Para presidente do Comitê Paralímpico Internacional, Tóquio 2020 são os jogos mais importantes da história

Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Internacional © Matt Hazlett/Getty Images

Dirigente também comenta a dificuldade de realização das Paralimpíadas devido à pandemia da covid-19

Por Helena Sbrissia / Budopress
24 de junho de 2021 / Curitiba (PR)

A pandemia do coronavírus trouxe, em 2020, desafios que impediram a realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio. Um ano depois, apesar de haver maior controle da doença ao redor do mundo, nem todos os problemas foram sanados e a pandemia parece estar longe de seu fim. Foi necessário repensar os jogos, com novos protocolos, alteração de regras e tomadas de decisões prévias para que as condições durante e após as competições sejam as melhores possíveis para atletas e realizadores.

Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês), afirma que os jogos, como maior evento esportivo do mundo, somando forças de diversos países para que possam ser realizados neste ano, representam uma enorme vitória para toda a população mundial – e entra para a história. Principalmente por movimentar grandes esforços de atletas, patrocinadores, redes de TV e colaboradores para reunir milhares de pessoas sem que haja maior disseminação do covid-19.

Parsons é um dos dirigentes responsáveis pela Paralimpíada de Tóquio 2020 e reitera que esse é um dos maiores desafios de sua carreira. “E, enquanto as delegações todas não estiverem no avião de volta para casa, não estaremos sossegados.”

Essa preocupação surge porque, apesar de tanto a organização dos Jogos Olímpicos quanto a dos Paralímpicos fazerem ressalvas à exposição a riscos, é necessário lembrar que muitos atletas com deficiência mais severa precisam de ainda mais cuidado e atenção, sendo quase necessário um estudo caso a caso para a definição da melhor estratégia de procedimento.

Parsons com o nadador Daniel Dias, medalhista de ouro no Rio 2016 © Cleber Mendes/MPIX/CPB

“Há aqueles que precisam de cuidadores, de auxílio para se deslocar ou até se alimentar e outros que, devido à deficiência, não conseguem adaptar-se ao uso da máscara. Como fazer para permitir que participem sem correr risco?” indaga Parsons.

O presidente do IPC ainda dá um exemplo mais específico, de atletas que não transpiram, que têm a temperatura corporal naturalmente elevada, dependendo do ambiente. “Eles não estão em estado febril. É uma questão de termorregulação. E como no geral os atletas vão ser muito testados, precisamos estar atentos para não causar um estresse maior ainda, para que sua experiência paralímpica seja mais positiva que negativa, sem deixar de ser segura.”

Além da análise caso a caso, ainda é necessário pensar em situações inerentes aos jogos, mas que encontram alguma dificuldade de realização por conta do risco de contaminação: desfiles, premiações e entrega de medalhas, por exemplo.

“É um momento em que as pessoas ficam muito próximas. Até que ponto representa risco de contágio? Então, quem vai entregar medalha? Como vamos fazer isso? Quantos exames faremos, em que momentos, como serão feitos? Cada operaçãozinha dessas teve de ser pensada, analisada, esmiuçada.”

O presidente do IPC explica que o Comitê Organizador de Tóquio 2020 (Tocog) foi essencial nas tomadas de decisão sobre os ajustes finais para cada situação. Ainda assim, foi estritamente necessário criar planos de contenção caso haja casos positivos de covid-19 durante o evento. Para ele, a maior dificuldade está nos atletas que precisam de cuidados permanentes, ou seja, da presença de um acompanhante todo o tempo.

O presidente do IPC afirmou que enquanto as delegações todas não estiverem no avião de volta para casa, os dirigentes não estarão sossegados © CPB

Andrew Parsons expõe que não há nenhum estudo que mostre maior propensão de pessoas com deficiência a se contaminarem, porém, dependendo do caso e do nível de gravidade da comorbidade, acende-se, sim, um alerta vermelho, já que o quadro de desenvolvimento do coronavírus pode ser mais severo ou, ainda, ficar severo com mais facilidade e mais rapidamente. “Não é que vamos proteger uma população mais que outra, mas nesses casos a ação tem de ser mais acelerada e os cuidados, mais específicos.”

A confraternização entre nações, que faz parte da experiência olímpica, não ocorrerá como se espera, mas Parsons justifica que passar um intervalo de oito anos sem que os Jogos Olímpicos e Paralímpicos ocorressem era inviável. “Os jogos têm essa característica de congraçamento, com uma minoria em busca de resultados e medalhas e uma massa para a qual já é uma conquista gigantesca estar lá.”

Apesar dos dados envolvendo deficientes na crise sanitária do covid-19 serem alarmantes – 60% do total de mortos pelo vírus na Inglaterra portavam algum tipo de deficiência –, Parsons não deixa de destacar como é importante que as Paralimpíadas sejam realizadas.

“Não é questão de tolerância e sim de valorização, de celebrar. É o momento em que se dá voz a um bilhão de pessoas no mundo que têm algum tipo de deficiência, que precisam ser ainda mais ouvidas por causa da pandemia. A gente pretende que os jogos coloquem um pouco de luz nesse um bilhão de pessoas com deficiência – 15% da população mundial. Por isso, esta Paralimpíada de Tóquio 2020 é a edição mais importante da história.”