Shihan Jigoro Kano, uma mente muito à frente do seu tempo

A visão pioneira do professor Jigoro Kano ecoa até hoje por meio dos milhões de praticantes que vivenciam sua proposta filosófica e socioeducativa. Mais do que um esporte, o judô se tornou um caminho para o desenvolvimento humano e a transformação da sociedade.

Por Oswaldo Cupertino Simões
Curitiba, 10 de março de 2025

A atitude visionária de Jigoro Kano ao selecionar e sistematizar as técnicas do antigo jujutsu, transformando-as no judô, foi muito além de um aprimoramento técnico. Para ele, o judô deveria ser uma ferramenta de educação do corpo e da mente, um meio de desenvolvimento pessoal e contribuição para a sociedade. Sua metodologia, embasada em princípios filosóficos sólidos de disciplina, comportamento e conduta, continua sendo um diferencial que atravessa gerações.

O legado de Kano Shihan permanece vivo no cotidiano dos praticantes de judô ao redor do mundo, quase 150 anos após a criação da modalidade. Ele se perpetua sempre que uma criança veste um judogi pela primeira vez e aprende a realizar o ritsu-rei ao entrar ou sair de um dojô ou do shiai-jô. O respeito ensinado desde cedo, quando os alunos se organizam para a saudação inicial, fortalece valores essenciais como hierarquia, disciplina e cortesia.

Com essa visão educacional, o professor Kano viajou pelo mundo disseminando sua filosofia de vida e seu método de treinamento, no qual o aperfeiçoamento humano sempre foi prioridade.

O judô vence diariamente, pois, mesmo com todas as transformações sociais e esportivas, segue sendo praticado nos cinco continentes. O espírito de Kano Shihan se manifesta toda vez que:

✅ Um jovem abandona as drogas e encontra no judô um novo caminho.
✅ Uma cidade implementa um projeto social que utiliza o judô como ferramenta educacional.
✅ Alguém se controla e evita a violência, aplicando os princípios do judô.
✅ Um novo dojô é inaugurado, perpetuando os valores e ensinamentos da arte.
✅ Uma mulher se defende utilizando técnicas de judô.

O símbolo da Kodokan é uma referência ao Yata no Kagami, o espelho imperial japonês, que, segundo a lenda, concederia vida eterna àqueles que nele se refletissem. Kano Shihan alcançou esse feito, pois sua essência vive e se perpetua em cada judoca que pratica não apenas suas técnicas, mas, sobretudo, seus ensinamentos e princípios.

Domo arigato gozaimashita, Shihan Jigoro Kano!

* Yata no Kagami é um dos Três Tesouros Sagrados do Japão (Sanshu no Jingi), ao lado da Espada Kusanagi (Kusanagi no Tsurugi) e da Jóia Yasakani no Magatama (Yasakani no Magatama).

Sobre o autor

Oswaldo Cupertino Simões Filho é professor kodansha hachi-dan (8º dan), mestre em Educação Física, fisioterapeuta, pós-graduado em Ciências do Treinamento Esportivo, Fisioterapia Esportiva e Psicomotricidade.

✅ Fundador da Sociedade de Fisioterapia Desportiva do Rio de Janeiro e da Sociedade de Fisioterapia em Ortopedia e Traumatologia
✅ Membro da Comissão Estadual de Grau da Federação de Judô do Rio de Janeiro
✅ Diretor-presidente do Judô Clube Oswaldo Simões
✅ Diretor do Instituto Maeda
✅ Membro do Instituto Kodokan do Brasil (IKB)
✅ Campeão Mundial Universitário – 1978 (Rio de Janeiro)
✅ Peso-pesado do Brasil nas Olimpíadas de Moscou – 1980
✅ Pentacampeão Pan-Americano