Francisco de Carvalho lamenta desavença entre presidente da CBJ e seu sensei e cobra ética na gestão da graduação

Francisco de Carvalho Filho

O dirigente paulista eleva o tom da conversa e lembra ao presidente da CBJ que são as comissões de graduação estaduais que podem e devem determinar quem merece ser graduado em cada Estado, e não a Confederação Brasileira de Judô

Ponto de Vista
18 de agosto de 2018
Por PAULO PINTO I Fotos BUDÔPRESS
São Paulo – SP

Em sua avaliação sobre o imbróglio envolvendo Sílvio Acácio Borges, atual presidente da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), e seu antigo professor, o dirigente paulista elogiou a gestão de Roberto David da Graça, o Cocada, que recolocou o judô catarinense nos trilhos.

“Apesar de nunca ter apoiado São Paulo na política nacional, o professor Cocada foi um presidente que todos nós sempre respeitamos muito. Ele assumiu a FCJ num momento muito difícil, quando a gestão Konishi apresentava sérios problemas. O Cocada conseguiu reconduzir a o judô catarinense à normalidade. Aliás, nem acho que tenha sido o Cocada. Penso que a Lelis (esposa do dirigente) trabalhava muito mais que ele, mas logicamente o Cocada foi o grande maestro e resgatou a tradição do judô de Santa Catarina, e o fez com extrema competência. Eu não conhecia as divergências entre ele e o seu aluno, sempre pensei que havia um ambiente mais tranquilo e equilibrado. Fiquei triste com as revelações que foram feitas, porque isso não é bom para comunidade do judô como um todo”, lamentou Francisco de Carvalho.

Considerada uma das principais entidades de gestão esportiva do Brasil, hoje a CBJ atravessa um momento difícil, quando a perda significativa de patrocínio e apoio ameaça projetos de médio e longo prazos, e para Francisco de Carvalho este quadro já era esperado, mas é preciso dar sequência ao trabalho que há mais de uma década é realizado na gestão de marketing.

“Acho que a queda de patrocínios depois das Olimpíadas é algo meio normal e muitos dirigentes já sabiam que isto ocorreria. Em contrapartida eu acredito no Maurício Santos e na capacidade dele. Se a CBJ teve a gestão que teve, devemos grande parte disso a ele, já que sem recursos financeiros ninguém faz milagre. Acho que a peça fundamental no sucesso da confederação brasileira é o Maurício. Espero que ele seja valorizado pela atual gestão e que deem a ele a oportunidade de mostrar trabalho, pois tenho certeza de que em breve poderemos voltar aos patamares anteriores. É preciso apenas dar espaço para quem tem capacidade”, apontou o experiente presidente de honra da FPJudô.

Sobre a atitude déspota do presidente da CBJ, que nomeou seu sócio presidente da comissão de graduação da CBJ, Chico não se apega ao vínculo societário e sim à competência para exercer o cargo.

“Veja bem, não quero saber se o professor Icracir Rosa é sócio ou não do presidente da CBJ. Quero saber se ele tem capacidade e representatividade para exercer o cargo. Se é uma comissão nacional, temos de encontrar os professores mais qualificados do País e colocá-los nela. Sinto falta, por exemplo, de gente como Shuhei Okano, mas sei que o Paraná dispõe de professores competentes. E temos o Ishii em São Paulo. Mas agora nós vamos passar a conhecer o presidente da comissão de graduação. Gostaria que houvesse um debate aberto para falarmos da área técnica, mesmo porque o sistema de graduação é homologatório, e quem dá as graduações são os Estados. O presidente da CBJ acumula várias funções e precisa saber qual é o professor que está trabalhando em cada Estado. Portanto, quem vai dar o tom da conversa são os presidentes de federações. Assim espero”, reivindicou o dirigente paulista, subindo o tom da conversa.

Mas em fevereiro quem elevou o tom da discussão foi Sílvio Acácio Borges que, atropelando velhos acordos firmados entre Francisco de Carvalho e Paulo Wanderley Teixeira, buscou invalidar nacionalmente a decisão de São Paulo de outorgar a faixa vermelha e branca a quatro professores com vasto histórico de dedicação ao desenvolvimento da modalidade.

Destacando a falta de tato do ainda inexperiente dirigente nacional, Francisco de Carvalho lembrou que quem comanda a graduação do judô no Estado de São Paulo é a comissão de graduação da Federação Paulista de Judô. E cobrou ética e coerência, advertindo que, se preciso for, fará todas as nomeações que forem necessárias.

“Os professores graduados naquele episódio têm mérito e quem está em São Paulo sabe disso. É só pesquisar. Não se consegue desmerecer quem tem mérito. Eu acho que, como o presidente novo, ele não tinha o conhecimento total do que estava ocorrendo. Recomendo ética e coerência a todos os envolvidos na questão da graduação nacional. Se nós tivermos mais professores na mesma situação, eu repito o que eu fiz naquela ocasião. Não vamos esperar um professor que está com problemas de saúde, que tem mérito, já venceu a carência e cumpriu todas as exigências falecer para depois prestar uma homenagem póstuma, só porque meia dúzia de pessoas que ignoram o mérito e a trajetória daquele professor não concorda conosco. Não podemos deixar que isto aconteça, mas eu acho que hoje o presidente entende perfeitamente esta situação. Portanto, se houver mais professores nesta situação, nós vamos fazer novamente”, afirmou o dirigente paulista.

Francisco de Carvalho lembrou que, além das federações possuírem a prerrogativa de graduar quem merecer, são as federações estaduais, clubes e demais filiados nos Estados que dão sustentabilidade jurídica e legal à CBJ.

“A prerrogativa da promoção é das federações estaduais, a prerrogativa de homologar e registrar é da confederação nacional. Pelo menos esse é o entendimento que sempre existiu. Se a federação achar que deve homenagear um professor pelos serviços prestados, ela tem esta prerrogativa sim, e à confederação cabe reconhece ou não. Mais nada. E mais: não existe este negócio de a CBJ fazer ou não. Ela faz porque nós somos filiados e somos nós que mantemos a confederação viva e atuante. A Confederação Brasileira de Judô existe legalmente porque há 27 federações estaduais que agem em comum acordo e mantêm o coração da CBJ batendo”, enfatizou Chico.

O dirigente concluiu lembrando que a normatização e o diálogo objetivo farão com que as dúvidas cessem e o processo de outorga de dans, que está travado desde que atual dirigente assumiu o comando da CBJ, voltará à normalidade.

“É lógico que nós queremos que a confederação brasileira estabeleça normas para que o Brasil inteiro fique mais ou menos nivelado nas graduações. Que estabeleça parâmetros para que as ações sejam semelhantes em todos os Estados. Não digo iguais, porque cada Estado detém um conhecimento diferente dos outros. Sempre teremos alguns com nível de faixas pretas sho-dan, ni-dan ou san-dan acima ou abaixo da média, mas isto é normal e lógico. Acho que a questão da graduação é complexa, polêmica e devemos abrir uma ampla discussão com todos. Não adianta querer decidir algo dentro de uma sala, se vai dar errado”, concluiu Francisco de Carvalho.