19 de junho de 2025

Em outubro de 2024, Shirlen Nascimento subiu ao pódio do Grand Slam de Abu Dhabi. Em maio, repetiu o feito no Grand Slam de Qazaqstan Barysy. Em sua estreia no circuito mundial, causou impacto imediato com uma presença vibrante, aliando força, dinamismo e uma sinceridade desarmante nos tatamis.
Ao vê-la competir, é natural supor que se trata de uma atleta já consolidada: imponente, confiante e segura de si. Mas fora dos tatamis, encontramos uma jovem tranquila, modesta e tímida — alguém que ainda está descobrindo seu espaço na elite do judô mundial. Shirlen está ali para aprender, crescer e dar o melhor de si. Mas a pergunta persiste: por que só agora ela apareceu no cenário internacional? Aos 25 anos, ela é extremamente talentosa — e cativante de se assistir.
“Preciso colocar paixão em cada momento” © Emanuele Di Feliciantonio / FIJ
“Em 2019, rompi os ligamentos do joelho e parei por três anos. Precisei de duas cirurgias. Voltei aos treinos em 2022. De certa forma, a pausa — que coincidiu com a pandemia — acabou sendo positiva. Voltei com tudo. Participei do Campeonato Brasileiro, mas a categoria até 57 kg é muito forte no Brasil. Tem a Jéssica Lima, a Bianca, a Beatriz… muitas atletas excelentes.”
“Este ano, venci uma competição nacional, conquistei o ouro e garanti vaga no Pan-Americano. Lá também fui campeã e, com isso, ganhei a chance de disputar o Grand Slam do Cazaquistão, onde consegui o bronze.”
A judoca de Toledo (PR) entra no tatami para disputar o bloco final do Campeonato Mundial, ao lado da técnica Andrea Berti © Emanuele Di Feliciantonio / FIJ
“Logo depois da cirurgia, pensei em parar. Achei que não conseguiria voltar, porque muita gente que passou por uma lesão parecida abandonou o esporte. Eu treinava em um clube pequeno. Quando comecei a me recuperar, troquei de equipe e passei a treinar com meninas mais fortes. Percebi que poderia melhorar e talvez competir de novo.”
“Seis meses atrás, me mudei para outro clube em São Paulo. A estrutura era melhor, meu judô começou a evoluir e senti que aquele era o lugar certo. O programa e o treinador me passaram confiança. Agora sei que tomei a decisão certa — as coisas estão acontecendo.”
No tatami, Shirlen tem uma energia intensa e genuína — uma entrega que ela mesma define como “crua e sincera”.
“Dou o meu melhor em cada competição como se fosse a última. Não penso no que vai acontecer amanhã. Por causa das lesões, aprendi a viver o agora. Preciso colocar paixão em cada momento.”
Shirlen Nascimento no pódio do campeonato mundial © Gabriela Sabau / FIJ
Essa postura chama atenção, especialmente porque é raro ver uma atleta praticamente desconhecida conquistar medalhas em Grand Slams.
“Nunca imaginei estar no pódio ao lado desses judocas. Eu olhava para eles e pensava: ‘uau, são muito fortes’. Agora estou aqui com eles — e acredito que pertenço a esse grupo.”
Pensar em metas de longo prazo não é algo natural para Shirlen. Seu foco está totalmente no presente. Mas uma coisa ela sabe:
“Quero ser feliz e lutar nas grandes competições. Quero ganhar experiência e rodagem para evoluir no meu judô. Estou feliz por estar aqui com atletas incríveis. Quero me aproximar ainda mais deles e crescer.”
Parceiras de treino, trabalhando juntas no Rio de Janeiro: Shirlen Nascimento e Rafaela Silva © Emanuele Di Feliciantonio / FIJ
“Tenho admiração por muita gente. Ano passado, ainda no Brasil, pedi para tirar uma foto com o Leonardo Gonçalves. Aqui em Budapeste ele me perguntou se eu lembrava disso, e parecia orgulhoso por estarmos juntos na equipe. Claro que eu lembrava — sou fã dele e do judô.”
Apesar da pouca experiência em competições internacionais, Shirlen não chegou à Seleção sem lastro. Parte de sua trajetória inclui uma convivência próxima com Rafaela Silva.
Shirlen Nascimento (BRA) conquista o bronze no Cazaquistão, em maio de 2025 © Gabriela Sabau / FIJ
“Depois das Olimpíadas de Tóquio, comecei a viajar para o Rio para ser parceira de treino da Rafaela no clube dela. Um ano antes dos Jogos, ela me disse que eu tinha uma paixão que ela precisava, então eu ia e voltava para treinar com ela. Cheguei a ficar hospedada na casa dela. Ficamos amigas e ela me apoiou muito aqui.”
“Dois anos atrás eu mal conhecia as meninas da Seleção. Com a Rafaela aprendi muito, principalmente sobre as adversárias internacionais, já que ela lutou nessa categoria por anos. E ela é muito inteligente no judô. Em Budapeste, ela estava na arquibancada torcendo por mim — dava para ouvir o dia inteiro.”
Shirlen ainda está assimilando tudo o que viveu no Mundial. Não sabe exatamente o que virá a seguir. Mas uma coisa é certa: seja qual for o caminho, ela continuará dando tudo de si — e será um privilégio acompanhar sua jornada nos tatamis do mundo.
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