Competência e compromisso criam delegacia regional pujante numa das regiões mais ermas e pobres do Estado

Takeshi Yokoti foi nomeado delegado da 16ª Sul-Itapeva em 28 de janeiro de 2012 © FPJCOM

À frente da 16ª DR Sul-Itapeva desde a sua fundação em 2012, Takeshi Yokoti saiu do lugar comum, inovou, instituiu novo marco na gestão das delegacias regionais e hoje é exemplo de administrador na FPJudô

Por Paulo Pinto / FPJCOM
3 de março de 2023 / São Paulo (SP)

Nesta entrevista, o professor kodansha Takeshi Yokoti, titular da 16ª DR Sul-Itapeva e coordenador de arbitragem da Federação Paulista de Judô (FPJudô), revela a fórmula que fez de uma delegacia recém-formada uma das mais pujantes do judô paulista. Antes, porém, vamos conhecer um pouco sobre um dirigente que se sobressai entre os demais.

Nascido em 22 de agosto de 1964 em Campinas (SP), o professor kodansha Takeshi Yokoti iniciou a prática do judô aos 10 anos por influência do primo que era praticante. Seu primeiro sensei foi Valdemar Parra, san-dan (3º dan), na cidade de Sumaré; depois passou a treinar com os professores kodanshas Umeo Nakashima, hachi-dan (8º dan), e Anderson Dias de Lima, shichi-dan (7º dan).

Extremamente habilidoso, no dia da fundação da 16ª delegacia, Francisco de Carvalho reuniu Nélson Koh, então delegado da 7ª Sudoeste e Takeshi Yokoti, que prometeram trabalhar em conjunto pelo judô paulista © FPJCOM

De personalidade reservada, discreto e circunspecto, porém extremamente proativo, sensei Takeshi tem seu pai como maior exemplo de vida. “Mas, no judô, a pessoa em que sempre me espelhei e me deu maiores exemplos foi o sensei Massao Shinohara, pelo comportamento e pela imagem de humildade, dedicação, conhecimento e, principalmente, de caráter que sempre passou a todos.”

Para o coordenador estadual de arbitragem paulista, ser judoca implica ter consigo o princípio de jita-kyoei, ou seja, bem-estar, prosperidade e benefícios mútuos. Já o kodansha deve buscar constantemente ser um exemplo a seguir, ter uma imagem digna de respeito e possuir caráter íntegro e inabalável. Não por acaso, a frase do shihan Jigoro Kano que mais aprecia e com a qual se identifica é: “Somente se aproxima da perfeição quem a procura com constância, sabedoria e, sobretudo, humildade”.

Alessandro Puglia cumprimenta o novo delegado © FPJCOM

O professor Takeshi Yokoti é casado com Antônia Yokoti há 40 anos, com quem teve os filhos Leandro e Cíntia, que lhes deram os cinco netos: Gustavo, Maria Júlia, Luísa, Alice e Selena.

Delegacia abrange 46 municípios

A delegacia regional mais nova da FPJudô foi criada em janeiro de 2012 e conta hoje com cerca de 30 entidades de 25 cidades filiadas. “A nossa área é bem grande e abriga cerca de 46 municípios. Mas é importante lembrar que herdamos apenas nove agremiações da 7ª DR Sudoeste. Durante a pandemia perdemos algumas entidades, mas esse é um processo que nunca acaba. Enquanto dirigentes temos de estar sempre em busca de novos filiados.”

Roberto Gomes, tesoureiro; Takeshi Yokoti, delegado; George Osako, professor kodansha 7° dan; e Sandro Salles Camargo, coordenador técnico da recém-criada 16ª delegacia regional © FPJCOM

 

Além das agremiações federadas, a 16ª DR prepara a adesão de mais duas entidades, sendo uma prefeitura e uma associação, cuja documentação está pronta e em trânsito no jurídico da FPJudô para aprovação, completando 32 afiliadas. Outras agremiações ainda organizam a documentação para dar entrada no circuito.

Arnaldo Queiróz, Francisco de Carvalho e Takeshi Yokoti © FPJCOM

Para Takeshi, não existe segredo ou mágica para comandar uma delegacia numa das regiões mais distantes da capital e mais pobres do Estado de São Paulo. “O que existe é trabalho, sair da área de conforto e ir atrás dessas entidades informais, conversar, tentar regularizar a situação do professor que muitas vezes está em ligas ou entidades menores, e dar-lhe a devida atenção. Mostrar também todas as vantagens em estar filiado, facilitar o primeiro acesso, acompanhar de perto essas entidades e ganhar a confiança tanto do professor quanto das prefeituras e secretários municipais de Esporte.”

“Uma eventual flexibilização em favor das entidades menores ou iniciantes seria decisiva para impulsionar expressivamente a modalidade.”

Mostrando extrema objetividade, Yokoti destacou as principais características de um bom delegado regional, ou seja, de um bom dirigente. “Em primeiro lugar, precisamos ter em mente que nós, delegados regionais, somos o braço da presidência e da diretoria executiva da federação em nossa região. Temos de ter pulso forte como gestores, filtrar todas as demandas, mas ao mesmo tempo ser sensíveis à realidade que nos cerca. Precisamos conquistar a amizade, a confiança e o respeito dos professores, atletas e entidades que compõem a nossa região. Temos de saber conversar, saber ouvir, e sempre estar interagindo com os filiados, pois somos como uma empresa e os filiados, os nossos clientes.”

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O delegado da 16ª Sul-Itapeva avalia que o time todo da atual gestão da FPJudô avança na mesma direção e que os resultados têm sido palpáveis. “É lógico que ainda há muita coisa a ser feita, algumas falhas ainda acontecem, mas é preciso isenção e reconhecer que os vários departamentos estão em constante evolução para melhor atender nossos filiados. Tivemos aquele imbróglio na eleição, mais tudo aquilo serviu para dar mais força ao grupo. A diretoria executiva está realmente mudando a cara da federação, e é incontestável que mudando para muito melhor. Os vice-presidentes colocam a mão na massa em todas áreas, coisa que antes não havia, pois tudo partia da presidência. E isso acaba tirando um pouco do peso das costas do presidente, deixando o Alessandro mais tranquilo para resolver as situações mais pontuais ou decisivas.”

Competição realizada na época da fundação da 16ª Sul-Itapeva © FPJCOM

Na avaliação de Takeshi Yokoti uma eventual flexibilização em favor das entidades menores ou iniciantes seria decisiva para impulsionar expressivamente a modalidade. “Acolher as entidades menos favorecidas promoveria uma expansão expressiva em nossa base de filiados”, diz. “Um exemplo é a nova divisão criada neste ano pela FPJudô, a iniciante/escolar, que, pelo menos aqui em nossa região teve aceitação estupenda. Todas as entidades a viram com muito bons olhos, pois as taxas acessíveis permitem formalizar, ou seja, trazer para o circuito federativo todos os judocas que atuam informalmente. Isso é um excelente exemplo de flexibilidade e sensibilidade e ratifica o que sempre digo: temos de estar permanentemente sensíveis aos problemas dos nossos parceiros, nossos filiados. Dessa forma estamos fazendo a gestão sem arrogância ou prepotência, e mostrando sensibilidade e humildade, princípios que fundamentam o judô.”

Yokoti na reunião dos delegados de 2023 © FPJCOM

Sem abrir mão da objetividade, Yokoti sonha com um futuro brilhante para a 16ª DR Sul-Itapeva. “Minha meta para a nossa região é que a nossa delegacia continue crescendo cada vez mais, que se torne uma representação regional grande e expressiva em todos os aspectos, e que nela surjam futuros atletas olímpicos.”

Como tudo começou?

Takeshi Yokoti lembra perfeitamente o que levou a FPJudô a criar uma nova delegacia regional. Tudo começou em meados de agosto de 2011, quando houve um campeonato paulista em Registro, na 14ª DR, num sábado, seguido de um torneio amistoso na cidade de Itararé no domingo. “O ex-presidente Chico, que veio junto com o Mário Manzatti, foi embora depois do primeiro evento e, sem ninguém saber, aproveitou para conhecer melhor a região e as entidades filiadas. Foi durante essa viagem que ele percebeu o tamanho da 7ª Sudoeste. Ambos os dirigentes sentiram a distância na pele, e reconheceram as dificuldades causadas pelo gigantismo da área coberta pela regional. Acho que também notaram o isolamento dos atletas e professores das entidades mais distantes e a falta de um delegado próximo para discutir problemas do dia a dia.”

Francisco de Carvalho cumprimenta e da boas-vindas ao novo delegado regional © FPJCOM

Além disso, a sede da Sudoeste ficava em Osasco, na Grande São Paulo, e quase todos os eventos eram realizados lá, por motivos óbvios. Muitas vezes os atletas, técnicos, familiares e demais pessoas envolvidas tinham de acordar de madrugada ou encarar noites mal dormidas, enfrentar estradas ruins, até com risco de vida para ir de suas cidades aos locais dos torneios.

“Creio que o Chico já tinha este projeto do desmembramento da 7ª delegacia em mente, mas, quando sentiu os problemas na pele, não pensou duas vezes”, conta Yokoti. “Até mesmo para os dirigentes da federação o deslocamento era difícil, sem contar que em situações como esta os filiados acabavam ficando abandonados. Com sua visão ampla de tudo, o Chico resolveu enfrentar os desafios que a mudança demandava, e promoveu a separação.”

Alessandro Puglia e Arnaldo Queiróz na reunião dos delegados de 2012 © FPJCOM

Em outubro houve outro evento amistoso em Osasco e, como Yokoti era o coordenador de arbitragem da 7ª DR, o Chico o chamou para uma conversa em particular e mostrou o que tinha em mente, convidando-o para comandar a nova delegacia. Surpreso e diante da grandiosidade do projeto ele disse que iria pensar. “Mas ele jogou pesado, dizendo que eu tinha de ajudá-lo a erguer o judô da região, que eu era uma pessoa influente, muito bem relacionada, e que precisava de mim. Aí entendi que a decisão dele já havia sido tomada e resolvi aceitar.”

“Minha meta é que a nossa delegacia continue crescendo cada vez mais, que se torne uma representação regional grande e expressiva em todos os aspectos, e que nela surjam futuros atletas olímpicos.”

Takeshi revelou que sua primeira missão foi fazer um levantamento geográfico de toda a região, traçar um mapa detalhado com todas as cidades em que se praticava judô. Esse mapa devia mostrar as divisas das demais delegacias porque a nova área abrangia um pedaço da própria Oeste, fazendo divisa com a 3ª Centro-Sul e com a 7ª Sudoeste. “Ele recomendou que eu tomasse muito cuidado e fizesse um raio-X da região que iríamos fundar, e assim eu fiz. Separei todo esse trabalho para ele apresentar aos executivos da federação e em seguida aos delegados.”

Takeshi Yokoti na reunião dos delegados de 2020 © FPJCOM

Em janeiro de 2012, na reunião dos delegados, Francisco de Carvalho apresentou formalmente o projeto e anunciou o desmembramento. Yokoti reconhece que, como acontece em toda separação, houve traumas.  “É lógico que os gestores da 7ª Sudoeste não gostaram. Muitos professores influentes na época se mobilizaram para que a mudança não ocorresse, mas o Chico já estava convicto da necessidade dessa separação, que assim foi consumada. Dirigentes de nove entidades, todas pioneiras da nossa região, abraçaram a causa e transformamos a mais nova delegacia do judô paulista numa região próspera que aspira encerrar este ano com mais de 34 filiados.”

Hoje, 11 anos após os fatos ocorridos, algumas cicatrizes permanecem, mas todos entenderam a necessidade de renovar, de dividir para expandir. “Como delegado, sou grato aos nove dirigentes que nos apoiaram e vieram conosco. Estou certo de que em mais alguns anos faremos parte do seleto grupo das maiores delegacias, pois este é o nosso objetivo. Eu e o judô paulista devemos muito a essas entidades a esses nove professores que compraram a nossa ideia e transformaram a 16ª DR Sul-Itapeva na potência que é hoje.”

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