gómez e por sua luta, tal qual Hidetaka Nishiyama, incansável em seu trabalho para popularizar e difundir o karatê tradicional por todo o planeta. Além disso, é humilde, alegre e domina uma didática espetacular, cativando uma multidão de seguidores aqui na Índia”, completou.

Sensei Jitesh Kumar comandando treino

Em seguida, a TKCI organizou mais dois seminários técnicos, nos quais o número de participantes aumentou, ambos sem custo, pois a entidade tem como princípio ético que o aprendizado jamais deve parar, seja por falta de dinheiro, de recursos ou pela pandemia.

O projeto da federação indiana para 2021 é cristalino. “Já temos nosso caminho definido”, adiantou Kumar. “Estamos trabalhando de forma muito agressiva em toda a Ásia, região sobre a qual a Índia tem uma forte influência. Queremos trazer mais países para a ITKF, ajudando a levar adiante o sonho do sensei Nishiyama. Pouco a pouco os países vizinhos estão juntando-se a nós com muito entusiasmo. Conhecemos e entendemos a demografia geopolítica, financeira e econômica da região, por isso temos muito sucesso em nossa iniciativa e tenho certeza que, com nosso esforço, vamos estabelecer um marco em nossa proposta social e esportiva.”

Professores Rajnish Kumar, Jitesh Kumar e Ishwar Thapa

O Traditional Karate Council of India agrega hoje cerca de 2.500 karatecas filiados e 14 atletas do alto rendimento altamente capacitados para participar de eventos internacionais. São 12 clubes, 28 dojôs e quase 20 escolas filiadas à organização. Cerca de 90% dos alunos são crianças e jovens em idade escolar, pois a entidade, além de ensinar karatê, entende a necessidade de prepará-los para a vida.

Ao avaliar o trabalho da ITKF, Rajnish Kumar destaca que o karatê tradicional já é muito popular no mundo, graças ao trabalho desenvolvido pelo sensei Nishiyama ao longo da vida. “O momento atual pode muito em breve transformar-se num gigantesco movimento mundial de federações unidas. É o que observamos com o ótimo trabalho realizado pela ITKF que hoje é comandada pelo professor doutor Gilberto Gaertner, que está fazendo uma excelente gestão. De nossa parte, estamos ajudando, com um forte trabalho na região asiática.”

Faixas-pretas treinando kihon

O dirigente indiano acredita que é preciso estimular a organização para que a mensagem do shihan Nishiyama seja transmitida e que todos possam ter acesso à prática do Karate for Life. Para isso, deve-se ter uma visão da situação estrutural e econômica global das instituições que fazem a gestão do karatê tradicional.  Por exemplo, na Ásia, há muitas diferenças que só podem ser superadas por líderes que conheçam as particularidades de cada país. “Caso contrário, seria um fracasso institucional certo ao qual não nos podemos arriscar devido à delicada instabilidade política financeira que todas as instituições e organizações esportivas vivem hoje, em função da pandemia”, explicou.

A Índia é o segundo país mais populoso do mundo e exerce grande influência em toda a região. “É por isso que devemos manter uma relação próxima com todos os países que compõem este bloco, que abriga diferentes projetos governamentais”, aprofundou Kumar.  “E isso necessariamente conclama a Índia a exercer um papel preponderante no fomento e na expansão do karatê tradicional.”

A casa de culto de Bahai, também conhecida como Templo de Lótus

Quem é Rajnish Kumar

Nascido em 22 de março de 1975 em Nova Déli, capital da Índia, o professor Rajnish Kumar, faixa preta ni-dan, possui MBA em comunicação, é produtor de conteúdo e blogueiro. Praticante de karatê desde os 13 anos, em 11 de julho de 2019 fundou o Conselho de Karatê Tradicional da Índia (TKCI), que progressivamente vem se tornando um dos maiores aliados da Federação Internacional de Karatê Tradicional (ITKF) na região asiática. Entusiasta das artes marciais, Rajnish Kumar é hoje um defensor fervoroso do Karate for Life, uma das principais bandeiras da gestão atual da ITKF.

“Comecei a praticar karatê levado pela curiosidade e pelo amor que todo menino tem pelas artes marciais e pelos esportes de combate”, contou Kumar em entrevista à Budô. “Meus pais me matricularam num dojô que ensinava o karatê Shotokan. Naquela época eu não sabia diferenciar os vários estilos de karatê, mas tive a sorte de cair numa escola que também ensinava o karatê tradicional e desde então não havia mais como mudar para outro estilo. Os fundamentos ensinados pelo meu sensei eram tão fortes que fiquei literalmente apaixonado pelos princípios e técnicas que progressivamente ia absorvendo.”

Karatecas da base treinando kata

Foi assim que Kumar percebeu que o karatê tradicional é uma verdadeira arte e que transcende o rótulo de simples forma de luta, desempenhando papel crucial no desenvolvimento do corpo e da mente e promovendo o equilíbrio interno do praticante.

Embora lamente não ter conhecido o shihan Hidetaka Nishiyama pessoalmente, Rajnish Kumar comemora a oportunidade que teve de absorver parte dos ensinamentos deixados pelo fundador da ITKF.

“Não tive o privilégio de treinar sob o comando do sensei Nishiyama. Entretanto, durante toda a minha vida, li seus livros, ouvi seminários gravados e estudei os princípios e fundamentos que regem o karatê tradicional pregados pelo mestre. Confesso que o conceito do Budo for Life, da busca da melhora do indivíduo, da defesa da verdade e do respeito, sempre me impressionaram pelo conteúdo e pela mensagem socioeducativa. Agora, ao ingressar na ITKF e fazer parte da gestão da entidade em meu país, estou muito orgulhoso e honrado em poder participar diretamente da disseminação e promoção do verdadeiro karatê tradicional, dando continuidade e vida longa ao legado do fundador.”

Em seiza, Jitesh Kumar comanda o rei final

Professores e alunos da base