Taekwondo brasileiro estreia nos Jogos Paralímpicos com 100% de aproveitamento

Medalhistas e membros da comissão técnica brasileira em Tóquio @ CBTKD

As três medalhas conquistadas pelo Brasil (ouro, prata e bronze) garantiram o primeiro lugar no ranking da World Taekwondo e o título de maior potência do parataekwondo mundial

Por Paulo Pinto e Giulia Ciccarelli / CBTKD
15 de setembro 2021 / Rio de janeiro (RJ)

O Japão despediu-se em 5 de setembro dos Jogos Paralímpicos. Com a entrega das últimas medalhas e a cerimônia de encerramento, Tóquio passou o bastão para Paris, sede de 2024. Neste cenário o Brasil comemorou a participação exitosa, chegando em sétimo lugar no quadro geral de medalhas. Além da melhor campanha de todos os tempos, superou todas as metas estabelecidas, como a participação recorde de mulheres, atletas jovens e das chamadas “classes baixas” (com deficiência severa). Essa campanha vitoriosa gera a expectativa de maior sucesso ainda em Paris 2024 e Los Angeles 2028.

A delegação brasileira foi composta por 259 atletas (incluindo atletas-guia, calheiros, goleiros e timoneiros), além de comissão técnica, médica e administrativa, totalizando 435 pessoas. Entre os competidores, 68 eram portadores de deficiência severa. Do total de 42 homens e 26 mulheres, 39 tinham menos de 23 anos, cerca de 17% da equipe nacional paralímpica.

Nathan com Rodrigo Ferla (coordenador técnico do parataekwondo) e Elisa Pilarsk (fisioterapeuta) da seleção brasileira de taekwondo © Rogério Capela / CPB

Houve uma melhora qualitativa, já que em nenhuma outra edição a missão brasileira havia conquistado tantas medalhas de ouro: 22, superando as 21 de Londres 2012. No total de pódios, o Brasil igualou a marca alcançada no Rio 2016: 72 medalhas (22 ouros, 20 pratas e 30 bronzes).

O encerramento dos jogos foi uma mistura de músicos e dançarinos, que numa coreografia sublime misturaram sons e imagens para representar a diversidade. Houve o brilho de cada ser humano presente, criando por fim uma “cidade em que as diversidades brilham”.

Brasil obtém 100% de aproveitamento

O parataekwondo estreou no programa paralímpico em Tóquio e o Brasil fez uma campanha exuberante, obtendo 100% de aproveitamento, com os três atletas medalhando. Nathan Torquato, 20 anos, sagrou-se campeão paraolímpico da categoria até 61kg da classe K44. Silvana Fernandes conquistou a medalha de bronze na disputa de até 58kg da categoria K44. Débora Menezes conquistou a medalha de prata na disputa a cima de 58kg da categoria K44.

“Foi uma experiência incrível. Desde que eu comecei no esporte eu tinha o sonho de participar de uma paralimpíada, hoje realizado porque saio de Tóquio com uma medalha no peito. Esse sonho não acaba por aqui, já almejo Paris 2024 com mais resultados. Gostaria de agradecer a todos que me apoiaram e me ajudaram: minha equipe, a Confederação Brasileira de Taekwondo (CBTKD) e o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) que acreditarem em nosso potencial, investiram muito na equipe e nos ajudaram a chegar bem física e psicologicamente, aqui”, festejou a medalhista de bronze Silvana Fernandes.

Emocionada, a medalhista de bronze nos 58kg da categoria K44, Silvana Fernandes corre nos tatamis empunhando a Bandeira do Brasil © Rogério Capela / CPB

“Para mim foi uma experiência incrível levar uma medalha inédita para o Brasil, de colocar o nosso País numa final paralímpica e entre as principais forças do taekwondo, dando cada vez mais visibilidade e reconhecimento a nossa modalidade. Sinto-me muito orgulhosa e feliz por toda a trajetória que nos levou ao pódio e por tudo que tem acontecido. Que venham mais desafios”, comemorou a medalhista de prata Débora Menezes.

Primeiro medalhista de ouro dos Jogos Paralímpicos, o paulista Nathan Sodario Torquato já está focado no preparo para os Jogos Paralímpicos de Paris 2024. “Vivi uma experiência inacreditável em Tóquio. Só posso agradecer o trabalho realizado pela CBTKD e o Comitê Paralímpico Brasileiro, porque juntos fizemos história. Estou certo de que este é só o começo e já estou ansioso para iniciar os trabalhos para Paris 2024, quando iremos em busca de mais medalhas e fazer mais história”, previu.

Planejamento impecável

Segundo Rodrigo Ferla, coordenador técnico da CBTKD, a união da equipe foi fundamental. “Graças a ela criou-se uma atmosfera vencedora que estabeleceu uma sincronia entre os atletas e a equipe técnica. Sem dúvida alguma, isso fez a diferença em Tóquio.” Ele destacou também que a responsabilidade e o compromisso, junto com a felicidade da estreia da modalidade, proporcionaram um ambiente acolhedor.

“Não houve pressão e os atletas sentiram isso. Os resultados vieram naturalmente. O parataekwondo brasileiro consagrou-se em primeiro lugar em âmbito mundial”, disse o comandante técnico Rodrigo Ferla.

Feliz, Débora abraça Rodrigo Ferla, coordenador técnico da CBTKD e comemora a conquista da medalha de prata © Wander Roberto / CPB

Para o técnico Alan Nascimento, um dos precursores do parataekwondo no Brasil, Tóquio coroou de êxito um ciclo vitorioso. “É muito gratificante ver um trabalho que começou a ser desenvolvido em 2014, cujo comando foi assumido em 2017 pela Confederação Brasileira de Taekwondo, atingir a excelência em tão pouco tempo. Juntos construímos um cenário de sucesso, foi um ciclo glorioso para todos nós. Conseguimos trazer resultado em todas as competições de grande porte, como jogos pan-americanos e campeonato mundial. E para coroar todo este esforço, conseguimos encerrar o ciclo olímpico como país número 1 no ranking mundial da WT”, avaliou Nascimento, que destacou a importância do planejamento realizado pela equipe multidisciplinar da CBTKD.

“A equipe técnica fez um bom planejamento e, na perspectiva de treino, buscou englobar o apoio psicológico, fundamental para entender o momento que cada atleta atravessa na vida pessoal, além de sempre manter contato com a equipe de cada atleta. Esta aproximação e este diálogo tem-nos oferecido resultados mais que positivos.”

Elisa Pilarsk, Nathan Torquato, Rodrigo Ferla, Silvana Fernandes, Alan Nascimento e Débora Menezes © CBTKD

Rodrigo Ferla destacou que o apoio da Confederação de Taekwondo Brasileira e do Comitê Paralímpico Brasileiro foi fundamental para o sucesso de um trabalho que começou em 2017. “Hoje comemoramos as vitórias, os pódios e as medalhas, mas desde do início nós sabíamos que tínhamos três chances reais de pódio, pela seriedade com que o trabalho foi planejado e executado pelos dirigentes, membros da comissão técnica e atletas.”

O trabalho realizado pelos técnicos Rodrigo Ferla, Alan Nascimento e fisioterapeuta Elisa Pilarski foi mais do que estratégico. Os atletas de apoio foram selecionados pelas semelhanças físicas e técnicas com os adversários que seriam enfrentados em Tóquio. A união dos três atletas em um mesmo tatami, porém cada um deles com treinos individualizados e personalizados, prezando a extrema eficácia e o aprimoramento tático, foi o diferencial estratégico que levou o parataekwondo à conquista de três medalhas.

Feliz e num gesto de gratidão e amor à Pátria, Nathan percorre a área de combate com a Bandeira do Brasil © Rogério Capela / CPB

Para a fisioterapeuta Elisa Pilarski, o trabalho de prevenção de lesão e de fortalecimento muscular dos atletas da equipe paralímpica foi essencial. “Felizmente o processo formulado desde o início com a equipe pessoal de cada atleta fez com que cada um dele chegasse a Tóquio focado única e exclusivamente nos adversários e no resultado.”

Brasil fica em primeiro no ranking
da World Taekwondo

As três medalhas conquistadas pelo Brasil em Tóquio (ouro, prata e bronze) garantiram o primeiro lugar no quadro geral de medalhas e no ranking da World Taekwondo, o que ratifica a qualidade do trabalho desenvolvido para a disputa e a importância dessa conquista inédita.

A forte equipe do Irã disputou duas finais e terminou a competição na segunda colocação geral, com uma medalha de ouro e uma de prata. Em terceiro lugar terminaram Ubzequistão, Peru, México e Dinamarca, com uma única medalha de ouro cada. Reino Unido e Turquia, obtiveram o quarto lugar, conquistaram uma medalha de prata e uma de bronze. Em quinto chegaram Egito e Croácia, com uma prata.

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