O judô da nossa época era diferente e consistia num esporte vibrante

Professor kodansha kyuu-dan (9º dan) Georges Kastriget Mehdi, principal referência técnica do judô Carioca e uma das mais expressivas do Brasil © Stefano Fígalo

Para o sensei Augusto Acioli, a geração dele tem argumentos de sobra para defender posições sobre arbitragem, punições e técnicas que sempre fundamentaram o judô e foram banidas

Por Paulo Pinto / Global Sports
7 de março de 2023 / São Paulo (SP)

Nascido na cidade do Rio de Janeiro no dia 14 de agosto de 1945, do alto dos seus 77 anos o professor san-dan Augusto Acioli de Oliveira traça um paralelo entre o judô do século passado e o praticado atualmente. Para ele, o que se vê hoje nos tatamis é fruto de um fenômeno mercadológico que imobilizou uma arte marcial que transcende o olimpismo e busca fortalecer o físico, a mente e o espírito de forma integrada. “A prática continuada do judô tradicional aguça a perspicácia e promove o desenvolvimento humano”, defende.

Professor Mehdi ao lado do holandês bicampeão mundial e campeão olímpico (Tóquio/1964) dos pesos pesados, Antonius Johannes Geesink (Anton Geesink) © Arquivo

Promovido a sho-dan por Georges Kastriget Mehdi e a ni-dan e a san-dan por Fuyuo Oide, Acioli é formado em economia pela Universidade Federal Fluminense (1968) e em direito pelo Instituto Metodista Bennett (1996).

Foto épica com os principais nomes do judô do Estado do Rio de Janeiro © Arquivo

Saudosista, Acioli conta que todas as vezes em que recebe mensagens do grupo amigos do sensei Mehdi (GASM), enviadas para fortalecer a mente e elevar o astral de seus integrantes, lembra das falas diárias que sempre ouvía nos anos 1960 e repassava aos praticantes após os treinos, antes do rei final.

“Eram pregações voltadas para a defesa dos princípios que regem a vida em família e no convívio em sociedade. O judô, quando ensinado com sua fundamentação original, carrega o mágico poder de transformar diamantes humanos brutos em joias lapidadas de alto valor”, diz Acioli.

A certificação dos estudantes é feita a cada 100 horas dos módulos concluídos, e a Unip mantém atuação constante em networking para conectar os alunos à indústria do esporte © Unip

“Quantos de nós tiveram a chance de vislumbrar novas rotas existenciais acomodados em tatamis feitos de palha de arroz e ouvindo idosos mestres, muitos dos quais com modesta escolaridade, porém com sabedoria equivalente a enciclopédias?”

Assim como Shiaki Ishii fez em São Paulo, sensei Mehdi elevou o judô carioca a outro patamar © Stefano Fígalo

Segundo o sensei san-dan, todos os educadores do GASM seriam capazes de citar casos e casos de crianças, jovens e adultos que foram reinseridos na vida em sociedade mediante a prática do judô.

“Por estarmos a cada dia mais próximos ao portão de reembarque, e como o fator tempo deve ser compreendido como variável relevante em nossas decisões, acho que poderíamos considerar a ideia de amplificarmos o alcance de nossas mensagens por meio do uso de toda a mídia que pudermos acessar. Dessa forma, ganharemos nós e aqueles ao redor”, propõe Acioli.

“A criação do GASM uniu em torno de um nome, Georges Kastriget Mehdi, a consagração de uma era de mestres notáveis surgidos a partir dos anos 1960, conseguindo materializar uma referência vivida por todos nós”, explica.

“Variáveis criadas em gabinetes estão impregnadas de objetivos mais mercadológicos do que esportivos.”

“Na origem, o judogi era branco, sem marca e sem patrocínios, porém, encharcado de transpiração em prol de uma arte militar que, para nós, sempre será o caminho (dô) a ser trilhado”, prossegue. “Aí reside a força de um clã de seniores calejados, com a vibração típica de meros iniciantes faixas-brancas.”

Georges Mehdi e Rudolf Hermanny, amigos de toda a vida © Stefano Fígalo

“Temos conteúdo de sobra para defender e recolocar nos monitores as crenças que firmamos, ao longo de décadas, a respeito de arbitragem, punições, banimento e exclusão de técnicas de projeção, a execração de pegadas que sempre fundamentaram o judô, o questionável golden score, enfim, variáveis criadas em gabinetes e impregnadas de objetivos mais mercadológicos do que esportivos”, assegura Acioli. E conclui:

“Gostaria de submeter aos samurais de minha época uma bandeira de luta que mostre aos atuais gestores do judô mundial que o marketing esportivo não conseguirá converter o judô que amamos e no qual acreditamos num produto de varejo.”

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