Técnicos revelam expectativas e compartilham a preparação das equipes para o Mundial de Karatê de Portugal

Mais de 800 karatecas irão a Vila do Conde em busca de medalhas no 22º Campeonato Mundial de Karatê Tradicional © ITKF

Treinadores e dirigentes das seleções que estarão em Portugal mostram confiança na preparação de seus atletas e explicam como superaram os principais desafios.

Por Paulo Pinto / Global Sports
9 de setembro de 2024 / Curitiba, PR

Realizado a cada dois anos, o Campeonato Mundial da International Traditional Karate Federation (ITKF) é uma competição única que preserva a tradição do karatê budô, enfatizando o lado socioeducativo da modalidade. Fundada por Hidetaka Nishiyama no início da década de 1990, a ITKF tem como propósito principal difundir o karatê tradicional em sua forma mais pura.

Treinamento da seleção brasileira © Arquivo

A edição anterior, realizada em 2022 na Eslovênia, contou com a participação de mais de 700 karatecas de 30 países representando a África, Ásia, Oceania, Europa e Américas. Para o campeonato de 2024, em Vila do Conde, Portugal, a expectativa é superar a marca de 800 atletas de 40 países, confirmando o crescimento da entidade, que, após o falecimento de seu fundador, passou por um processo de reinvenção. Hoje, a ITKF foca em um futuro promissor, fundamentado na tradição, na inovação e no desenvolvimento humano.

22º Campeonato Mundial de Karatê
Tradicional – Vila do Conde

A Budô conversou com técnicos de cinco seleções nacionais, que compartilharam suas expectativas para o 22º Campeonato Mundial de Karatê Tradicional e detalharam a preparação de suas equipes para o grande evento em Vila do Conde.

Treinamento seleção da Romênia © Arquivo

Técnicos e dirigentes de Portugal, Brasil, Egito, Romênia e Armênia apresentaram diferentes abordagens em relação à preparação de suas equipes. No entanto, todos, sem exceção, expressaram total confiança na capacidade da Federação Budô Tradicional de Portugal de realizar um evento de excelência. Eles acreditam que a FBTP acolherá as delegações de braços abertos e será responsável pela organização de uma competição de altíssimo nível.

Inspirar novos praticante

A seleção portuguesa de karatê tradicional encara o mundial de outubro com grandes expectativas e uma sensação de responsabilidade redobrada, uma vez que a competição será realizada no país. Ao mesmo tempo, reconhece a oportunidade única para demonstrar ao mundo a qualidade técnica e o rigor dos seus atletas, apesar da pressão de se apresentarem em casa.

Treinamento da seleção da Armenia © Arquivo

“É uma ocasião de ouro para elevar o nível competitivo da nossa seleção e inspirar novos praticantes, consolidando a importância desta arte marcial no panorama desportivo nacional”, diz Tozé Castro Lopes (roku-dan / 6º dan), técnico da seleção de Portugal.

Comissão técnica e atletas do Egito © Arquivo

O objetivo da seleção portuguesa é superar o sexto lugar alcançado no mundial da Eslovênia. Mas a determinação e o espírito coletivo podem levar à superação dessa meta. “Para isso, a equipe prepara-se intensamente, ajustando estratégias e refinando a técnica para enfrentar adversários de alto nível com a confiança de quem deseja alcançar o pódio”, acrescenta Tozé. Cerca de 40 karatecas oriundos de mais de uma dezena de clubes ligados à FBTP integram a seleção portuguesa.

Tozé Castro Lopes, técnico da seleção de Portugal © Arquivo

O fato de Vila do Conde acolher um evento desta envergadura é motivo de orgulho para os portugueses, mas traz junto a responsabilidade enorme de garantir que todas as necessidades dos participantes e do público sejam atendidas de forma eficiente e sem falhas. “Apesar do valioso apoio institucional da Câmara Municipal, as dificuldades logísticas são muitas e requerem uma gestão eficiente para que tudo decorra conforme o esperado”, avalia Tozé.

Cornel Musat orienta atleta da Romênia © Arquivo

Esse trabalho envolve desde a necessidade de garantir infraestrutura adequada para acolher centenas de atletas, treinadores, árbitros e espectadores até a coordenação do transporte e alojamento de todas as delegações internacionais.

Suren Mathevosyan presidente fundador da Federação de Karatê-Dô Tradicional da Armênia (FKTA) © Arquivo

A preparação dos locais de competição, com todos os requisitos específicos do karaté tradicional, é outro desafio significativo. “A logística de comunicação, a coordenação dos horários das competições, a gestão dos voluntários e o cumprimento de todas as normas de segurança são fatores que exigem atenção constante”, observa o técnico português que, aos 55 anos, acumula 48 de prática do karatê.

Dirigentes, comissão técnica e atletas do Egito © Arquivo

Ele acredita, porém, que o mundial de Vila do Conde será um sucesso, graças ao comprometimento da Câmara Municipal e ao esforço dos organizadores, quer da FBTP quer do Ginásio Clube Vilacondense.

Otimismo brasileiro

“Meu objetivo mínimo é ser bicampeão geral do campeonato mundial em Portugal”, afirma categórico o técnico da seleção brasileira Ricardo Buzzi (go-dan / 5º dan pela ITKF e pela CBKT). Mas não é só isso: ele quer conquistar mais títulos do que os obtidos na Eslovênia. “Vamos com um time mais robusto, tendo em vista o tempo maior de preparação e a melhor organização que tivemos neste ano.”

Parte da seleção de Portugal © Arquivo

A Confederação Brasileira de Karatê-dô Tradicional (CBKT) convocou os atletas com um ano de antecedência, fato inédito. Isso possibilitou à equipe técnica – formada pelos senseis Eckner Cardoso (BA) e Arlene Amarante (MT), além de preparadores físicos, psicólogos e fisioterapeutas – elaborar melhor a programação de treinamento.

Em maio, houve um primeiro encontro Rio de Janeiro, com o apoio do Instituto Goshin-Dô Kobukan do Rio de Janeiro (IGKRJ) e do patrocinador da seleção, a Dankana Kimonos, com praticamente uma semana de treinamento presencial. “Agora vamos ter mais uma semana de preparação também no Rio, para atletas adultos e da faixa de 18 a 20 anos”, explica Buzzi. A seleção brasileira espera levar cerca de 50 atletas a Vila do Conde, com previsão de chegada para 8 de outubro.

Ricardo Buzzi, técnico da seleção brasileira, Gilberto Gaertner, chairman da ITKF; e Cornel Musat, o vice-presidente da Federação Romena de Karatê Tradicional em recente visita técnica ao Estado do Paraná © Arquivo

Isso não significa que tudo tenha sido fácil. “Temos atletas do Brasil inteiro, e para coordenar esse pessoal, principalmente nos treinamentos presenciais, é bem complicado”, conta Buzzi. “De Manaus a Porto Alegre, por exemplo, são 5 mil km e esta distância gera um custo expressivo.”

Treinamento de campo da seleção da Romênia © Arquivo

A internet e outros recursos disponíveis hoje em dia ajudaram na organização do grupo, mas a parte do treinamento sempre é mais complicada. “O desafio é sempre essa questão da geografia, a distância para trazer as pessoas, embora as equipes estejam formadas nos Estados por meio da classificação nos campeonatos brasileiro, pan-americano e outros. Mas a seleção brasileira consegue superar isso e vamos chegar firmes e fortes para o mundial”, conclui Buzzi.

Egito supera desafios

Na visão de Mohamed Fawzy (roku-dan / 6º dan ITKF), diretor técnico da equipe do Egito, sucesso significa incorporar os princípios da educação do karatê tradicional, com foco especial no shiai para medir o progresso dos atletas. A seleção egípcia conquistou o segundo lugar no mundial da Eslovênia, em 2022.

Mohamed Fawzy, diretor técnico da seleção do Egito © Arquivo

Para se preparar para as competições do torneio, todos os atletas da equipe egípcia passaram por um treinamento de campo intensivo durante mais de um mês. “Este programa abrangente aborda os aspectos físicos, técnicos e psicológicos, garantindo uma preparação homogênea e completa para os desafios que serão enfrentados em Vila do Conde”, relata Fawzy.

Treinamento de faixas-pretas da seleção da Armênia © Arquivo

Os principais desafios logísticos e organizacionais da seleção egípcia foram a coordenação dos horários de todos os atletas, a organização de instalações de treinamento adequadas e a garantia de que todos os recursos e equipe de apoio estivessem disponíveis para o treinamento de campo intensivo. Além disso, o processo de vistos e de reservas de hotel foi muito difícil.

Jean Laure, presidente da FKTPr, Ricardo Buzzi, técnico da seleção brasileira e Vinicius Santana Pinto, diretor de Inovação da ITKF comandam treinamento da seleção do Brasil © Arquivo

“Superamos esses desafios com um planejamento cuidadoso e a coordenação do cronograma de treinamento com antecedência, garantindo instalações apropriadas e organizando a equipe técnica e de apoio para fornecer o suporte necessário aos atletas”, explica Fawzy. “Mas até o momento ainda estamos tentando obter vistos de entrada em Portugal, com o imprescindível apoio da família ITKF.”

Romênia aposta no seu potencial

“A Romênia sempre foi uma potência no karatê internacional, então, é claro que sempre estamos de olho numa das três primeiras posições”, assegura Cornel Musat (shichi-dan / 7º dan), treinador da seleção do país. “Vejo determinação, desejo e qualidades em nossos atletas, então, será uma questão de quem tiver o melhor desempenho. Será uma competição acirrada, com muita pressão, mas é isso que traz a grandeza.”

Treinamento de faixas-pretas da Armênia © Arquivo

Musat, o icônico octacampeão mundial é também vice-presidente da Federação Romena de Karatê Tradicional (FRKT), informa que sua equipe acabou de concluir seu treinamento de verão anual, no litoral do Mar Negro.

Cornel Musat comanda treinamento da equipe Romena © Arquivo

“É uma tradição para nossa organização e uma excelente oportunidade para avaliar e preparar os competidores e uma ótima experiência sobre a união da equipe, preparando-nos para o grande evento.” O número de integrantes da seleção romena será definido dia 15 deste mês, após as finais do campeonato nacional. Mas Musat acredita que serão mais de 100 atletas.

Treinamento da seleção brasileira com atletas do Rio de Janeiro © Juliana de Menezes Lopes / IGKRJ

O dirigente não mencionou problemas logísticos, já que Portugal faz parte da União Europeia, o que facilita a documentação. “O único inconveniente foi garantir passagens em horários adequados e a preços razoáveis para nossa grande equipe, mas vale a pena para um campeonato mundial que certamente fará história.”

Armênia: honra e orgulho

“Nosso objetivo não é apenas competir, mas deixar um impacto duradouro através da nossa disciplina, resiliência e compromisso com a excelência. Acima de tudo, acredito que nossos atletas manterão a honra e o orgulho da Armênia no cenário mundial, demonstrando os valores do karatê tradicional.” As palavras são de Suren Mathevosyan (roku-dan / 6º dan) presidente fundador da Federação de Karatê-Dô Tradicional da Armênia (FKTA) e diretor técnico da ITKF para a região da Ásia.

Suren Mathevosyan é também diretor técnico da ITKF para a região da Ásia © Juliana de Menezes Lopes / IGKRJ

As expectativas de Mathevosyan abrangem tanto o crescimento individual quanto o coletivo. Embora reconheça os desafios significativo que sua seleção enfrentará, ele confia que a preparação rigorosa e dedicação dos atletas alcançarão bons resultados. A delegação armena compõe-se de 23 atletas (dos quais cinco crianças que participarão da Copa Europeia Infantil), dois árbitros internacionais e cinco oficiais da federação, além do próprio Mathevosyan.

Ricardo Buzzi, técnico da seleção brasileira e Jean Edoardo no treinamento realizado no Rio de Janeiro ©️ Juliana de Menezes Lopes / IGKRJ

“Nossos atletas têm-se preparado para o campeonato mundial seguindo os princípios centrais que definem o karatê tradicional: disciplina, consistência e dedicação. O compromisso com o trabalho duro e a melhoria contínua está no centro de tudo, e nossos atletas estão determinados a alcançar seus objetivos refinando as habilidades que já exibem, com ênfase ainda maior na perseverança e na excelência”, prossegue Mathevosyan.

“Todos buscam a vitória, mas os princípios e valores do karatê tradicional devem prevalecer sempre.”

Para o dirigente armênio, entre os diversos desafios que sua federação enfrenta e supera constantemente, as limitações financeiras são os mais significativos. “A Armênia não é um país rico e não recebemos nenhum apoio financeiro externo. Tudo o que alcançamos é por nossos próprios meios. Apesar disso, garantimos que a maioria dos nossos atletas possa participar do campeonato mundial sem custos pessoais, especialmente aqueles que demonstraram resultados excepcionais ao longo do ano.”

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