Eleições do COB autenticam total domínio político de Paulo Wanderley no cenário olímpico

Gestores eleitos na assembleia do COB

O presidente do COB elegeu o vice e logrou que metade do conselho de administração derivasse dos esportes de combate. Além de representantes de confederações, entre os eleitos estão Bernardino Santi, que atua em três entidades de luta, Sérgio Rodrigues, faixa preta de jiu-jitsu, e o jurista Ney Bello, ligado ao judô do Maranhão

Eleições no COB
27/03/2018
Por PAULO PINTO I Fonte IMPRENSA/COB I Fotos HEITOR VILELA/COB, GUSTAVO MORENO e GABRIEL FRICKE/GLOBO.COM
Rio de Janeiro – RJ

As eleições desta sexta-feira (23 de março) marcam o fim de um período de mudanças significativas no Comitê Olímpico do Brasil. Assim que assumiu a presidência do COB, em 11 de outubro, com a entidade submersa em problemas administrativos e suspensa pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), Paulo Wanderley Teixeira implementou uma série de medidas para garantir avanços nos controles internos e de governança do COB.

Participaram da votação os presidentes das 35 confederações de modalidades olímpicas, os 12 representantes mais bem votados da Comissão de Atletas do COB e Bernard Rajzman, membro brasileiro do COI (Comitê Olímpico Internacional).

Paulo Wanderley e Marco La Porta

Após sofrer o primeiro revés político na polêmica assembleia de 22 de novembro, o presidente do comitê olímpico mostrou que finalmente tomou as rédeas da entidade, elegendo Marco La Porta quase por aclamação, já que Marcel de Souza recebeu somente três votos e José Medalha, apenas um.

“Hoje o comitê olímpico deu uma lição de democracia, com a participação de numerosos atletas votando. É um dia histórico no esporte olímpico brasileiro”, disse La Porta. “O COB passou por um processo difícil ano passado e desde que Paulo Wanderley assumiu, liderando a reforma no estatuto da entidade, estamos retomando o caminho para mostrar à sociedade que o trabalho que fazemos aqui é sério e que atuamos para desenvolver o esporte olímpico do Brasil.” La Porta também detalhou como pretende colaborar na gestão da entidade.

“Pretendo ajudar o esporte olímpico naquilo que eu tenho mais conhecimento, que é na área das Forças Armadas, aproveitando o meu passado, e quero estar bem junto às confederações e, consequentemente, chegar à ponta da linha, que são os atletas”, disse. La Porta foi Instrutor da Escola de Educação Física do Exército por dez anos.

Mesmo sem os recursos financeiros de que seu antecessor dispunha, Paulo Wanderley está implantando no COB o mesmo modelo que adotou na Confederação Brasileira de Judô, e para garantir a paz e pavimentar a estrada que o levará à reeleição em 2020, o dirigente – que é professor kodansha faixa vermelha e branca (8º dan) de judô – conseguiu que a metade do Conselho de Administração fosse composto por dirigentes de modalidades coirmãs do judô, elegendo os presidentes das confederações de karatê, boxe, esgrima e da própria CBJ.

Mesa gestora da AGO

Desta forma, Sílvio Acácio Borges (judô), Luiz Carlos Cardoso do Nascimento (karatê), Mauro José da Silva (boxe) e Ricardo Pacheco Machado (esgrima) garantirão metade do apoio que Paulo Wanderley necessitará do Conselho de Administração formado por membros das confederações. O faixa preta de jiu-jitsu Sérgio Rodrigues integra o Conselho de Administração formado por membros independentes.

Candidato mais votado para o Conselho de Administração, após a contagem dos votos Sílvio Acácio Borges falou sobre a importância de representar o judô perante o Comitê Olímpico do Brasil.

“É uma honra para mim ser eleito pela comunidade do esporte brasileiro para ocupar uma cadeira no Conselho de Administração do COB. Espero estar à altura da missão de representar o judô nesta casa e poder trabalhar em prol da nova composição do comitê olímpico”, disse o presidente da Confederação Brasileira de Judô.

Mauro Silva declarou que participou do pleito por entender que reúne as condições necessárias e experiência suficiente para contribuir com o novo momento do esporte brasileiro.

“A minha eleição representa o reconhecimento de tudo que temos feito por nossa modalidade. Elevamos nosso nível técnico, conquistamos horizontes outrora jamais alcançados, chegamos a medalhas olímpicas nas duas últimas edições dos jogos, obtivemos três títulos mundiais, duas medalhas de prata em mundiais e nossos atletas passaram a ser muito mais competitivos e respeitados no mundo”, enfatizou o dirigente máximo da Confederação Brasileira de Boxe, que finalizou mostrando o que é premente no sentido de tirar o esporte brasileiro do quadro em que se encontra desde o Rio 2016.

Foram utilizadas urnas eletrônicas cedidas pelo Tribunal Regional Eleitoral (RJ), adaptadas especialmente para a eleição do COB

“Ações simples e bem executadas são suficientes para mudar nossa realidade no geral. Projetos bem direcionados e pessoas competentes, comprometidas e responsáveis certamente elevarão o esporte nacional a um novo patamar”, disse o presidente da CBB.

Luiz Carlos Cardoso do Nascimento explicou que aceitou participar do pleito por entender que sua eleição poderia de alguma forma fortalecer a imagem do karatê no cenário olímpico nacional.

“A criação dos conselhos de ética e de administração do COB atende às demandas de modernização do Comitê Olímpico do Brasil e a diretoria da CBK definiu que não poderíamos ficar fora do processo que tem por objetivo adotar medidas que promovam o aperfeiçoamento da governança na entidade”, disse. O presidente da CBK lembrou que o a receita do sucesso no esporte passa eminentemente pela gestão de marketing.

“Levo algumas décadas na gestão esportiva e entendo que o sucesso da administração passa necessariamente pela conquista de medalhas no cenário internacional e por uma gestão de marketing moderna e proativa. Somente os profissionais de marketing têm conhecimento do que é preciso para alavancar as entidades esportivas e impulsionar o esporte. A atuação do alto rendimento e o marketing esportivo é que determinam o resultado de toda operação”, pontuou o presidente da CBK.

Ricardo Pacheco Machado destacou a experiência acumulada nos mais diversos postos ocupados nos mais de 20 anos de gestão esportiva.

“Fui vice-presidente nas duas últimas gestões da Confederação Brasileira de Esgrima, e minha atuação sempre esteve voltada para a área técnica da modalidade. Tanto a área administrativa quanto a financeira ficavam a cargo do antigo presidente. Recentemente fui eleito e pude me inteirar mais sobre o complexo mundo da gestão esportiva. Tive o prazer de ser convidado para fazer parte da comissão de reforma do estatuto do COB e fiquei muito honrado por meus pares terem depositando confiança em meu trabalho”, explicou. O dirigente concluiu revelando a fórmula para recuperar o desporto nacional.

Tiago Camilo e Thiago Pereira na eleição para vice do COB

 

“Nestes 20 anos atuando pelo esporte já exerci funções de dirigente esportivo em meu clube, o Grêmio Náutico União, na Federação Rio-Grandense de Esgrima, na Confederação Sul-Americana de Esgrima e sou o atual presidente da CBE. Tenho convicção de que o caminho da evolução do esporte olímpico já começou com a reestruturação do COB. Esse foi o ponto de partida. Agora, nos resta trabalhar com afinco, entusiasmo e alto profissionalismo de governança para o sucesso que o Brasil esportivo merece”, concluiu Machado.

O judoca campeão mundial e medalhista olímpico Tiago Camilo foi um dos 12 atletas que também votaram nessas eleições. Presidente da Comissão de Atletas do COB, Tiago comemorou a oportunidade de representar seus pares e definiu essas eleições como um “momento histórico”.

“Momento histórico! Lutamos por mais representatividade de atletas nas decisões que tangem ao universo dos esportes. Aqui estamos”, escreveu em postagem em suas redes sociais com foto ao lado de todos os atletas que votaram.

O advogado Sérgio Rodrigues milita no direito esportivo há anos, e possui participação em diversos tribunais esportivos. Eleito com 36 votos, Sérgio explicou por que participou do pleito.

“O País está mudando e, consequentemente, o esporte também segue esse caminho. Ao fazer essas mudanças no estatuto, o presidente Paulo Wanderley propõe transformações que vão ao encontro da minha formação, que é de governança, transparência, gestão profissional”, disse o faixa preta de jiu-jitsu.

“Vamos montar um grupo para contribuir na melhoria do esporte olímpico. Temos de manter a vivacidade do esporte olímpico durante todo o ciclo. Como toda grande empresa, o conselho tem papel fundamental e vamos atuar de forma bastante objetiva, auxiliando o presidente na tomada de decisões”, completou Rodrigues.

Os atletas que votaram nas eleições do Comitê Olímpico do Brasil

O Conselho de Ética é composto por cinco membros efetivos, sendo obrigatoriamente três membros independentes. Foram dez candidatos independentes e cinco não independentes. O advogado Alberto Murray foi o mais votado, com 35 votos. Segundo mais votado ao lado de Caputo Bastos, o proeminente jurista Ney Bello totalizou 26 votos e em seu currículo aparece o grande vínculo que durante muitos anos manteve com a Federação Maranhense de Judô. Quinto candidato mais votado, Bernardino Santi obteve 23 votos e é mais um dirigente ligado aos chamados esportes de combate. Coordenador médico das confederações brasileiras de taekwondo, boxe e esgrima, Santi é um médico com expressivo currículo no cenário olímpico das modalidades de luta e se candidatou atendendo aos pedidos de vários setores do esporte.

“Participei do pleito para atender a uma reivindicação feita por um grupo de dirigentes de várias modalidades, que veem na minha pessoa uma conduta ilibada com mais de duas décadas dedicada ao esporte olímpico, e também por estar interessado na reconstrução do esporte nacional. Nossa comissão visa a reestabelecer a ética, a retidão na conduta e nos valores esportivos na busca de estabelecer uma base que recupere a imagem do esporte como um todo”, disse Bernardino Santi

Fogo amigo

Nos bastidores da cúpula esportiva nacional foi muito comentado o desnecessário processo de fritura imposto a Ricardo Leyser, ex-ministro do Esporte do Brasil.

Um dos gestores esportivos mais expressivos do País, ex-secretário nacional de Esporte de Alto Rendimento e ex-secretário executivo do Ministério do Esporte, Leyser chegou a ocupar o cargo de ministro do Esporte do governo Dilma Rousseff, e antes de se lançar no processo eletivo do Comitê Olímpico do Brasil recebeu apoio incondicional do alto comando do COB. Parece que o acordo não foi cumprido, o ex-ministro recebeu apenas 16 votos e não se elegeu.

Formado em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas, e em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo, Ricardo Leyser Gonçalves foi um dos maiores apoiadores do esporte olímpico do Brasil. Boa parte das confederações esportivas chegaram aonde estão hoje, devido ao apoio prestado por ele quando ocupou pastas no Ministério do Esporte. O judô em especial, foi uma das modalidades mais beneficiadas pela enorme contribuição prestada por Leyser, em sua passagem pelo ministério.

Ricardo Leyser quando era o Ministro do Esporte

Candidatos eleitos no COB

Vice-presidente

Marco La Porta – 44 votos

Conselho de Administração (membros independentes)

Sérgio Rodrigues – 36 votos

Carlos Osso – 23 votos

Conselho de Administração (membros das confederações)

Judô – Sílvio Acácio Borges – 39 votos

Golfe – Euclides Antônio Gusi – 33 votos

Desportos no Gelo – Matheus Bacelo de Figueiredo – 32 votos

Vela – Marco Aurélio de Sá Ribeiro – 30 votos

Boxe – Mauro José da Silva – 29 votos

Canoagem – João Tomasini Schwertner – 28 votos

Esgrima – Ricardo Pacheco Machado – 24 votos

Karatê – Luiz Carlos do Nascimento – 21 votos (24 a 22 no desempate com o levantamento de peso)

Conselho de Ética

Alberto Murray – 35 votos (membro independente)

Caputo Bastos – 26 votos (membro independente)

Ney Bello – 26 votos (membro independente)

Sami Arap – 24 votos (membro não independente)

Bernardino Santi – 23 votos (membro não independente)